Capítulo 12
Eu corri para a enfermaria. Precisava de mais informações. Meu coração estava disparado ante a dúvida e incerteza que me consumiam. A preocupação parecia o sangue que pulsava por minhas veias.
Oh, tio Ed!
Espero que esteja bem!
Assim que abri a porta da sala branca avistei Ryan sentado na maca, o médico terminava de cuidar de suas feridas. Ele estava com o olhar perdido, contudo sua atenção foi roubada ao escutar o barulho que fiz.
— Mali! – exclamou Ryan assim que me avistou, sem pensar muito no que estava fazendo, ele me abraçou forte, como se eu fosse um bote salva-vidas num mar revolto.
— Se acalme – tentei consolá-lo me permitindo ser o ombro amigo que ele precisava.
— Ele se foi... – o sussurro dele perdeu sonoridade quando suas lágrimas atingiram minha pele.
Eu tremi por inteiro, quem tinha ido? Tio Ed? Ou o Ethan? Afinal ninguém havia falado sobre o gêmeo rabugento. Oh, Jesus, tenha misericórdia!
— Ryan – Isabela entrou no recinto com os olhos vermelhos e assim que me afastei do príncipe ela o abraçou soluçando.
Preferi dar-lhes um tempo em família. Tanto eles, quanto eu, precisávamos absorver os fatos. Mesmo que eu não tivesse conhecimento deles, ainda. Já com a visão nublada pelas lágrimas andei sem rumo por aqueles corredores gelados.
Uma vida tem um valor tão inestimável que só nos damos conta de seu infinito, quando a nossa vivência perde o brilho que só encontrávamos naquele determinado alguém que partiu.
Meu rosto já estava completamente marcado pelas lágrimas que se precipitavam por ele. Nunca fui de chorar na frente das pessoas, por isso, decidi entrar na biblioteca, assim poderia chorar a vontade.
Enveredei-me pelo cômodo tentando não chamar muita atenção para meu rosto vermelho e inchado, mesmo que os guardas da porta pouco se importariam em vislumbrar meu luto. Ao chegar até a janela, deixei que minhas emoções fluíssem livremente, mesmo sem saber por quem chorava. Abracei o meu próprio corpo e deixe que ele encostasse-se à parede.
— Tome – me assustei com a voz suave ao meu lado.
Quando me virei em sua direção, os olhos azuis se encontraram os meus prendendo-os, havia muita coisa sendo dita sem palavras, dores se tornando visíveis e empatia servindo de consolo. O lenço de Ethan estava estendido em minha direção, sem hesitar eu o peguei, assim que pude desviar de seu olhar.
— Obrigada – ele simplesmente concordou. – Então foi com o tio Ed... – meu pensamento escapou num sussurro.
— O que?
— O Ryan, não disse com quem havia acontecido... – deixei a frase morrer enquanto ele sentava-se num sofá.
— Choraria se fosse por mim? – ele questionou com uma falsa implicância.
Aproximei-me e me sentei no sofá ficando de frente para ele, deixando o assento do meio como distância entre nós dois. Vislumbrei então o guarda de Ethan sentado no outro canto da sala, completamente alheio a nossa conversa.
— Ethan! – repreendi com voz firme, mas ainda assim falha.
— Desculpe-me – pediu me encarando, com uma sinceridade que me deu um arrepio. – Eu só – suspirou –, só queria sumir. Isso é um pesadelo, só pode! – demonstrou sua vulnerabilidade para minha surpresa. – Você poderia me beliscar? – pediu me estendendo a mão sem me olhar.
— Ethan – chamei com uma voz suave, enquanto segurava sua mão. Quando ele me encarou prosseguir. – está tudo bem, você pode se sentir perdido, desnorteado e sem chão.
Ele apertou minha mão enquanto seus olhos se neblinavam. Deixei o silêncio se prosseguir ao mesmo tempo em que minha mente me levava ao meu último momento com o falecido rei.
Eu finalmente o tinha chamado de tio Ed... Estávamos dançando na noite anterior. O sorriso que ele me deu quando ouviu essas palavras saindo por minha boca, jamais seria esquecido!
— Quer me contar como foi? – perguntei sem olhar para meu acompanhante.
— Após a cerimônia, estávamos... – sua voz embargou pelo choro. – enquanto voltávamos para a carruagem, fomos atacados – olhei para ele e vi que seus machucados ainda não haviam sido tratados –, eles o levaram.
— Então, ainda...
