Laços de amizade

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N:A: Salve salve, galera! tudo bem com vocês? Estão sobrevivendo direitinho a esse restante de 40tena?

Jane

Quando enfim desabo na minha banheira, eu quase não distinguia mais as coisas que saíam da boca. Se mais uma única pessoa batesse à minha porta naquele meio de tarde, eu a mandaria ao inferno sem pudor algum.

Estico a mão para o lado, onde uma pequena mesinha de vidro sustenta alguns frascos de sabonete e demais loções, e também um controle remoto. Alcanço-o sem muito esforço, apertando o play para ativar o som embutido no teto.

Eu devia gratidão eterna ao meu irmão por aquele mimo luxurioso.

Sorrio de lado ao reconhecer a melodia que ecoa pelo ambiente. De alguma forma, Fade To Black sempre foi capaz de me acalmar como nenhuma outra música poderia fazer.

Nos dois primeiros acordes da guitarra, já estava fechando os olhos e encostando a cabeça na borda da banheira. O cheiro de sândalo misturado a bergamor, meu preferido, adentrava pelas narinas, sendo muito bem recebido pela pele ressequida do sabonete que eu usava na casa do Mike.

Submersa na água morna, sinto-me ser lavada de corpo e alma, como se todo peso acumulado com o passar dos dias estivesse finalmente encontrando um lugar para descansar fora dos meus ombros.

Ainda não tinha parado para conversar com o meu pai sobre os últimos acontecimentos. Havia um par de dias que eu regressara à Base e as coisas estavam tensas na mais amena das definições, olhares estreitos e burburinhos enchiam cada corredor da Base desde meu retorno.

Só nas últimas dez horas, eu não parei quieta. Alguém sempre chegava para conversar, inclusive o General Evans e até mesmo o seu filho, o Major-General Jaeden Evans, quem devo acrescentar ser um grandíssimo pé no saco, vieram me encher de perguntas sobre o ocorrido na Periferia. E também não havia parado para dormir nesse ínterim. Não consegui. Algo deveria estar muito errado comigo, porque por mais cansada que estivesse, não me era possível dormir como deveria; No máximo, um cochilo de trinta minutos.

Flashes disparam em minha mente, de alguma forma impossíveis de serem interrompidos, e rememorio ao garoto que conhecera na Periferia; ele não era quem eu sempre pensei que fosse.

Mike, apresentado como Bruce Amberger, era o maior dos enigmas que eu me empenhara em desvendar. Talvez jamais fosse saber como defini-lo numa única palavra, porém mesmo com tudo que acontecera, uma parte estúpida dentro de mim gritava aos quatro ventos que ele não seria capaz de fazer o que estava sendo acusado.

E isso estava acabando comigo, essas incertezas. Eu não poderia ser responsável pela segurança de uma população inteira se mal conseguia saber a diferença entre a verdade e a farsa, todavia, neste mesmo ponto, surgia outra questão que eu não era capaz de ignorar: Mike muito mais humano do que eu imaginava.

O mundo ao meu redor fica silenciado. Estou de volta ao estreito cômodo que é a sala da sua casa, olhando para os seus olhos enquanto um sentimento rancoroso rasga o meu peito. Um sentimento inabalável de sede de justiça que agora eu não sabia se estava sendo direcionado à pessoa certa.

Mike ergue uma mão lentamente, trazendo-a ao cano do revólver que seguro trêmulo entre os dedos, e o leva para baixo num movimento progressivo. Meus olhos crescem quando o vejo depositar o material no centro de seu próprio abdômen.

- Atire - sugere.

Olho-o com espanto incontestável; ele sabe que de tudo que eu poderia imaginar, com certeza não esperava aquele tipo de reação.

Mileven: Two WorldsOnde histórias criam vida. Descubra agora