Capítulo 17

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RAFAELLA P.O.V

Ah, beijinhos... Uma das muitas coisas que Manu sabia fazer com a boca.

Vendo-a dar ré na van, fiquei pensando se havia alguma lei que proibisse uma mulher de se divertir tanto com a própria esposa. Isso mesmo.

Que se dane o perigo, que se dane o futuro — sair por aí com Manoela, como duas fugitivas, era a coisa mais divertida que eu havia feito em muito, muito tempo.

Aquela mulher — aquela estranha que eu havia chamado de esposa por cinco anos — era um verdadeiro baú de surpresas.

Era inteligente, mais corajosa que a maioria das pessoas, uma profissional tarimbada e de inúmeros recursos. E ainda por cima linda e incrivelmente sexy.

Tínhamos sido feitos uma para a outra. Mas estávamos cegas demais para perceber isso antes.

Talvez tivéssemos arruinado as coisas irremediavelmente. Mas quem sabe...

Fiz um esforço e interrompi meu pensamento ali mesmo. Precisava me manter concentrada no presente. Nosso plano era bem maluco, mas se tudo saísse como previsto eu teria todo um futuro de felicidade ao lado daquela mulher que também atendia pelo epíteto de Sra. Gavassi Kalimann.

Aliás, já era tempo de umas longas e merecidas férias.

Talvez uma segunda lua-de-mel.

MANOELA P.O.V

Todo mundo um dia já teve vontade de "comprar até cair".

Mas o que Rafa e eu estávamos prestes a fazer corria o risco de se transformar em algo como "comprar até cairmos... mortas".

Então o que precisávamos fazer era cuidar para que os mortos fossem os outros, e não a gente.

Tínhamos acabado de chegar ao nosso destino final: o estacionamento da Home-Made, minha loja preferida, uma megastore de móveis e artigos para casa. O lugar perfeito para começar uma vida nova.

Paradas ali, Rafa e eu mais parecíamos um jovem casal à procura de móveis bons e baratos para o apartamento novo. No entanto, até onde podíamos saber, éramos as únicas que usavam coletes de kevlar, à prova de balas. Nada muito confortável para uma manhã de compras, mas, se tudo desse certo, passaríamos os dias seguintes com o mínimo possível de roupas sobre o corpo.

Inebriadas de amor e animadas diante das possibilidades, havíamos planejado tudo com o maior entusiasmo. Esperávamos ganhar nossa liberdade muito em breve. A liberdade para viver nossas vidas do jeito que queríamos. Juntas.

Mas agora a realidade exigia o máximo de sobriedade. Numa espécie de sintonia fina, nos preparávamos para nossa missão em silêncio, reunindo o equipamento necessário e cuidando para não estorvarmos uma a outra. Ali estavam duas assassinas calejadas e profissionais preparando-se para entrar em ação.

Como atletas olímpicas, precisávamos da mais perfeita concentração.

Todavia, para mim não era tão fácil assim. Nenhuma outra missão havia sido tão importante quanto aquela. Antes, grande parte da minha coragem advinha do fato de que não pensava muito no preço que talvez tivesse de pagar cada vez que colocava minha vida em risco. Ninguém quer morrer, é claro. Mas no passado minha motivação se confundia com um vago instinto de sobrevivência; agora, no entanto, eu tinha um excelente motivo para continuar viva.

Minha vida. Com Rafa.

Toda a experiência que eu havia acumulado até então seria colocada à prova. As lições que eu havia aprendido ao ludibriar cada um dos meus inimigos, ao sobreviver a cada ferimento, bem como os músculos, os reflexos e a malícia que eu havia desenvolvido ao longo de mais de trezentas missões — tudo isso seria testado naquela luta derradeira.

Sra & Sra. Gavassi Kalimannحيث تعيش القصص. اكتشف الآن