Capítulo 6

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CONNOR

Vejo, do alto da janela, Sebastian se levantar do banco e caminhar de volta em direção ao castelo. Ele deve ter esperado por ela por quase meia hora naquele Sol. Imagino que pelo tempo que ela levou para se arrumar. Já vi o quanto isso pode demorar. Chloe vivia reclamando do tempo que Romeu e o restante da equipe de Costa Luna demoravam demais para vesti-la.

Com Sophie, o tempo deve ser ainda maior. Está sempre bem vestida e arrumada.

Mas vale a pena. Ah, sim, e como vale.

É engraçado como a realidade pode ser tão diferente mesmo entre nós da realeza. O simples fato de alguém precisar vestir uma jovem de 24 anos chega a beirar o absurdo para mim. Digo, eu sou um príncipe, e ainda assim isso me soa um completo exagero.

Meu irmão se levanta do banco, mas por alguma razão ela o chama novamente. Diz algo que o faz sorrir, mas o sorriso é quase melancólico. Ou apenas esteja imaginando coisas aqui do alto da janela.

Apesar de ser tradição que os convidados mais prestigiados fiquem hospedados em andares mais altos, minha família preferiu não se envolver na discussão que os outros visitantes travaram acerca dos andares de seus aposentos. Diante daquela confusão plurilinguística que tomou forma, o terceiro andar da Torre Leste não parecia de todo mal.

— Mais do que ótimo! — disse à rainha Annie e ao rei Antone em meio à gritaria dos outros príncipes convidados e suas famílias. — O terceiro andar está perfeito.

Meus pais e meu irmão concordaram com certo alívio.

Quem poderia imaginar que pessoas com tanto dinheiro e poder poderiam gritar tanto? 

Acontece que, na realidade, nos instalarmos no terceiro andar apenas facilitou a vida de Sebastian quando saiu bufando do seu quarto, após praticamente me forçar a contar sobre o que Sophie e eu tínhamos conversado no baile.

Eu não diria que ele ficou furioso, pois raramente Sebastian fica bravo. Mas não se engane, Sebastian certamente fica irritado. Até demais, eu diria.

Uma vez, quando éramos menores, assisti a um episódio de Friends em que Joey dava a Chandler um bracelete horroroso de melhores amigos, que Chandler usou porque não queria magoá-lo. Pensei que a ideia era maravilhosa para pregar uma peça em Sebastian, já que essa era a minha atividade favorita na época — e ainda é. Como era de se esperar, Sebastian usou aquela pulseira de "melhor mano do mundo" por quase uma semana antes de descobrir que eu estava zoando com a sua cara. Ele ficou tão irritado que simplesmente me presenteou com uma pulseira idêntica a que havia dado a ele.

Usei-a por alguns dias, só para que sentisse que estávamos quites e parasse de pegar no meu pé. Mas foi no final daquela mesma semana, há quase três anos atrás, quando Sebastian relutantemente me contou o segredo que guardava às sete chaves, que percebi que aquela pulseira pertencia ao meu braço tanto quanto meu braço pertencia ao resto do meu corpo.

"MELHOR MANO DO MUNDO"

Nunca mais tirei a pulseira, pois nunca quero que meu irmão acredite que essas palavras não são verdadeiras. Principalmente por conta de uma "verdade" que ele acha que é vergonhosa. Que as pessoas acham que é vergonhosa.

Que se danem as pessoas. É isso que quero que ele veja sempre que olhar para a pulseira no meu braço.

Você é, sim, o melhor mano do mundo, Seb.

O melhor mano do mundo que acabou de entrar no quarto com uma expressão não muito satisfeita.

O som alto da porta se fechando ecoa até pelas paredes quando Sebastian a solta das mãos em um movimento distraído. Senta-se na poltrona do canto do quarto e afunda o rosto nas mãos. Posso ver a sua perna direita balançando de ansiedade.

A PrincesaWhere stories live. Discover now