Prólogo

669 47 14
                                    

— Okay, eu vou primeiro... uh... queria dizer que não precisávamos ter vindo aqui - disse Rafaella, balançando a cabeça em negação — Já estamos casadas há cinco anos.

— Seis - corrigiu Manu, cruzando as mãos sobre o colo.

— Cinco, seis anos - retrucou a de cabelos longos — Isso é como uma revisão pra nós, uma oportunidade de verificar o motor, trocar o óleo talvez ou quem sabe substituir uma peça ou outra.

— Isso mesmo - sorriu a menor, com uma expressão disciplinada.

— Muito bem Sra. Kalimann, então vamos abrir o capô - brincou Igor, o terapeuta, arqueando as sobrancelhas grossas.

Ambas olharam para o terapeuta, esperando suas próximas perguntas. Estavam entediadas em estar ali já que provavelmente seria uma perda de tempo.

— Qual nota vocês dariam para si mesmas como um casal? De um a dez - perguntou o profissional.

— Oito - respondeu Manu, sem pestanejar.

—Espere, "dez" plenamente feliz e "um" totalmente infeliz? - questionou Rafa, gesticulando com as mãos.

Manoela revirou os olhos. O terapeuta suspirou e torceu um pouco o pescoço.

— Apenas responda instintivamente, Sra. Kalimann - sorriu, esperando a mulher decidir o que falar.

— Ok. Pronta? - virou-se para a esposa, que lhe deu um olhar entediado quando respondeu "pronta" - Oito - disseram juntas.

— Com que frequência vocês fazem sexo? - disse o terapeuta, anotando as reações de ambas em um seu bloco de notas.

— Eu não entendi a pergunta - falou Manu, torcendo os dedos de maneira nervosa.

— É, nem eu - concordou Rafa, franzindo a testa — Ainda vale a escala de um a dez?

— O um significa muito pouco ou nada? Porque, tecnicamente falando, zero seria nada - explicou a morena, sorrindo e gesticulando.

— Hum, que tal essa semana? - disse Igor, o terapeuta.

Rafa e Manu desviaram o olhar, Manu admirando os botões de sua camisa verde escura e Rafa esfregando o material de sua calça social. Ficaram em silêncio por um tempo, até Rafa quebrá-lo.

— Incluindo o final de semana? - perguntou, apertando os lábios em uma linha fina.

— Sim - respondeu Igor.

Novamente o silêncio caiu na sala, restando apenas o barulho de suas respirações agitadas e o batucar da caneta na madeira da mesa sólida do terapeuta.

— Contem como se conheceram - induziu o homem, notando o constrangimento súbito perante sua questão anterior.

— Ah, foi na Colômbia - explicou Manu, um pequeno sorriso se abrindo em seus lábios.

— Bogotá - completou Rafa— Cinco anos atrás.

— Seis - corrigiu Manu, com uma expressão cínica no rosto.

— Certo. Há cinco, seis anos atrás - falou Rafa, olhando de relance para sua esposa, que mantinha um sorriso irônico em sua direção.

[Bogotá, cinco ou seis anos atrás]

Rafaella Kalimann estava lendo um jornal enquanto bebia cerveja, no bar da recepção do hotel em que estava hospedada. Virou-se rapidamente ao ouvir um barulho de sirenes ecoando pela rua e um estrondo na porta de entrada do ambiente, por onde passaram vários policiais, claramente procurando por alguém.

Sra & Sra. Gavassi KalimannOnde histórias criam vida. Descubra agora