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Naquela noite, após ter passado mais um dia conversando assuntos completamente triviais com Gilbert, ela se encontrava deitado em sua cama repetindo aquela mesma canção em sua mente.

Seus olhos já acostumados com a penumbra da noite analisaram o quarto escuro, e olhou para a porta na qual sabia que havia uma mensagem de Gilbert, a que via todas as manhãs.

Todavia, não foi no amigo em quem pensou. Sua mente deu um estalo e ela olhou para o notebook ainda posicionado no canto da mesa. Se levantou silenciosamente, tentando pisar nas partes do chão onde sabia que não rangeria, e andou lentamente até a escrivaninha, evitando fazer barulho naquelas horas avançadas da madrugada.

Ligou o aparelho portátil e esperou até que estivesse pronto para ser usado. Abriu a página de pesquisas na internet e encarou momentaneamente o cursor que piscava em sua tela, antes de seus dedos irem até o teclado e digitar as palavras chaves que queria.

"melodia piano para A", repetiu em sua mente enquanto digitava o que procurava e por fim pressionou a tecla enter, esperando a tela carregar sua pesquisa.

Enquanto carregava, Anne lembrou-se de Gilbert e sua falta de interesse pela internet, e sorriu sem perceber. Seu coração se aqueceu e ela mais uma vez achou a sensação um pouco estranha, porém lhe era familiar. A sentia todas as vezes que conversara com o rapaz nos últimos dias.

Seus pensamentos foram interrompidos quando as opções de pesquisa finalmente apareceram, e Anne deu uma olhada. Haviam imagens de partituras – a maioria iguais às que tinha visto de manhã, ela percebeu – e alguns videos, além de links para páginas diversas.

A atenção da garota, no entanto, se prendeu no que parecia ser o nome do autor da canção. Ela leu e releu, olhando atônita para a parede iluminada minimamente pela leve luz pálida que se espalhava pelo quarto, mas onde Anne sabia que estava escrito o mesmo nome.

- Para A, por Gilbert Blythe. – repetiu, sua voz quase saindo inaudivel de seus lábios.

Anne estava abismada. Seria aquele o mesmo Gilbert Blythe com quem conversara todos os dias pelas últimas semanas?

Abaixo de um dos links das páginas, no resumo de algumas linhas que se podia ler mesmo que não abrisse o link, Anne viu o ano de publicação daquela música.

- 1914. – ela repetiu, como se precisasse da confirmação da própria voz para saber que estava de fato vendo aquilo.

Abriu um dos vídeos em que alguma outra pessoa tocava a musica, e ela havia repetido aquela canção em sua mente vezes o suficiente para reconhecer de imediato que era exatamente a mesma que sua tia tocou para ela naquela manhã.

Anne desligou o aparelho, ainda bastante atordoada.

Queria perguntar para Gilbert se era mesmo ele o autor daquela melodia, mas sabia que estava muito tarde e o garoto provavelmente estaria dormindo.

Deitou-se novamente em sua cama, ainda não acreditando. Entretanto, quando lembrou-se de onde aquela partitura antiga havia sido encontrada, algo dentro de si confirmou suas desconfianças.

Anne foi se acalmando aos poucos até conseguir dormir novamente. Enquanto pegava no sono, sua mente repetiu a melodia que Gilbert havia escrito.

𝘔𝘰𝘳𝘴𝘦 𝘊𝘰𝘥𝘦 - ShirbertWhere stories live. Discover now