Take an angel by the wings

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Sua pergunta me choca muito. Como ele concluiu isso? Foi o que eu dei a entender?

De qualquer forma, eu preciso continuar sendo sincera! Não tenho mais como voltar atrás nessa conversa

-"não, não estou. Mas o que faríamos se eu estivesse?" 

-"o óbvio" 

Levo alguns segundos para assimilar o que poderia ser o óbvio. Pela expressão de alívio ao saber que não estou grávida, tenho medo de perguntar o que faríamos. E, se perguntar, sei que o meu destino com Christian irá depender da sua resposta. 

-"iríamos nos preparar para criar a prole" ele esclarece após meu silêncio.

A prole?

-"É...claro" me viro e caminho em direção ao local onde estava deitada antes. Me sento de frente para ele, como uma tentativa tosca de mostrar que não estou chateada. Por que diabos eu fui falar sobre isso agora? 

Christian se aproxima de mim, acho que por alguma espécie de obrigação sentimental que ele pensa ter. Ele acha que me chateou, e fez, mas não precisamos falar sobre isso agora. Não podemos estragar o restante da viagem com essa discussão. 

-"me desculpe por falar sobre isso. Eu só queria deixar claro quais são os meus planos" murmuro. 

-"Baby, eu já sabia disso antes de me dizer. O jeito como olha para os bebês, a forma como falar...é percetível" 

Então ele fez um ótimo trabalho fingindo não fazer ideia disso. E, em partes, confesso que isso me magoa. 

-"vamos esque…"

-"eu estou tentando, de verdade. Estou tentando olhar para os bebês de outro ângulo, como se eu pudesse ser pai. Faz algum tempo que tento encontrar esse lado paternal em mim. Mas eu não acho que filhos devam ser planejados assim" Christian confessa, e sei que é uma confissão pela forma como seus ombros caem quando ele diz. É como se estivesse segurando essa informação, e agora finalmente pode soltar esse peso.

-"eu poderia ser pai, mas somente pela sua vontade de ser mãe. E crianças merecem mais do que concordância e aceitação. Elas merecem ser desejadas, planejadas e amadas. E o oposto disso só pode criar pessoas traumatizadas como eu" quando Christian termina de falar eu estou completamente sem chão. Não sei o que dizer, aliás, como poderia dizer algo? 

-"A ideia de colocar uma pessoa no mundo só para satisfazer sua vontade é cruel demais. É cruel com o bebê" ele completa. 

Me sinto pesada, tonta, com vontade de vomitar tudo que comi até agora. É informação demais para um dia só. Não que eu não entenda, apenas não consigo digerir. Então, basicamente, não temos os mesmos planos para o futuro?

-"eu não sei o que dizer, me desculpe" é tudo que consigo dizer. 

Não posso tirar sua razão. Ele deve estar pensando sobre isso à algum tempo, tentando encontrar a melhor forma de me dizer que não pensa em nós como algo mais do que somos.

-"baby, sou eu quem peço desculpas. Você me completa e me transborda e eu não consigo me ver fazendo a única coisa que você quer para o futuro" 

-"não é a única coisa, é só um plano" sussurro. Nossa felicidade não depende unicamente disso. Iremos encontrar um meio termo, algum dia.

Christian emoldura meu rosto com as mãos e analisa meus olhos. Os dele estão pacatos, tristes até. Não sei em que momento deixamos as coisas irem por água abaixo, mas agora estamos literalmente no fundo do poço.

-"um plano? Quer dizer que pensa em realizar...sem mim?" Sua voz é só um sussurro ao pronunciar a última parte da frase. 

Cubro suas mãos com as minhas para tentar diminuir a distância emocional entre nós, mas não acho que isso seja suficiente.

50 Tons de PuniçãoWhere stories live. Discover now