Capítulo 4

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𝗔𝗡𝗬

Sentada em uma das mesas do famoso Café Florian, na Piazza San Marco, com o meu inseparável caderno de capa vermelha no colo e a caneta na mão, observo o movimento das pessoas. A praça está lotada, tanto de turistas quanto de locais.

A Piazza San Marco é o maior cartão postal de Veneza, tão linda e cheia de detalhes que, mesmo passando despercebidos aos olhos às vezes, guardam grande beleza.

Cheguei a cidade há dois dias e não poderia estar mais satisfeita com a escolha. É a minha primeira vez aqui. Pensei muito antes de embarcar para um lugar que não estava familiarizada. Porém, querendo novas ideias e perspectivas, arrumei as minhas coisas, comprei a passagem e parti rumo a Itália.

Eu sempre adorei viajar. Não importa quando ou para onde, assim que vejo uma oportunidade, faço as malas e lanço-me no mundo. O mesmo vale se o caso for mudar. Não tenho medo ou receio de migrar de país no momento em que me convém. Estou morando em Nova Iorque a mais ou menos um ano e por muita insistência de Krystian and, que me convenceu de que seria bom passar um tempo próximo a editora, principalmente por causa dos novos projetos em que estamos trabalhando.

Cansada de Bruxelas, decidi aceitar as insistências do meu melhor amigo. Mas ambos sabemos que a qualquer instante isso pode mudar.

Sou uma pessoa inconstante. Se existe algo que não consigo de jeito nenhum é ficar parada em um mesmo lugar. Mas nem sempre foi assim. Houve um tempo em que eu só queria estar em um único lugar. Contudo, tanto esse tempo quanto esse lugar passaram a fazer parte do passado.

No presente, há espaço somente para desbravar os caminhos que surgirem a frente. Afinal de contas, ser inconstante é melhor do que tentar ser constante em um mundo tão mutável.

Dou outro gole de café e recosto na cadeira, ajeitando os óculos escuros no topo da cabeça. Enfim tomei vergonha na cara e retoquei a cor dos meus cabelos, que continuam num tom suave de rosa e agora estão presos em um rabo de cavalo, e ainda se destacam dos demais. Tenho vontade de acender um cigarro, mas como as regras proíbem fumar na Piazza, sou obrigada a conter esse péssimo hábito até voltar para o quarto de hotel. Parar de fumar está na minha lista de metas há uns dois anos, porém, eu nunca tentei de fato parar.

Sou péssima com essas coisas.

Estou na rua desde cedo (lê-se hora do almoço) e, depois de desfrutar de uma maravilhosa refeição tipicamente veneziana, aproveitei para visitar os pontos mais importantes da praça, como a Basílica de São Marcos, o Museu Correr e a Torre dell'Orologio. Todos excepcionalmente deslumbrantes e repletos de memórias.

Parei na cafeteria depois do tour e aqui me encontro há quase quarenta minutos com a sua segunda xícara. Apesar de ter tirado essa viagem também para descansar das semanas exaustivas em que me dediquei totalmente ao manuscrito da última história, aquela típica e conhecida coceirinha na mão que me leva a rascunhar deu as caras e por isso o caderno repousa em meu colo. Eu o mantenho sobre as pernas, bem como a caneta na mão, embora não tenha usado nem um dos dois desde que os tirei da bolsa.

Tudo bem. Não será a primeira e nem seria a última vez que isso acontece.

Mesmo sem pretensões, continuo observando as pessoas. Gosto de imaginar que cada uma delas tem sua história e os seus sonhos.

Todos são iguais no final das contas

Meus olhos recaem num grupo de turistas posando para uma foto. Dou risada ao notar um dos rapazes fazer "chifrinho" em outro. Algo tão batido, mas que se tornou um clássico; em seguida, é uma dupla de senhoras que entra no meu campo de visão. As duas parecem brigar com o celular enquanto apontam de um lado para o outro, com pontos de interrogação desenhados em seus rostos. Perdidas é pouco para descrever o que essas mulheres verdadeiramente estão.

À TRÊS ᵇᵉᵃᵘʳʳᵉᵃⁿʸWhere stories live. Discover now