Capítulo 7

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RAFAELLA P.O.V

Mais uma vez busquei refúgio na casa de Gizelly, onde andava de um lado para o outro como uma tigresa enjaulada. As artérias latejando com a adrenalina, os músculos crispados, prontos para darem o bote — a conhecida síndrome da "luta ou fuga".

Mas lutar com quem? Fugir do quê? Da minha própria vida ao longo dos últimos cinco anos?

Eu estava paralisada. Subjugada pela intensidade de emoções conflitantes, eu não conseguia enxergar direito, não encontrava nenhuma explicação.

Sabia apenas que precisava deitar alguém de porrada.

Para piorar as coisas ainda mais, Gizelly estava mais intragável do que nunca.

— Você está dizendo que...

Ela se refestelava no sofá da sala, vestindo um roupão de banho e bebericando um gole de cerveja atrás de outro, enquanto eu examinava uma pilha de entulho carbonizado que eu havia surrupiado do escritório de Manu.

— Está dizendo que poderia ter atirado à queima-roupa e não atirou?

Eu não queria falar sobre o assunto. Então continuei a trabalhar, vasculhando em busca do... do quê mesmo? Sei lá... de alguma coisa. Algo que pudesse dar sentido à história toda.

Ou talvez estivesse apenas adiando o inevitável.

— Mulher! — exclamou Gizelly. — Isso aí parece coisa da era pleistocênica. Deixa de molho de um dia pro outro, e pimpa! A gente acorda com uma pilha de diamantes no chão.

— Continua procurando, Gizelly, caladinha.

— Procurando o quê? Fósseis? Rafa, minha querida, você não está com tempo pra brincar de arqueóloga. Eles te deram quarenta e oito horas, e só te restam o quê? Vinte e duas? Vinte e três?

Eu sabia que estava dando uma de James Dean. Mas não consegui evitar.

Olhei para o relógio e disse:

— Dezoito e uns quebrados.

— Dezoito horas até despacharem vocês duas para o inferno! Rafaella, chega de embromação. Você precisa apagar essa desgraçada já!

Olhei para ela, séria.

— Não preciso que você me diga como lidar com a minha própria mulher.

Gizelly balançou a cabeça, impaciente. Não era de tapar o sol com a peneira.

— Ela não é sua mulher.

Demorei um pouco para digerir estas palavras.

— Você precisa aceitar isso, minha cara — ela continuou, um pouco mais amena. — A gata não é sua mulher. É a inimiga. Vai por mim. Ela agora deve estar lá, com as amiguinhas, arrumando um jeito de acabar com você. E ficar com a casa, o carro, o gato, até a porra da torradeira...

— Gizelly! — gritei.

Ela estava indo longe demais. Talvez em direção ao campo de guerra ao qual se resumira quase todos os seus relacionamentos no passado.

De repente, avistei um pedacinho de papel, minúsculo e poeirento, que me deixou intrigada. Gizelly se aproximou para ver o que estava escrito nele.

Apenas quatro letras: "TZKY."

— Pô, será que dá pra comprar uma vogal? — brincou.

Talvez fosse uma pista.

Mas Gizelly não concordou e preferiu continuar a me importunar:

Sra & Sra. Gavassi KalimannWhere stories live. Discover now