headache

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A casa de Cuddledown está uma bagunça. Parece que os fogos de quatro de Julho foram testados dentro daquela sala, estourando letras do Scrabble, latas de refrigerante e pacotes de batatinha.

Calum, ainda me segurando pela mão, atravessa a bagunça e me guia até o andar de cima, visto que nenhum dos Mentirosos estavam à nossa espera. Creio que nenhum deles contava com a minha presença naquela noite, mas Calum insistiu que eu viesse vê-los. Talvez, fizesse com que eu me sentisse melhor.

Ouço a conversa que sai do quarto de Zoe, no final do corredor.

— Experimente a 'Abertura da Rainha' para controlar o centro do tabuleiro. — diz Ashton. Eles estão jogando xadrez.

Fico observando, parada ao batente da porta. Parecem concentrados demais e sequer notam nossa presença.

— O Rei não pode se movimentar por mais nenhuma casa. — Luke narra a partida, analisando cada jogada. Ele está sentado na poltrona estampada, usando o binóculo para averiguar a veracidade do jogo.

— Xeque-mate! — Michael exclama. — Aqui, quem vos fala, é o mestre do enxadrismo.

Ashton revira os olhos, revoltado.

Calum coça a garganta, chamando a atenção até nós dois.

— Discussão sobre uma palavra do Scrabble. — Zoe diz quando me vê. Ela está deitada de bruços em sua cama, olhando para a Bíblia aberta em suas mãos. — Ashton estava certo o tempo todo, como sempre. Sabia que as garotas não gostam disso em um cara?

Ela fecha o livro em seguida. Eles não estavam jogando Scrabble.

— Como se sente, Lola? — pergunta Luke, apontando o binóculo no meu rosto. Ele está usando um gorro fofinho, com um pom-pom na ponta.

— Dolorida. — digo, sorrindo um pouco. Gosto do que Luke me faz sentir. As coisas são bem mais leves e de fácil interpretação com ele. — O que está enxergando? — me aproximo dele, com o rosto bem perto da lente.

— Um mosquitinho usando capa de chuva. — ele gargalha sozinho, balançando a cabeça. Ninguém entende nada das suas piadas.

— O que vocês fizeram nos últimos dias? — pergunto, me deitando ao lado de Zoe na cama.

Calum se acomoda ao lado de Ashton e Michael no tapete.

— Nossa, — Michael disse, se espreguiçando. — muita coisa. Nem lembro.

— Foi aniversário do vovô. — conta Ashton.

— Fomos jantar em Nova Clairmont e depois andamos de barco. — Zoe acrescentou.

— Hoje fomos à loja de donuts em Nantucket. — diz Luke ao pegar o violão apoiado da parede ao seu lado. Começa a dedilhar alguma música.

Eles nunca vão a lugar algum. Nunca. Nunca veem ninguém. Nunca vão à nova Clairmont. Justo quando estive doente, foram a todos os lugares e viram todo mundo?

— Downyflake — digo ríspida — é o nome da loja de donuts.

— Sim. São maravilhosos. — Calum comenta.

— Você odeia donuts sem recheio. — concluo, olhando para seu rosto. De repente, ele fica nervoso.

— Odeia mesmo. Por isso pegamos os recheados. — Zoe diz rápido, contornando a situação. — Pegamos de creme de avelã. Um de geleia de amora também.

Eu sei que a Downyflake só faz donuts simples. Sem recheio, apenas com cobertura que craquela. Nada de creme de avelã. Nada de geleia de amora.

Por que eles estão mentindo?

we were liars - cthOnde histórias criam vida. Descubra agora