Último capítulo - Parte II
Saudade é uma palavra que existe apenas na língua portuguesa. Significa lembrança de algo que se viveu e não se volta, é um cheiro, um lugar, uma fotografia que terminou pendurada no lado esquerdo do peito.
E era nele que Rafa deixava pender a sensação doce de estar em frente a um lindo altar olhando a mulher da sua vida parada ao fim do tapete azul.
— Você está linda — A morena declarou sentindo algumas lágrimas se enrolarem no canto dos seus olhos diante da imagem da mulher naquele vestido branco que se aderia aos seus ombros e cintura numa renda delicada que proporcionava um decote generoso e apertado.
O caimento, as aberturas laterais para que as pernas fossem estrategicamente exibidas tornava seu caminhar ainda mais singelo e arrebatador pela areia, o que só terminava de causar mais emoção na empresária.
— Você também está linda — Rafaella devolveu com o seu sorriso perfeito de olhos quase cerrados enquanto olhava a influenciadora de pé diante de si com seu simples vestido branco que abraçava as curvas desde as alças sensuais até perto da coxa que era onde o tecido se detinha.
Saudade.
O dicionário não é tão amplo no seu significado.
Se o destino, inquieto como é, pudesse agregar algo a mais a esse vocábulo acrescentaria a vontade incalculável de deter uma parte do que está se vivendo.
É a saudade em tempo presente. É entender no curso das coisas que aquele momento ficará colado nas retinas até depois que tudo volte a ser só pó, areia ou praia.
Bianca e Rafaella sentiam aquilo em canta centímetro de suas existências. Mais que na pele, na própria alma, sabiam que seus olhos jamais esqueceriam cada uma daquelas imagens de profunda felicidade e emoção.
— Você a trouxe de volta para nós e hoje, por amor, a entrego em suas mãos. Cuide da minha menina e a honre como seu bem mais precioso, pois ela é o nosso — Pediu Sebastião depositando uma mão sobre a lateral do rosto de Bianca a afagando paternalmente até que ela concordasse com um olhar tão sincero que todas as suas intenções se delatavam através da tela castanha que carregava no olhar.
Recebeu em sua mão a da namorada e com júbilo a elevou até seus lábios tocando o dorso com uma devoção que fez a mineira derramar as lágrimas que havia segurado desde o momento em que se viu em frente ao espelho.
Numa última tentativa fracassada Rafaella mordeu o interior da bochecha tentando conter os sentimentos intensos dentro do seu âmago, no entanto, não obteve qualquer sucesso e segundos depois estava sentindo as lágrimas salgadas correndo pelo rosto que foi imediatamente beijado por Bianca.
A carioca beijou cada eu te amo que foi dito no paradoxo encontro do verde e do castanho nublados de um amor imensurável.
Paradoxo porque ao ponto que os lábios encontravam as lágrimas o entendimento encontrava as palavras corretas para definir que quando o efêmero e o infinito fazem as pazes tudo parece mais certo no mundo.
É como se o mundo voltasse a funcionar direito. Como se o destino tivesse sua dose de paz para acompanhar a sua existência solitária.
O efêmero porque como as lágrimas a vida é feita de momentos.
O infinito porque a perpetuação de cada um deles era o que unia duas pessoas em suas melhores versão.
Não como uma, mas como pessoas que seriam capazes de fazer a diferença na vida uma da outra sem que se perdesse um único resquício de suas essências.
![](https://img.wattpad.com/cover/227170447-288-k67892.jpg)
VOCÊ ESTÁ LENDO
O Decreto Kalliman
FanfictionSe uma não quisesse as duas não teriam brigado, mais ou menos assim diz o ditado popular e os pais frequentantes da Escola Primária Santa Judith, localizada num bairro nobre do Rio de Janeiro. No entanto, essa não está nem perto de ser a opinião de...