5. Como o vento

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Berlim, 2002

– Então, Senhor Müller, foi amor à primeira vista?

– Da minha parte, sem dúvida. Mas a história se complica, eu não sabia do que ela era capaz e não saber me custou muito caro.

Daniel voltou a pousar o seu olhar azul cristalino além das grandes janelas, seu rosto refletia determinação, talvez buscando entre suas memórias aqueles momentos que compartilhou com Regina.

Depois de um suspiro resignado, ele continuou falando, desfazendo-se daquele pedaço da sua história que estava há muito tempo guardada em sua alma, permitindo à jovem norte-americana encher o seu pequeno caderno com recordações ocultas há muito tempo por detrás de uma vida de invalidez e solidão.

—☆—

Paris, 1935

O jovem Daniel demorou mais do que havia imaginado para descobrir a informação pela qual estava obcecado há semanas: quem era a mulher das flores que não saía dos seus pensamentos.

Porém, depois de finalmente descobrir o nome dela, Regina Espinoza, ele quis saber de tudo sobre ela, e acabou descobrindo que ela morava com a irmã, Myriam, que administrava uma pequena floricultura e que não tinha mais ninguém além daquela jovem loira que a acompanhava em todos os lugares. Quanto mais ele sabia sobre ela, mais fascinado ele ficava e a necessidade de cortejá-la ardia em suas veias.

Duas vezes por semana ele aparecia na loja de Regina, a princípio de forma tímida, mas, com o passar dos dias, suas visitas se tornaram constantes. Ele trocava algumas palavras com a mulher que havia roubado o seu juízo, apreciava cada risada e cada rubor, sem perceber que estava caindo na teia de aranha que era tecida por aqueles que não desejavam uma nova guerra e faziam o possível para evitá-la.

Depois de alguns meses, ele finalmente conseguiu a atenção da morena e, desde então, tornou-se comum vê-los passear de braços dados pelas ruas de Paris. O jovem soldado fascinado pela beleza da jovem morena e e ela fingindo um interesse que não sentia, consciente de que, ao chegar em casa, teria mais uma discussão com Myrian que não entendia a importância dos seus atos.

Todas as noites a história se repetia. Sentadas na cama, Myrian se recusava a olhá-la enquanto ela explicava mais uma vez que Daniel não significava nada, que ela só estava fazendo a sua parte para evitar o horror de uma nova guerra. Elas discutiam calorosamente e se reconciliavam com paixão desmedida. Nesses momentos, Myriam aprisionavam a amada entre seus braços sussurrando: "você é minha!", fazendo a alma de Regina estremecer, pois, se havia alguém que era capaz de desestabilizar suas estruturas e mover o mundo debaixo dos seus pés, esse alguém era a sua loira de olhos da cor do mar.

Os meses iam passando sem maior complicação. As brigas com Myrian deixaram de ter sentido quando ela se resignou. Conhecia Regina e sabia que não podia mudá-la, pois ela sempre faria o que tivesse vontade. Myrian também sabia que a jovem tinha deixado tudo para estar ao seu lado e não parecia arrependida, ainda podia ver nos olhos dela a profunda admiração e o amor que ela lhe dedicava, de forma que abandonar-se à confiança cega nela foi fácil e assim elas deixaram as brigas de lado. Myrian sabia que sua suposta irmã se comportava como uma puritana com o tal Daniel. Somente diante dela Regina era autêntica, livre como o vento, arrebatadora como um furacão.

O soldado vivia como se um sonho se fizesse realidade, principalmente a partir do momento em que sua amada Regina aceitou casar-se com ele transformando-o no homem mais feliz do planeta, sem se importar que a irmã de sua prometida estivesse presente em todos os seus encontros, porque, no final das contas, entendia que elas só tinham uma à outra e não passava pela sua cabeça separá-las. Como havia sido iludido...

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