Capítulo 2 - Recomeço.

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                O sol escaldante atingia minha jaqueta, fazendo uma tímida gota de suor avançar no lado direito do rosto. Eu havia esquecido a sensação insuportável de calor ao usar aquela peça de roupa em pleno verão – no celular marcava 30 graus – e agora me questionava se tomei ou não a decisão certa. Cubro meus olhos com a mão, tentando ler a placa logo à minha frente.

"Livraria Hope World"

Ri por um breve momento e, logo depois, pude ouvir o sino que anunciava um novo cliente na loja.

– Seja bem vin... – Hoseok estava pronto para terminar a frase quando me viu. Pude perceber seus olhos se arregalarem em surpresa e sua boca formar um "o" quase perfeito. – Taehyung-ah! – Exclamou.

– Não tinha um nome mais impactante pra livraria não, hyung? – Perguntei, apontando para a entrada. – Eu tinha dado várias ideias uns anos atrás, mas parece que você esqueceu de todas.

Ele aparentava estar extremamente surpreso com a minha chegada, porém feliz – tão feliz que ignorara meu comentário acerca do nome de sua livraria. Seus olhos pareciam lacrimejar à medida que se aproximava de mim, fazendo-me sentir muito por tê-lo feito esperar tanto por isso.

– Puta merda, você veio mesmo! – Sorriu, batendo de leve em meu ombro, demonstrando ainda não acreditar – Eu queria tanto te abraçar! Mas acho que é melhor não arriscar, certo?

Concordei com a cabeça, devolvendo um sorriso caloroso. Embora eu estivesse todo coberto, um abraço poderia facilmente quebrar essa "barreira", visto que o contato físico é bastante amplo. Já tentei algumas vezes, mas, em todas elas, o resultado foi o mesmo – dor de cabeça e futuros inesperados.

– Que bom que sabe disso. – Ri, devolvendo o soco. – Mas, sério, você esqueceu de todos os nomes que sugeri na época?

– Considerei colocar algum daqueles, mas o nome que o hyung escolheu sempre parecia ser a escolha certa. – Ele sorriu, calorosamente, sabendo que citá-lo ainda era um assunto bastante delicado. – Eu queria que este lugar fosse como um porto seguro, um vale da esperança, para aqueles que querem fugir um pouco da realidade. Assim, quem sabe, eles acabam encontrando um motivo para seguirem em frente. Como foi o meu caso.

Agora, analisando com mais calma, posso ver que não existia um nome melhor do que Hope World para um lugar em que o dono fosse Hoseok. Ele sempre fora o sol de nosso grupo de amigos, aquele que nos fazia rir mesmo em tempos mais sombrios e que nos dava esperanças – olha o que ele me fez fazer, não é mesmo? Conseguiu me tirar daquele quarto minúsculo após 2 anos. Mas, não é apenas por isso que esse nome é perfeito. A relação de Hoseok com os quadrinhos se encaixa perfeitamente com a proposta da livraria. Durante o colegial, seu maior sonho era se tornar um dançarino famoso, capaz de transmitir seus sentimentos através da dança – ele era realmente poderoso, podíamos ver, sentir, o controle que o mesmo tinha sobre o próprio corpo. Porém, esse sonho foi destruído após um grave acidente de carro. Hyung não podia mais dançar. Durante esse período, quase não pude vê-lo sorrir e ele dificilmente saía de casa para se divertir. Apenas uma única coisa o fez seguir em frente e encontrar um novo sonho, um novo começo: quadrinhos. Por conta deles, Hoseok passou a querer transmitir seus sentimentos a partir de ilustrações – mesmo que, por ora, não seja reconhecido – e por esta humilde loja.

– Esse nome é realmente mais a sua cara, hyung. – Apertei, levemente, seu ombro esquerdo. – Espero que eu consiga encontrar meu ponto de partida aqui também. – Ele abriu um grande sorriso, dessa vez, deixando uma única lágrima escapar. – Pelo amor de Deus, hyung! Chorar não combina com você!

Hoseok rapidamente secou-a, rindo logo em seguida com a minha reação.

– Desculpa, é que eu me importo muito com essa criança à minha frente. Me sinto uma mãe vendo um filho crescer. – Respondeu em um tom sátiro.

– Exagerado. – Gargalhei.

– Agora vai lá no fundo da loja colocar seu uniforme. Mandei fazer um de algodão pra você não passar tanto calor, já que precisa ficar igual um louco, todo coberto, mesmo durante esse verão quente de rachar. O vestuário fica logo atrás da porta atrás do caixa. – Proferi um rápido obrigado, ainda com o sorriso no rosto, e segui as coordenadas ditas.

Ao abrir o armário, confesso que senti uma grande onda de ansiedade – medo – ao fitar as vestimentas que eu usaria todos os dias a partir de hoje. Mas, junto com esse sentimento agitado, ruim, também senti uma felicidade inexplicável. Porque, por mais que eu não possa saber meu próprio futuro, sei que fiz o mais importante hoje: dei meu primeiro passo. Se no começo eu estava confuso, agora eu tenho a certeza de que tomei a decisão certa. Minha vida recomeça a partir daqui. 

Prelúdio {kth+jjk} [HIATUS]Onde histórias criam vida. Descubra agora