Capítulo 01

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Mais um dia.

Mais uma vez que usarei meu corpo, ao menos será somente com meu talento. Ao menos aqui posso usá-lo. No dia que Victoria conseguir realizar a abertura de seu studio eu serei a pessoa mais feliz do mundo.

Muitos me julgam e dizem que tenho futuro mas prefiro a vida fácil.

As coisas não são bem assim. Eu tenho futuro e sei disso, mas também tenho responsabilidades.

Meus queridos e amados pais eu nunca nem vi. Pelo que sei meu pai ninguém sabe nem quem é. Já minha querida mãe saiu mundo a fora assim que a belezura que vos fala nasceu.

O que restou pra mim?

Por sorte a melhor pessoa do mundo.

Minha tia Ana, irmã mais velha da minha mãe que me criou como sua e me deu tudo que podia.

Morávamos em uma cidade pequena próxima a Vegas e nos mudamos na minha adolescência onde conheci a outra melhor pessoa da minha vida.

Vitória Hale.

Eu não era sociável e nem ela se apega as pessoas por não permanecer no mesmo lugar sempre. Mas o universo conspirou para que mesmo depois com a distância nossa amizade desse certo.

Quando tinha dezenove anos minha tia resolveu voltar para nossa cidadizinha, mas para mim lá já não era minha casa.

Então eu permaneci aqui.

Trabalhei de tudo um pouco, fazendo bicos onde aparecia oportunidade para conseguir me bancar mesmo que com dificuldades.

Quase dois anos depois conheci umas garotas em uma festa aleatória e me falaram da boate que trabalhavam.

Não pensei duas vezes. Minha tia não estava com a saúde boa na época então comecei a dançar para conseguir dinheiro.

Não é o emprego dos sonhos. Mas é o que paga bem e a um ano vem me fazendo ter uma vida melhor por receber bom salário e ainda poder ficar com parte do dinheiro que é jogado pra nós durante a apresentação.

Pude ajudar minha tia Ana que hoje está melhor e ainda todo mês mando uma quantia pra ela por via das dúvidas.

Hoje divido o apartamento com minha amiga. A pouco mais de dois meses ela voltou pra cidade e não pensamos duas vezes em ficarmos coladas uma na outra, mesmo ela sendo bem louca as vezes.

Subo mais uma vez no palco. Mas uma noite em que muitos homens olharam para meu corpo, o que me enoja, e eu não encaro nenhum deles.

Não preciso que vejam nos meus olhos a chateação de fazer isso. Mas é um trabalho digno. Não estou matando, nem roubando, e acreditem se quiser, mas também não estou me prostituindo.

Sim, muitas garotas que trabalham aqui acabam fazendo programa, umas por necessidade e outras até gostam. Mas não é minha praia, então nunca fiz e nem vou fazer. Mas ainda sim as pessoas falam, como sempre.

Ao som de Beyoncé balanço o corpo de olhos fechados e uso tudo de mim naquela minúscula dançando para homens que deixam as esposas em casa para vir ver mulheres com pouca roupa dançando e eles ainda acham o máximo.

Ao mesmo tempo que odeio tudo isso, o momento que danço é uma válvula de escape. Como se o mundo ao redor não existisse e somente eu e a música submergimos naquela hora.

Ao terminar sinto um olhar conhecido sobre mim e vasculho o lugar em sua procura.

Em pouco a segundos encontro o motivo dos meus sonhos mais profundos sentado sozinho em uma mesa do fundo me observando com seu olhar azul.

Harry Trevelyn.

O nome do que tempo depois descobri que seria o homem que me deixaria em pura felicidade e também em absoluto desespero ao tentar catar todos os pedaços do meu coração.

Termino minha noite despedindo das garotas e aproximo da saída dando um aceno aos seguranças. Não sei por que, mas tenho a impressão que a segurança desse lugar e das outras boates dos Trevelyn em que já fui são dobradas.

Chegando próximo ao meu carro sinto um frio percorrer minha espinha então acelero os passos mas antes sinto mãos segurarem fortemente meu braço e meu coração acelera de tal forma que fico com medo de me virar.

- Olá. - Escuto uma doce voz divertida e suspiro mais aliviada me virando.

- Olá. - Encaro seu rosto que agora contém um sorriso de canto e ele solta meus braços.

Harry é mais novo que seu irmão, meu chefe que dá medo até de olhar. Já o mais novo está sempre com alguma brincadeira ou sorriao debochado, nunca o vi sorrindo de verdade.

Digo que deve ter seus vinte e cinco anos no máximo, alto de corpo musculoso mas sem exageros, sem contar os olhos azuis profundos que me invadem a alma.

- Ariane não é? - Indaga me pegando de surpresa.

- E-eé .. - Digo meio gaguejando e me reprimo mentalmente por isso.

- Gostei da sua dança.

- Ah .. obrigada? - Acho que perguntei mais do que agradeci ao o que eu acho ser um elogio.

- Então, nós poderíamos sair daqui? - O olhei incrédula, ele acha que é fácil assim me levar pra cama? - Sair pra beber, conversar, o que acha?

Um deus grego desses que eu observo a tempos está bem na minha cara me convidando para sair e eu faço o que?

- Claro. - Ele sorri satisfeito com o ego nas alturas.

- Aliás me chamo Harry.

Mal sabia eu que no final da noite estaria me acabando nos braços de Harry Trevelyn, e que ele ainda seria o tipo de cara divertido e carinhoso, ao mesmo tempo sexy e bruto.

Uma perdição em forma de homem.

Mas no dia seguinte me surpreendi com o cara lindo e legal que conheci ser substituído pelo babaca que acha ser o rei do mundo e nem olhou mais na minha cara.

Aliás, ele olha pra qualquer um mas nunca pra mim. Quer saber, quero que Harry Trevelyn se foda e vai pro inferno, vou é viver minha vida.

Harry - Trilogia Irmãos Trevelyn 2Where stories live. Discover now