Almost secret

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(Gerard)

Eu estava pronto para descarregar todo o meu ódio descomunal e frustração, a qual trago comigo há tempos, toda em cima de Frank, quando ele me calou com um selar de lábios inesperado. Ali tudo pareceu estranhamente pausar, minha raiva havia dado espaço à algo que eu não soube definir por ora. Talvez eu estivesse canhestro, ou quem sabe incrédulo, tanto a ponto de nem saber o que eu senti ao que seus lábios mornos pressionaram-se nos meus, fazendo esvair-se de minha cabeça toda a linha de raciocínio.

Frank desarrimou o lábio do meu, quebrando aquele longo selar, então acabando por se afastar minimamente, embora ainda se mantivesse de frente para mim todo o tempo. O local foi preenchido somente pelo som da chuva caindo, rebatendo agressivamente contra o telhado e nada mais que isso era audível. Nem mesmo a sua respiração forte, como geralmente era.

– Por quê? – Indaguei após quase um minuto inteiro ausente de conversas.

– Você disse com convicção o quanto era feio e por isso ninguém quis beijar você. Bem, eu quis, porque você não é nem de longe o que diz ser.

E outra ausência de conversa se instalou entre nós. Um outro som se fez presente para mim, em particular. Era como se eu pudesse escutar o meu sangue correndo pelas veias, cada mínimo fragmento celular, me fazendo sentir vivo outra vez. Pela primeira vez em anos alguém me beijou. Aquela sensação de frio na barriga, de adrenalina, eu havia sentido outra vez e gostei. Eu gostei realmente.

Rapidamente, estirei as mãos na frente do corpo, sentindo algo que julguei ser o ombro de Frank. Eu me aproximei tão rápido quanto pude processar, sentindo em questão de segundos a sua respiração abafadiça se chocar ardente contra a ponta do meu nariz. Com os dedos, passeei por toda a face de Frank, me lembrando do momento exato em que tateei todas as suas feições. Senti em minha digital a sua grossa camada de cílios, em seguida o osso de seu nariz perfeitamente esculpido, logo alcançando a sua boca úmida com o polegar. Ao localiza-la, tratei de unir os seus lábios aos meus novamente, buscando mais da amostra que Frank me deu. Uma adrenalina tão grande corria pelas minhas veias que eu sequer tive tempo de pensar na frustração caso ele recuasse. Felizmente, não aconteceu.

Frank imediatamente abriu os lábios para que eu pudesse ter melhor acesso. Suas mãos voaram impulsivamente até minha cintura, apertando-me com gentileza. Ele quem tomou atitude de pedir passagem com a língua, e eu rapidamente cedi, sentindo-lhe entrar quente em minha boca. No começo soou estranho abrigar outra língua em minha boca depois de tanto tempo, mas logo a sensação foi se tornando melhor do que esperei. Frank tinha um gosto mesclado de cigarros e álcool, o que estranhamente me agradou. Quando seus dentes roçaram levemente o meu lábio inferior, minhas mãos pousaram nas laterais do seu rosto, o segurando delicadamente enquanto tratava de seguir com maestria aquele beijo agradável e tão caloroso que por um segundo esqueci estarmos completamente molhados de chuva. Estávamos uma bagunça, uma bagunça completamente ignorável por ora.

Frank resmungou manhoso quando desci uma das mãos traçando a extensão do seu pescoço e roçando a unha propositalmente no local macio, e eu o senti arrepiar sob meu toque.

Eu não pretendia parar, mas inesperadamente, Frank quem quebrou o contato, fazendo com que nossos lábios emitissem um estalo oco, úmido e bastante alto. Ele arfou quente contra minha boca e então tomou ar suficiente antes de iniciar uma fala incoerente, limpando violentamente a garganta, tentando reformular em seguida.

– Você precisa de um banho quente. – Disse ele, com a voz dificultada, pausando para coletar um pouco mais de ar, devolvendo oxigênio ao pulmão necessitado. – Não pode ficar doente, sua mãe me mata se isso acontecer.

E eu apenas assenti, tão rápido que por um segundo tive a certeza de que meu pescoço estralou violentamente ao mesmo tempo em que um trovão surgiu. Um enorme fluxo de sangue se aglomerou fervente em minhas bochechas, e então eu rapidamente baixei a cabeça fingindo fitar algo no chão, esquecendo-me por um segundo que essa tática não funcionava comigo por motivos bastante óbvios.

Behind Your EyesWhere stories live. Discover now