You Are (parte 2)

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A vida de casado não era tão fácil, as despesas do casamento que se prolongaram mais do que o desejado e somados aos planos de constituir uma família nos obrigou a redobrar a carga de trabalho e subtrair do tempo em que podiamos passar juntos. Clarisse, além de trabalhar na galeria de arte, começou a dar aulas de artes plásticas duas vezes na semana na igreja do bairro, o salário não é alto, mas complementa. Os alunos são gentis, praticamente formado apenas por senhorinhas aposentadas querendo passar o tempo de alguma forma.


Eu mudei para outra empresa, o salário é 20% maior, contudo fica 30 minutos mais longe, se comparado com meu emprego anterior, do apartamento em que alugamos para morar. Mesmo assim tentamos ao máximo aproveitar nossos momentos juntos, os almoços de final semana, os jantares durante a noite, todas as celebrações de família. A vida não é fácil, mas isso não significa que é ruim.


Hoje é um desses dias em que tentaremos nos divertir um pouco, sair um pouco da rotina. Carlos nos convidara para ir a um pub.


Noite de sexta-feira, o trânsito está caótico, mas ao vê-la, sentada ao meu lado, dentro do Uber (já que não mais tínhamos carro), parei de me importar se chegaríamos atrasados ou não. Ela está num vestidinho vinho, de manguinha solta, com pequeninas flores brancas por toda parte, e cabelos soltos. Eu, como sempre, pareço desajeitado perto dela, visto uma camiseta azul clara e uma calça jeans escura, não havia nada mais de especial no que eu vestia.


Carlos nos recebe na porta, me abraça tão forte que sinto o ar me escapar.


– Cara, estou tão feliz que você tenha conseguido vir, sério, pensei que você ia me enrolar de novo. - ele realmente está animado, o que não deveria ser surpresa, ele sempre está assim.

– Desculpa pelo seu aniversário, eu realmente estava muito cansado. - digo. Na última semana havia sido o aniversário de Carlos, ele fizera uma festa pequena em sua casa, mas nem eu nem Clarisse fomos, a última semana tinha sido estressante no meu trabalho e Clarisse, mesmo que mais animada que eu, decidiu que também não iria.

Carlos ensaia uma careta, mas logo depois sorri para mim com seu jeito sempre despojado e diz:

– Tá tudo bem, cara, eu te entendo, se preocupa não! Vamos entrar?

– Vamos!

Já tinha um tempo considerável que eu não frequentava um pub ou um bar, após o casamento esses passeios se tornaram mais raros.

Levo mais tempo do que Clarisse para me acostumar com o ambiente, mas no fim já estou rendido a bebida, barulho e conversas jogadas fora.

– Tem certeza que consegue beber mais tudo isso? - Carlos pergunta ao ver que pedi mais duas canecas grandes de chopp.

– Claro que não, uma é minha e a outra de Clarisse, oras! - Carlos, de esgueio, a olha desconfiado, parece não acreditar que ela conseguiria beber uma caneca tão grande. Depois torna o seu olhar para mim, dá um sorriso de canto e diz:

– Tudo bem então, só não fica muito bêbado, você fica insuportável.


Com o passar das horas nenhum dos três parecem mais sóbrios o suficiente, e eu sabia que acordaria destruído no dia seguinte. Para minha sorte, eu só trabalho de segunda a sexta, amanhã poderia curtir meu porre, porém Clarisse não tinha o mesmo privilégio, já na parte da manhã daria aula de artes plásticas na igreja.

Ghost Of YouWhere stories live. Discover now