— Infelizmente não, passei a noite toda buscando pela floresta, mas só encontrei... – sua voz se perdeu no choro que lhe escapava da alma, sem pensar duas vezes, soltei sua mão e o abracei.
— Ethan, não fomos preparados para a morte – comecei a lhe dizer enquanto deixava que chorasse em meu ombro. – Deus entende nosso sofrimento, Ele sabe da nossa saudade, da nossa dor e também conhece essa sensação de se estar sem rumo. Jesus, quando perdeu seu amigo, chorou. – o rapaz se acalmou e pude olhar no fundo de seus olhos, ambos chorávamos silenciosamente. – Mas, Deus é um Pai amoroso, Ele nos envia consolo. O Espírito Santo está na terra e nos lembra continuamente que nosso fim aqui é apenas o nosso começo no eterno de Deus.
Ele me lançou um sorriso emocionado e me abraçou mais uma vez, aproveitando para agradecer:
— Obrigado, por tudo!
— É para isso que servem os amigos – respondi quando me afastei, dando-lhe um sorriso – E também cuidam de rostos machucados...
— Ah... – ele se afundou no sofá, encarando o teto. – Não estou animado a ir para a enfermaria, agora.
— Quem disse que você vai para lá? – questionei com um sorriso sapeca. – Não perderia a chance de brincar de enfermeira – ele gargalhou diante do meu tom arteiro.
— Preciso ter medo? – virou a cabeça em minha direção.
— Não, o João vai me auxiliar – ao ouvir seu nome o guarda olhou em nossa direção. – Assim você vai ter certeza de que não vou te matar – sussurrei. – João poderia pegar os primeiros socorros nesta estante ao seu lado, por favor?
Ele assentiu e se prontificou em me auxiliar. Uma nova fase se iniciaria no castelo, e eu precisava tomar minhas atitudes.
— Prontinho – disse quando terminei o último curativo.
— Tem certeza de que não é enfermeira?
— Não sei se você percebeu – comecei a dizer entregando a maleta para João, que era calado demais –, mas eu sou um pouquinho desastrada, sei que é impossível de acreditar – continuei com tom sério, contudo sem olhar para o príncipe ao meu lado, pois caso o fizesse explodiria numa gargalhada –, porém é um fato e tive que aprender a cuidar dos meus próprios ferimentos.
Ao terminar meu discurso olhei para Ethan e o rapaz explodiu em uma gargalhada que até mesmo João acompanhou.
De fato, isto foi uma surpresa!
Estava achando que ele era mudo.
Acabei rindo com eles, era bom saber Ethan ficaria bem. Pessoas que conseguem sorrir depois de uma crise de choro, são capazes de tudo.
— Vou indo, tenho muito que fazer – falei me levantando.
— Já ouvi desculpas melhores – o príncipe sorriu lateralmente.
— Mas não é uma desculpa!
— Ah é? – ele se levantou se colocando a minha frente. – O que irá fazer Mali?
— Arrumar minhas coisas – respondi como se fosse óbvio.
— Que eu sabia você possui assistentes para ajudá-la na arrumação do quarto.
— Mas tenho que fazer a mala sozinha.
— Mala? – ele ergueu uma das sobrancelhas.
— Sim, não trouxe muita coisa, então vai ser fácil...
— Posso saber onde você pensa que vai? – questionou o rapaz.
— Oras, ainda não sei, porém agora que... – hesitei um pouco. – Como permanecerei aqui?— Mali, não é porque meu pai se foi que você irá – falou simplesmente.
— Mas...
— Mas, nada senhorita! Que eu saiba amigos não abandonam os outros em situações difíceis, então trate de ser uma boa amiga! – ele piscou e me deixou na biblioteca.
-------------Já falei para a Mali (personagem) não nos confundir dessa forma... mas ela não escuta...
E vocês? Também estão ficando confusas?
Olha, tá bem difícil duvidar de tudo e todos por aqui.
Hahaha
Ahhhhh estamos de olho em cada comentário de vocês. E amamos ver a interação entre vocês e com a nossa mocinha destrambelhada.
Também precisamos avisar que Sem Ela está bem perto de entrarmos na reta final.
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Sem Ela [CONCLUÍDA]
SpiritualObra Concluída. ✔ Uma jovem morena de olhos com de mel, chamada Mali. Até aqui nada demais! Ela era órfã de pai e mãe, morava com a madrasta e as meia-irmãs, trabalhando do amanhecer até bem depois do entardecer. Espera sabemos que agora ficou clic...