27- Jantar

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Eu nem lembrava da última vez em que tínhamos um tempo tão bom em família,quase tinha esquecido como amava a presença das três mulheres da minha família.

Era como se, sem o traste em casa,  mamãe estivesse mais leve e nós refletíssemos isso.

No entanto, minha alegria vacilou quando Paola arregalou os imensos olhos escuros  para a mamãe:

— Por que o papai tava gritando? — questionou, séria demais para uma criança tão pequena.

Troquei um olhar com mamãe e Elisa. Como responder algo assim?

— O papai estava estressado — Elisa contou por cima com a voz tremendo e levou a mão ao decote da sua camisola por um segundo. Lili nã quis me dizer como o vestido tinha sido rasgado mas não precisava ser Einstein para entender.

— Agora o seu pai vai morar em outra casa — mamãe contou em voz baixa, se apoiando nos joelhos de modo a ficar da mesma altura da filha mais nova, sentada no sofá. — Mas você vai poder visitar ele, tudo bem?

Paola não parecia muito convencida, mas assentiu.

— Que tal a gente assistir Moana? — Elisa ofereceu desejando mudar a direção dos pensamentos da pequena.

Claro que isso funcionou perfeitamente e Paola deu um gritinho animado. A "Moanda" era a sua princesa preferida.

Contudo, eu pude sentir como a aura ao redor ficou pesada.

Como faríamos para explicar para a minha irmãzinha que seu pai tinha sido expulso de casa por ser um filho da puta? Paola não sabia nada sobre traição, roubo ou homofobia e só tinha seis anos. Ela ainda era pequena demais para saber das maldades do mundo.

Passei os próximos dias remoendo isso e até mesmo Alex percebeu, chamando a minha atenção por estar dispersa durante as aulas que eu ainda tinha com ele todo dia depois do colégio. Aquelas eram as minhas partes preferidas do dia, mesmo quando Alex recusou sexo e só ficamos de boa assistindo filme depois de estudar. Eu o adorava, e amava ainda mais saber que não havia mais mal-entendidos entre nós.

Enfim, nenhuma solução mágica apareceu e nem Paola voltou a fazer perguntas difíceis, como se tivesse esquecido do assunto, embora nós três soubéssemos que não tinha.

Três dias inteiros se passaram  e finalmente o dia do nosso jantar no restaurante do tal chef Augusto Dias chegou, afastando essas preocupações para outras tomarem o lugar: será que ele era o homem que eu procurava? E se fosse, mas ele fosse mesmo casado como mamãe tinha dito? Eu gravaria um vídeo dele apenas para manter o disfarce e então faria o quê? Criaria um perfil para ela no Tinder? Eu não fazia de como ajudar mamãe a se reerguer.

Minhas mãos estavam tremendo quando passei o batom vermelho nos lábios, finalizando a minha maquiagem elegante. delineador preto e batom vermelho: meu look para qualquer ocasião.

O lugar parecia ser muito chique e eu não queria aparecer mal vestida, ainda mais porque — apesar dos motivos que me levaram até o restaurante — ainda era o meu primeiro jantar com o meu namorado.

— Me ajuda a fechar o vestido — pedi para Elisa que estava deitada na minha cama trocando mensagens com Miyuki.

Minha irmã pulou, animada, e veio na minha direção.

— Ai, você tá tão linda — Elisa suspirou quando girei para ficar de frente para ela.

Virei de modo a olhar no imenso espelho do closet e tive que concordar com a minha irmã.

O vestido vermelho de alças finas tinha um decote avantajado e ainda assim era elegante, abraçando as minhas curvas como se fosse feito para elas, dando a impressão de que minha cintura era mais finas e a bunda maior. O tecido ia até um palmo acima do joelho e acabava com uma saia envelope, com uma abertura suave. 

Química Imperfeita [CONCLUÍDA]Onde as histórias ganham vida. Descobre agora