07 | fogo e sangue

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Alguns dias depois...

ERIC VALLAHAR

(...)

— Então, você está me dizendo que Grace Orion esteve duas vezes na floresta, conheceu Chiara e Braeden e você não me disse nada? — Perguntei a Damian, que estava sentado em uma pedra, indiferente. Apenas acendendo a ponta dos dedos e jogando sobre uma pequena fogueira que tinha feito ali.

— Você não voltou mais aqui, queria que eu te falasse por telepatia? Eu não tenho esse poder, você tem? — Perguntou, bastante mal humorado.

— Gostaria de ter. Mas sobre Grace... — Balancei a cabeça, quando um pensamento me ocorreu. — Não adianta, as irmãs são bem diferentes, e Grazielle se casou com o sheriffe Roosevelt. — Fiz questão de o lembrar.

Damian quando ainda vivia no Vale das Cinzas, só tinha olhos para Grazielle Orion. Como vivia isolado em sua casa por conta da magia se manifestando e a pressão de seus pais para que não saísse pois poderia se expor, ele vivia tentando achar meios de conversar com ela.

Acho que era impossível negar o quão bonita ela é, e qualquer homem gostaria de estar com ela. Menos eu.

— Eu sequer estava pensando nisso. Minha vida do outro lado dessa barreira acabou. — Disse resignado, enquanto eu voltava a me sentar perto da fogueira.

— Eu sei disso. — Concordei.

— E você? Está saindo com aquela garota? É amiga da Grace, não é? — Quis saber. Ele não estava realmente interessado nisso, nem eu, mas ele queria mudar de assunto e eu lhe dei essa brecha.

— Sim, Lyra. — Respondi apático. — É complicado, você sabe. — Resmunguei.

— Você não precisa se forçar a isso. — Ele disse, então parecendo querer falar do assunto que eu não queria falar.

— Eu só queria ser normal. Como você. Ou como a Chiara, que não se importa com gêneros. Mas não se atrair por ninguém, só me faz pensar que estou doente como o curandeiro disse em minha adolescência. Talvez esteja. — Falei, derrotado. Eu nunca conheci alguém assim...

— Você não precisa se cobrar coisas além do seu controle. Eu aprendi isso. — Disse jogando mais fogo na pequena fogueira.

— A Lyra é muito bonita e gentil, mas eu não sinto vontade de beija-la ou... — Não quis terminar a frase.

— E com rapazes também não. — Ele soltou, e eu voltei a concordar.

— Chiara disse que você é especial por isso. Digo, se você se apaixonar por alguém, vai ser além da aparência fisica, e não sexual. — Ele respirou fundo. — A minha situação é justamente a falta de sexo. — Disse rindo, porque não era a primeira vez que falávamos nisso. Pois eu não tinha coragem de contar a ninguém da minha família.

E provavelmente, eu acabaria me casando, talvez com Lyra, por isso. O que era deplorável.

Eu até queria me apaixonar, mas ao mesmo tempo, a vida sexual não me faz falta, e não tem haver com sentir ou não prazer, pois sentia. O problema era a rara atração sexual.

— Você tem as fadas do subsolo. — Falei rindo, isso ainda era absurdo para mim.

Mas se eu fosse um ser mágico e pudesse viver com a liberdade da Floresta das Labaredas, eu jamais voltaria ao Vale das Cinzas. Viveria aqui para sempre.

E bem, essa coisa das fadas que viviam abaixo da Floresta me deixava curioso. Segundo Damian eram muito lindas, estonteantes, mas nada como nos contos infantis, pois eram sombrias e sensuais. "E estavam sempre dispostas a jogos prazerosos" essa parte quem disse foi a Chiara.

O que queima através de nós | LIVRO IOnde histórias criam vida. Descubra agora