Capítulo 7 - Passado

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Aviso de gatilho: contém falas sobre depressão e suicídio. 

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Capítulo 7 - Passado

O treino daquele dia havia terminado mais tarde que o normal, o céu já estava escuro e estava frio fora do ginásio. Troquei minhas roupas e me despedi dos meus colegas rapidamente, eu queria chegar em casa logo, estava cansado e com fome. Peguei minha bicicleta e comecei a pedalar, estava usando minhas últimas energias para isso. Minhas motivações eram o jantar e a minha cama.

Devo admitir que não estava prestando atenção na rua, pelo menos não da forma que eu deveria. Parei na calçada ao chegar num cruzamento, precisava esperar o sinal fechar para passar. Eu estava tão focado no meu objetivo que sequer ouvi o carro que se aproximava em alta velocidade. Quando me dei conta, vi os faróis próximos demais e não tive tempo nenhum de reagir.

A dor que senti foi intensa, de uma forma que eu nunca tinha sentido na minha vida, provavelmente fui jogado contra um poste de iluminação, mas eu não tinha certeza. Minha visão estava turva e a última coisa que eu vi antes de perder a consciência, foram algumas pessoas se aproximando, em específico, uma mulher com um celular na orelha e ela parecia assustada. Provavelmente foi quem chamou a ambulância.

Eu só fui acordar alguns dias depois, numa cama de hospital. Era tudo muito branco, muito claro, meus pais e minha irmã estavam lá, assim como alguns médicos. Todos falavam comigo, mas eu não entendia absolutamente nada, ainda estava um pouco tonto. De alguma forma, pedi calma, eu precisava de um tempo para entender o que estava acontecendo ali.

Tentei me levantar para me sentar na cama e foi neste momento que o pânico surgiu. Minhas pernas não se moviam e imediatamente meus olhos se encheram de lágrimas. Meus pais tentavam me acalmar, mas isso era impossível. Se minhas pernas não se movessem mais, como eu iria jogar vôlei?

— Você sofreu uma lesão na medula espinhal... — O médico começou a falar.— Você está paraplégico.

Aquela notícia foi mais dolorosa do que a dor que senti quando meu corpo foi jogado contra o poste. Eu congelei, não falei nada, apenas encarei minhas pernas e tudo que eu conseguia pensar era em como eu jogaria vôlei. Quando tentei me sentar na cama anteriormente e não consegui, entrei em pânico, mas ainda tinha chance de ser algo momentâneo, porém agora eu tinha a confirmação dos médicos.

Eu não poderia mais jogar vôlei. Nunca mais correria na quadra, nunca mais pularia, nunca mais sentiria o impacto da bola contra minha mão e nunca mais veria o outro lado da rede. As lágrimas desciam pelo meu rosto e eu sequer fazia esforço para segurá-las. Eu não poderia mais fazer o que mais amava na vida.

E entre lágrimas e soluços, pensei em você, Kageyama. Era ele quem trazia o meu melhor a tona dentro das quadras, era ele quem fazia a bola chegar até mim e eu confiava de olhos fechados nele. Como eu diria que não cortaria mais seus levantamentos? Eu tinha dito pra ele que estaria ali, que as coisas não seriam como no ensino fundamental.

Me falavam de fisioterapia e de vôlei paralímpico, tentavam me dar alguma esperança. Sinceramente, nada daquilo funcionaria. Eu não queria mudar as coisas, queria que tudo continuasse do jeito que era antes.

~

Após receber alta e voltar pra casa, tudo estava diferente. Eu não fazia praticamente mais nada sozinho e isso era deprimente. Falei pros meus pais que não queria ir pra escola, como eu iria aparecer pros meus colegas de time naquela maldita cadeira de rodas? E apesar de esse ser o motivo principal, várias outras coisas me impediam de continuar na escola, quase todas relacionadas a acessibilidade.

SunflowerWhere stories live. Discover now