Resenhas e artigos de opinião

Vampiros e juventude eterna

...Ou: escrever personagens vampiros dá mais trabalho do que parece.

Nos últimos dias, tenho feito uma viagem pela literatura de vampiros, particularmente os livros mais recentes que li menos. Quando eu desenhava Bram & Vlad, eu lia Drácula umas duas vezes por ano, pelo menos, e Carmilla várias vezes, também, então esses eu senti que podia dar um descanso. Só que eu só tinha lido Anne Rice uma vez há muitos e muitos anos, e achei que valia reler com toda a experiência de leitora e escritora que tenho agora.

Logo depois, li Vampiro: A Máscara e, por fim, o filhote dessas duas influências, Crepúsculo. (E antes de acenderem as tochas, não gostar de como um autor usou um tropo não quer dizer que não tenha usado.)

E se teve uma coisa que me deixou pensativa sobre essa releitura de Rice e Meyer foi a temática da juventude eterna. Vocês devem conhecer a cena icônica no filme em que a Bella vê um mural com todos os vários chapéus de formatura de Ensino Médio que os Cullen ganharam ao longo dos anos. A primeira vez que vi isso eu só me perguntei: por quê?! Qual a vantagem de se fazer o Ensino Médio de novo e de novo por 80 anos ou mais?!

Pois bem. Em certo ponto da saga, Edward explica a ela que os vampiros desse universo são estátuas vivas, e são imutáveis (a menos que transformados por algo de grande magnitude, como se apaixonar). Se o que ele diz é verdade, ele está de fato congelado no tempo, incapaz de amadurecer emocionalmente e crescer como pessoa para além dos 17, mesmo que seu intelecto acumule cada vez mais informação. Ou seja, apesar de todas as piadinhas com Edward sendo um senhor de 100 anos, na verdade, ele não está errado de dizer que tem 17 há oitenta anos.

O que é menos pedófilo, mas extremamente trágico. Pense: não importa quanta informação você enfie na sua cabeça, sempre reagirá a ela como um rapazinho de 17 anos. Sua testosterona sempre vai estar alta, você vai entender as pessoas na teoria, mas na prática apenas se sentirá irritado, você vai se apaixonar perdidamente pelo primeiro rostinho bonito que encontrar desafiando tudo que seu intelecto aprendeu em todos esses séculos... Enfim, você vai ser um adolescente. Para sempre.

Pergunta para qualquer um com 25+ anos: você acha que seria mais feliz se ainda fosse seu eu adolescente?

É por isso que o Edward insiste com a Bella que, se ele a transformar, estará roubando a vida dela. Porque é o que vai acontecer. Ela. Nunca. Vai. Crescer. Ela vai ser a menina insegura, cheia de hormônios e preocupada com o cabelo que conhecemos para sempre. O relacionamento entre ela e o Edward está congelado no momento em que estava quando ela se transformou. Eles vão estar sempre encantados pelo outro com a ajuda de hormônios, sempre jovens demais para construir uma conexão mais profunda do que têm, sempre jovens demais para resolver os problemas que frequentemente os levavam a brigas (Edward mandão e superprotetor, Bella se atirando em perigos com uma necessidade doentia de se sacrificar mesmo quando não é necessário). Presos para sempre no primeiro relacionamento que tiveram na vida.

É uma linda fantasia para quem é adolescente e só conhece essa fase, ou para quem teve sérias desilusões amorosas e têm nostalgia desse primeiro relacionamento, mas... você gostaria mesmo de estar sempre preso em seu primeiro relacionamento (ou na primeira fase de seu relacionamento, se você se casou logo com seu primeiro parceiro)? Para sempre?

Não precisa me responder, e não vou julgar a resposta, na verdade. Especialmente porque a maioria das pessoas, quando saudáveis, entendem que uma fantasia é só uma casinha para se morar em momentos de grande tensão, não objetivos de vida.

O fato é que olhar Crepúsculo por essa lente, uma fantasia de juventude eterna, com tudo de desejável e/ou trágico que ela pode ter, me fez voltar o olhar para os livros que reli recentemente. Particularmente O Vampiro Lestat, da Anne Rice. Uma coisa que me fez querer olhar para ele foi como a personalidade do Lestat é basicamente "arquétipo do adolescente/jovem adulto".