Capítulo 5

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Um calafrio que percorre toda a extensão do meu corpo. É isso que sinto quando Michelle, minha dama de companhia, me entrega na manhã seguinte à festa um recado do príncipe Sebastian.

"Encontre-me no jardim. Precisamos conversar."

Sinto minha alma saindo do corpo por um milésimo de segundo. Não por medo, mas por preocupação. O conteúdo do bilhete parece sério, mas também incisivo.

Penso no que ele teria para me dizer.

Pode estar bravo comigo pelo modo como falei com seu irmão na noite passada? Ou talvez vá me repreender pela forma infantil como cuidei do assunto. Sim, talvez seja isso. Talvez queira me dizer que não é um tipo de brinquedo que posso manipular a meu bel-prazer.

Levanto-me mais rápido da cama do que tenho o costume em dias como esse. Michelle me olha com uma certa curiosidade, mas não diz nada, como sempre.

Ela é nova no castelo, um pouco quieta. Acho que não passa de vinte e cinco anos. Lembro-me de quando Agatha a apresentou para mim. Eu estava muito ocupada naquele dia para dar à garota qualquer atenção, mas ela nem pareceu se importar. Na verdade, acho que ficou até aliviada pela falta de interesse da minha parte. No fim do dia, quando fui me preparar para deitar, ela ainda me esperava pacientemente do lado de fora do quarto, parada a uma distância respeitosa; silenciosa e praticamente invisível sob a luz fraca do corredor. Ela cruzou o olhar comigo pela primeira vez, e reconheci a tristeza em seus olhos. Aquele tipo de tristeza que só se conhece após uma perda avassaladora ou uma experiência traumática. Ela é minha dama desde então. Michelle não fala muito e não faz muitas perguntas e parece apreciar quando retribuo o favor.

Ela dá um passo para trás para abrir o meu caminho até o banheiro. Escovo os dentes e lavo o rosto sem necessariamente uma ordem. Com a escova de dentes ainda na boca, peço para que Michelle apresse o grupo de estilistas e maquiadores, pois tenho pressa.

Eles chegam não muito tempo depois, como era de se esperar.

Roberto anda apressadamente até a penteadeira onde já estou sentada e começa a espalhar seus produtos de cores escuras sobre a superfície. Em qualquer outro dia, ele teria feito isso antes mesmo de eu ter saindo do banheiro, mas como eu disse: hoje tenho pressa.

Curiosidade nunca foi meu ponto forte. Minha mãe costuma dizer que eu sou louca por controle, e talvez esteja certa. Não gosto de saber que existem informações que outras pessoas conhecem, mas não eu. O problema de ser curioso, no entanto, é que você tem três opções: deixar para lá, o que eu nunca faria; implorar pela resposta, o que eu preferia morrer a fazer, e ameaçar quem quer que tenha a informação que você ainda não tem. Fácil dizer que a última opção é a que mais ponho em prática.

Roberto é muito ágil e habilidoso com os pincéis, embora tenha uma aura naturalmente sombria por debaixo das maquiagens neutras e discretas que sempre faz. Acho que seu sonho ainda é poder cobrir todo o meu rosto apenas com as cores mais escuras que puder encontrar em suas paletas e batons.

Na maioria das vezes, consigo saciar essa sua obsessão pelo sombrio através dos vestidos de cores escuras que confesso que também adoro usar. Armando, no entanto, o estilista, frequentemente reclama da quantidade de vestimentas escuras que acaba desenhando para mim.

Agora ele não reclama. Está sorrindo muito ao me observar sair do closet usando um vestido lápis de cor salmão. Vejo-o murmurar a palavra "maravilhosa" pela forma como seus lábios se mexem, mas ele não diz em voz alta. Sabe que não gosto de elogios forçados, e normalmente nunca se sabe se os elogios são verdadeiros ou não.

Após a cabeleireira prender a parte superior dos meus cabelos em um penteado simples, dispenso todos e me dirijo ao jardim mencionado por Sebastian.

A PrincesaWhere stories live. Discover now