Capítulo 5 - O Aluno Novo

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O despertador tocou.

- Que horas são? - Levantei e olhei no relógio. - Meu Deus, está muito tarde!

Tomei um banho e desci para a mesa do café fardado.

- Bom dia filho! Eu já estava indo te acordar. Aconteceu alguma coisa ontem? Dormiu tarde fazendo o que?

- Bom dia mãe. - Bocejei. - A senhora sabe, eu estava montando uma trava para a porta do quintal com algumas peças que achei na rua ontem.

- Certo, tome seu café para não se atrasar de novo.

- Cadê o papai? - Perguntei.

- Seu pai está dormindo. Ontem foi o evento da empresa e ele trabalhou em tempo integral. Por isso, ele recebeu folga hoje.

- Certo, então.

Minha mãe foi me levar até a escola como sempre fazia todo santo dia.

- Bom dia mãe.

- Não converse enquanto caminha, filho. - Disse acelerando o carro.

Caro leitor, caso deseje obter uma experiência de leitura nova, experimente ler a partir daqui ouvindo a música abaixo com um volume relativamente suave para não incomodá-lo (use Spotify). Enjoy :)

Finalmente havia chegado na escola para enfrentar mais um dia cansativo. Victor não estava no pátio como era de costume estar. Provavelmente ele estava na sala para evitar a movimentação no colégio. Íamos fazer uma excursão de novo para variar.

 Íamos fazer uma excursão de novo para variar

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Entrei na sala.

- E aí? Está pronto?

- Mais que ironia o cara mais calado me perguntar isso, hein? - Questionou Victor.

- Deixe de zueira e vamos logo pegar os últimos assentos do ônibus.

- Calma, né amigo. - Repreendeu-me.

- Como assim?

- Já vi que você veio mais perdido que cego em tiroteio. - Disse sorrindo. - Nós vamos viajar de tarde.

- Sério? Dane-se eu não ligo. Sobra mais tempo para aprender a socializar.

- Legal, vamos para o pátio?

- Já estou lá. - Respondi.

Enquanto andávamos pelos corredores, a todo momento meus olhos caçavam aquela bela garota. Por que eu estava tão preocupado? Ela nem sabia da minha existência. Deixei pra lá.

Sentamos no mesmo assento do pátio para falarmos sobre o assunto que éramos profissionais: quadrinhos. Victor estava sentado de frente para mim e, graças a essa posição, toda vez que conversava comigo, de longe, percebeu que um garoto esquisito olhava disfarçadamente para mim. Eu não vi, Victor me alertou.

- Ruan, vou colocar meu celular bem no meu rosto e quero que você veja uma coisa no reflexo, certo?

- Tá, mas por que isso do nada?

Ele fez conforme disse que faria. Enxerguei o tal garoto que estava olhando para mim de longe.

- Ele está olhando para mim? - Perguntei sem entender nada.

- É exatamente isso que não estou entendendo.

- Você o conhece? - Perguntei.

- Eu? Claro que não, mas acho que posso reverter isso agora. - Disse Victor fazendo um gesto chamando o tal garoto.

- Tá maluco?

- Ora, você não queria saber?

O menino era bastante magro e usava um óculos desproporcional ao tamanho do seu rosto. Talvez isso era o que o deixava mais estranho.

- Oi, prazer eu me chamo Victor. Sente-se aqui.

Eu odiava socializar. Estava muito bravo com a atitude sem noção de Victor de chamar o tal garoto. Mas não reclamei com ele porque foi dessa mesma maneira que nos conhecemos.

O garoto se sentou um pouco retraído.

- Oi, tubo bem? Eu me chamo Ruan.

- Oi... eu sou Marlon.

- Marlon? - Questionou Victor erguendo os olhos para pensar.

- Eu cheguei ontem no colégio. - Respondeu o garoto.

- Ah, você é aluno novo? - Perguntei.

- Sim. Eu vim do Colégio Platão.

- Colégio Platão? Por que raios você saiu de uma escola como aquela? Quer dizer, nossa escola não é a pior, mas no ranking do estado, sua escola é melhor que a nossa em uma estrela.

Percebi que o garoto ficou nervoso com essa pergunta. Resolvi cortar aquele papo, mas eu não soseguei. Ele era como eu. Estranho, calado, parecendo que todos não gostavam dele, então pensei em dar uma chance a mim mesmo. Puxei assunto.

- Bem, Marlon, o que está achando de nossa escola?

- Ainda não sei bem o que opinar. Eu cheguei ontem.

- Sendo assim, vamos dar uma volta. - Disse Victor levantando do banco.

Naquele momento eu pensei: "Victor usou drogas no café da manhã, só pode".

- Vamos Ruan.

Eu franzi as sobrancelhas. Não respondi nada e os segui com um metro de distância.

E lá estavam eles. Victor e o tal Marlon caminhando em minha frente como dois amigos de longas datas. Eu não queria saber de onde vinha aquele garoto. O jeito quieto dele era forçado e já estava começando a enjoar.

A partir daquele momento percebi que ra impossível tentar ser normal dentro de uma escola. Esse é o pretexto perfeito para os novatos se aproveitarem de nossa bondade.

Eu estava quase indo quebrar o clima deles dois quando vi perfeitamente que logo à frente de Victor e Marlon vinha aquela menina. Não havia possibilidade de eu estar enganado. Consegui identificar perfeitamente sua silhueta, foi a última coisa que consegui identificar antes de ficar inconsciente.

Até seu jeito de andar me fazia querer acompanha-la até os confins da Terra. Infelizmente nossos mundos eram tão distantes. Foi quando do nada isso aconteceu:

- Oi Júlia. - Disse Marlon.

- Oi. - Respondeu ela sem parar de andar.

O tal Marlon a conhecia de algum lugar. Porém essa não era a parte mais estranha. O que me deixou mais intrigado foi o fato de que, horas mais tarde, em casa, olhando para uma foto no instagram do Museu, ele era parecido com aquela mesma pessoa que ficou de pé durante minha apresentação.

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