Change my mind

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-"não pode estar falando sério" mal reconheço minha voz falha quando as palavras dolorosas saem da minha boca.

-"eu vivi coisas demais ao seu lado para saber que cheguei ao meu limite" 

Seus olhos estão vermelhos, implorando para soltarem todas as lágrimas que ela não quer deixar rolar. Dizer que Anastasia está sem chão é eufemismo, e isto me faz entender que eu não posso dizer nada que lhe faça mudar de ideia.

-"e sobre o jantar…" ela começa, porém faz uma pausa para tomar uma longa respiração. Apenas escuto.

E choro.

-"nós vamos. Sua família é composta por pessoas muito gentis e acolhedoras"

-"não precisamos fingir" murmuro. 

-"não quero fingir, mas este jantar é importante para eles. Então, por uma única vez, é justificável colocar o sentimento de outra pessoa acima dos nossos" 

Odeio a forma como ela usa essa analogia para me atingir. Odeio a forma como ela me olha; cansada, desgastada, esgotada. Odeio o fato de estarmos falando de qualquer outra coisa além da nossa relação.

Assinto com a cabeça para indicar que compreendo. O que posso dizer? Eu simplesmente fodi tudo.

-"não há nada que eu não faria para mudar as coisas" digo, na tentativa furtiva de fazê-la ficar por um pouco mais de tempo.

Anastasia apenas limpa as gotículas de água em seus olhos com a ponta dos dedos antes de deixar minha sala. E, neste momento, eu tenho nada.

A veracidade em suas palavras me detona. Eu gostaria de ter feito diferente quando fui a porra de um babaca. Eu pensei que estava perdendo seu corpo mas, para além disso, estava perdendo seu coração.

Saio do escritório na esperança de vê-la do lado de fora, como já aconteceu algumas vezes. Ela me mandava uma mensagem, e logo depois aparecia na porta da minha sala. Parecia tão simples antes de se tornar uma memória.

Caminho pelo corredor, inconscientemente, até chegar a porta do quarto onde ela está. Quero cortar o espaço que lhe dei, lhe roubar a opção de fugir mais uma vez. Mas, deste modo, que parte dela eu teria? 

Volto para o escritório completamente derrotado. Me arrependo tão profundamente quanto qualquer reles mortal poderia. Passivo de erro, assim como todos ao meu redor, assumo minha inclinação para a desgraça.

Este sangue fodido corre nas minhas veias, certo? Uma prostituta drogada, ótima como miserável, negligente como mãe. Um pai...a falta dele. A figura paterna mais antiga que tenho é a de um agressor, o que fecha lindamente meu histórico enquanto pessoa. 

E ela costumava acreditar que eu era mais do que um filho da puta. Ela via algo em mim, algo além de toda merda em acúmulo. Porém, agora, suponho que não veja mais.

O restante do dia se passa lentamente, como se o sol quisesse prestigiar minha desgraça. Parei de contar quantas doses de whisky eu tomei só pela manhã, e talvez isso tenha afetado minha percepção do tempo.

Não que eu tenha sido eficiente a porra do dia todo, mas deixo meu escritório apenas quando a noite surge. Rumo ao quarto, nosso quarto, com uma ridícula esperança de vê-la sentada na cama novamente. Aquela é a última lembrança que tenho dos seus lábios.

Mas me conformo com o fato de fingir. Isso significa que seremos o casal de duas semanas atrás, pelo menos antes das cortinas serem fechadas. 

Entro no modo automático a partir do momento que vejo sua foto sobre a mesa. Esta não pode ser a porra da minha realidade agora!

50 Tons de PuniçãoWhere stories live. Discover now