21- Inquietação

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O relógio mostrava que já passava das cinco da manhã e eu ainda estava revirando na cama, incapaz de dormir.

Tentei usar ASMR, assistir filme, ler um livro... Mas nada me ajudava a relaxar.

Pensei em ligar para Alex, porém eu não queria atrapalhar o sono dele também. Já bastava o meu.

— Saco — reclamei fechando o exemplar de Trono de Vidro que eu estava lendo.

Levantei e comecei a andar de um lado para o outro pelo quarto, com os pensamentos girando ao redor daquela maldita porta. Racionalmente eu sabia que tinha feito a coisa certa — como eu iria saber que não era um incêndio de verdade? — porém isso não me deixava menos ansiosa.

Cansada de ser inútil, arrumei uma mochila e fui correndo para a academia. Pelo menos eu poderia usar aquela inquietação para algo útil.

Comecei com o aquecimento antes de partir para o saco de pancadas.

Por estar super cedo apenas alguns gatos pingados estavam treinando àquela hora, o que era ótimo para mim pois pude treinar quietinha em um canto mais afastado.

Duas horas depois eu estava de banho tomado  e completamente exausta, fazendo o caminho que eu conhecia de cor.

— Saiu cedo — mamãe observou sentada à mesa com os mesmos livros da noite anterior diante dela. — A Paola ficou chateada pois queria te ver antes de ir para a escolinha.

Desviei o olhar para um dos quadros na parede: uma paisagem outonal linda, com as árvores em tons de marrom, vermelho e dourado contrastando com um banco de ferro preto e uma lamparina no poste emitindo uma suave luz amanteigada sobre a paisagem.

— Não consegui dormir e fui para a academia— admiti voltando o olhar para ela. — E a senhora? O que está fazendo?

— Preciso devolver essas coisas para o contador — comentou com puro desgosto na voz.

Me aproximei ainda mais dela.

— O pai fez alguma coisa ilegal? — sondei como quem não quer nada.

Mamãe suspirou pesadamente e fechou o exemplar pesado diante dela.

— Não vou discutir isso com você, Angélica — replicou se levantando e eu tive certeza que a resposta era sim. E isso era péssimo, pois a loja estava no nome da minha mãe. — A Augusta já chegou, peça para ela fazer um café para você. Volto para o almoço.

Assenti e corri para a cozinha, onde a mulher loura e rechonchuda se encontrava.

Eu a abracei com força, inalando o seu cheiro conhecido.

— Bom dia! — exclamei.

Augusta retribuiu o abraço e ergueu o meu queixo, analisando o meu rosto. Seus olhos logo recaíram no colar no meu pescoço e eles faíscaram.

— Bom dia, minha menina linda — cumprimentou. —  Feliz aniversário atrasado.

Agradeci e dei um beijo na sua bochecha.

— Vou fazer aquele bolo de laranja que você gosta — completou.

Dei um gritinho me sentindo uma criança.

— Com glacê de açúcar?

— Com glacê de açúcar — confirmou sorrindo.

— Obrigada — agradeci dando vários beijos pelo seu rosto. Eu amava o bolo de laranja da Augusta. Dava de dez a zero em qualquer bolo de confeitaria frufru que a minha mãe gostava. — Como foi o seu fim de semana?

Química Imperfeita [CONCLUÍDA]Onde as histórias ganham vida. Descobre agora