Lobos à espreita

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O céu estava fazendo uma bonita mistura de azul e roxo além do horizonte, no meu relógio de pulso mostrava que estava perto do amanhecer e a festa finalmente não tardaria a terminar. Algumas pessoas estavam indo embora em seus carros, outras apenas seguiam em diferentes direções de trilhas, todas embriagadas.

Randolf está sentado em um banco próximo à entrada da casa com um copo vermelho em mãos e conversa calmo com um outro cara que nunca vi em Weresville. Algumas vezes ele deixa os seus olhos vagarem até os meus e sinto o questionamento rolar em sua mente; por que eu estava encarando?

Ele não parecia pronto para ir embora, Nali e Grower se enfiaram dentro do carro e pela janela embaçada e parcialmente coberta de neve vejo os dois dormindo.

Quando retornamos para a festa, um cara que estava bebendo com Grower se aproximou e tentou puxar assunto comigo, entretanto, alguma coisa ou alguém o fez se afastar minutos depois, ele pareceu de repente muito consciente e arrependido de ter falado comigo.

Bufei frustrada me colocando de pé, estive sentada em um dos balanços na varanda com minhas mãos enterradas profundamente dentro dos bolsos do meu casaco observando todos se divertindo e bebendo, Randolf não falou mais do que três palavras comigo, apenas pediu que aguardasse e assim o fiz. Decido que é hora de ir embora e se ele não estava pronto para nos levar, eu seria aquela retornar para casa com aqueles dois bêbados fedendo a cerveja barata.

Quando passo por ele e desci os poucos degraus da escadinha, sinto o meu braço ser segurado e ao me virar encaro os escuros e intensos olhos dele. Sua boca está em uma linha reta e a fina cicatriz parece ainda mais agora na fraca luz do dia.

– O que pensa que está fazendo? – Sua voz soa cortante, como se estivesse repreendendo uma criança.

Eu sou uma criança para ele? Jovem demais, foi o que ele disse na trilha.

O seu amigo se levanta, parando em suas costas. Sua atenção totalmente voltada em Randolf e a sua mão em meu braço.

– Eu pensei em levá-los para casa... – Assumo me sentindo intimidada.

– Humpf! – Ele zomba, revirando os olhos.

O cara atrás dele faz o mesmo, mas parece controlar o riso.

O que está acontecendo?

– Deixei claro que vocês iriam para a minha casa, não foi? – Eu me sinto perdida em seus olhos negros, o questionamento rolando em minha mente, mas a resposta não sai pela minha boca. Como se e não fosse capaz de dizer ou sequer questiona-lo. Como ele faz isso?

– Acho melhor levá-la embora, amigo. – O cara em suas costas parece ter ouvido a voz da razão. Ele tem dois tapinhas no ombro de Randolf e meu braço é liberto quase imediatamente. Meu pé afundou na neve.

O frio parece ainda mais nocivo e eu só quero cobertas quentes e poder dormir o sono que foi privado.

Abraço meu corpo tentando aquecer-me de alguma forma, desviando meus olhos dele na tentativa de disfarçar o desconforto. O carro que Grower e Nali estão dormindo bastante convidativo neste momento.

– Venha, vou levá-la para casa. – Sua voz me chama a atenção e quando retorno meus olhos para ele vejo sua jaqueta ser oferecida. Eu tenho um breve sorriso de agradecimento, não considerando merda nenhuma sobre o seu gesto, eu só quero me aquecer e poder descansar um pouco.

– Está bastante frio, você não está sentindo? – Pergunto, me chutando mentalmente sobre ele cair em si e querer a jaqueta de volta. De repente, sou inundada com o seu perfume amadeirado e o calor da sua jaqueta e só quero afundar e afundar em seu cheiro. Não quero devolvê-la nunca mais.

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