02 Capítulo

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ACORDO COM O toque insistente do meu celular. Sem abrir os olhos, tateio a cama á procura do maldito aparelho.
Quando o acho, atendo e não me dou ao trabalho de olhar no visor para ver quem é.
— Alô? — Minha voz sai rouca por conta do sono.
— Valentina? GRAÇAS A DEUS VOCÊ ESTÁ VIVA! — Babi berra do outro lado da linha.
— Hmm... Porque esse auê todo? — pergunto irritada. Odeio ser acordada dessa maneira.
— VALENTINA, EU TE DOU DEZ MINUTOS PARA TOMAR BANHO E SE TROCAR PARA A REUNIÃO COM NOSSOS COLABORADORES — berra mais uma vez minha amiga e sócia.
Depois de alguns segundos minha alma decide retornar para o corpo e minha mente processa tudo o que acabou de ouvir.
— VALENTINA MILLER! — Bárbara quase explode meus tímpanos com seus gritos histéricos. 
Cacete!
Após me assustar e quase me fazer cair da cama, tive que ser mais rápida que o Flash, me soltando dos lençóis embolados nas pernas e me arrumar para seguir para a empresa.
Algumas horas mais tarde, e depois de passar por uma reunião chata e com enxaqueca, sigo para meu refúgio dos últimos dias. Meu solitário e sombrio quarto...
Desde que descobri sobre a traição e tudo o que Dylan pensava sobre mim, comecei a maratonar filmes na Netflix e me acabar em potes de Nutella com morango.
Ele até tentou me ligar, mas eu ainda tinha um pouco de dignidade, e se ele achava que só por não ter a vizinha gostosa disponível eu iria correr atrás dele, estava completamente enganado. Babaca!
De repente a porta do meu quarto se abre em um rompante.
— O que você tem? Está doente? — Brad pergunta, colocando seus dedos gelados na minha testa e analisando a cor dos meus olhos.
Afasto suas mãos com um tapa, revirando os olhos.
— Pela milésima vez, estou bem! — respondo, impedindo suas mãos novamente de me analisarem.
— Não parece — diz. — Você não sai mais do quarto a não ser para trabalhar, e vive se entupindo de besteiras. — Ele me analisa dos pés à cabeça. — Parece que nem banho está tomando.
— Claro que estou! — bufo, irritada.
— Olha esse cabelo! Um pássaro fez um ninho aqui por acaso? — questiona, franzindo o cenho com algumas mechas do meu cabelo entre seus dedos.
Reviro os olhos e cruzo os braços.
— Bradley, agradeço sua preocupação, mas como disse, eu estou ótima! — Pronuncio a palavra “ótima” com ênfase. — Só para deixar claro, tomo banho todos os dias! Agora me deixa em paz, tá legal — digo irritada empurrando meu irmão porta afora.
— Baixinha... — diz com um tom medido e a expressão suave. — Estou preocupado com você. Ultimamente só tenho te visto triste pelos cantos, não sorri mais como antes. Você é minha irmãzinha! Não gosto de te ver assim, isso acaba comigo. Você sabe que pode se abrir sempre que quiser, eu sou seu irmão e acima de tudo seu amigo. Vou estar aqui para você a qualquer hora.
Com os olhos marejados, abraço meu irmão, me sentindo uma idiota por mentir para ele por tanto tempo por uma pessoa que não é digna de nada.
Brad beija o topo da minha cabeça e diz:
— Conte comigo sempre, baixinha. Eu te amo muito. Sabe disso, não sabe? — Balanço a cabeça, enterrando o rosto em seu peito.
— Também te amo grandão! Obrigado por sempre cuidar de mim mesmo quando não mereço. — sussurro baixo, mas o suficiente para ele entender.
— Que cena linda gente! Sério....Bradley merece até o troféu de melhor ator — Babi diz entrando no quarto e não perdendo tempo em alfinetar Brad.
Até hoje não sei o motivo do término dos dois, mas sei que há muitas coisas não resolvidas entre eles. Está na cara que ainda se amam, só não querem admitir. Enquanto isso, ambos vivem como cão e gato.
Brad se afasta, dando um último beijo em minha bochecha.
— Se precisar de mim é só ligar, ok? — diz e olha na direção da ex. — Boa tarde, gata! Simpática como sempre. — Sai piscando, divertido, esbarrando em Babi de propósito.
— E você está insuportável como sempre! E não me chame de gata, seu ridículo... Não sou aquelas que está acostumado a pegar — resmunga e Brad sorri, só para deixá-la ainda mais irritada.
Ele sabe que Bárbara odeia ser chamada de gata e faz de propósito.
— Diz isso, mas bem que adoraria estar no lugar delas, não é Bárbara? Confessa, vai  — diz malicioso por cima do ombro.
— Seu idiota! Vai sonhando… — ela berra e tenta acertá- lo com sua bota. Brad é mais rápido, correndo e se trancando no quarto.
Olho para a minha amiga ofegante, vermelha de raiva.
— Vocês dois são hilários! Quero saber quando vão parar de se implicarem e se acertarem de vez — falo enquanto faço ela me seguir de volta ao meu quarto.
— Nunca! — fala com raiva. — Só de olhar para a cara de pau do seu irmão, me dá urticária — resmunga, se sentando na beirada da cama, passando as mãos pelos braços como se estivesse mesmo com coceira.
— Sei... — Bárbara não me engana.
— Vamos mudar de assunto? Quero saber porque anda estranha. E não adianta me enrolar, pois te conheço muito bem, ruiva. Anda, fala!
Me deito na cama frustrada, esfregando o rosto com as mãos. Babi é minha melhor amiga, e apesar de saber que ela dirá a famosa frase "eu avisei", decido me abrir.
Conto tudo para ela nos mínimos detalhes.
— Filho da puta! — diz socando a cama.
Ela olha para mim, arqueando as sobrancelhas bem desenhadas. Reviro os olhos.
— Pode dizer que "eu avisei" porque eu mereço mesmo. — resmungo para ela.
Babi se ajeita sobre a cama e me olha com pena. Odeio que me olhem assim. Prefiro o ódio do que a pena.
— Não me olhe assim — peço.
— Assim como?— pergunta confusa.
— Com pena! — respondo me sentando enquanto abraço meus joelhos.
— Para! A Autopiedade não combina com você, Tina. Eu sou sua amiga, não estou aqui para te julgar, apesar que eu te avisei...
Lanço a ela um olhar mortal e vejo que sorri levantando as mãos para cima.
— Desculpa! Mas quer saber? Graças a Deus você se livrou daquele doutorzinho de merda. Você merece coisa bem melhor do que um cara que tem o ego maior que o pinto — Babi diz e caímos na gargalhada.
Meu celular começa a tocar. 
Falando no diabo...
Babi encara a tela do celular com sangue nos olhos. Tento pegá-lo, porém ela é mais rápida e alcança primeiro.
— Alô? — diz com um tom de falsa calma que dá até medo. Sei por experiência que ela não está nem um pouco tranquila. — Faz um favor pra Tina, seu babaca, não liga mais. Esquece que ela existe, ok? Ela merece alguém melhor do que você, seu brocha! Passar bem! — fala e desliga com um sorriso vitorioso no rosto.
Olho para Babi, me segurando para não cair na risada.
— Vamos embora. Conhecendo bem aquele verme, não dou dez minutos para ele vir atrás de você.
Babi tem razão. Dylan sabe ser insistente quando quer. E ao julgar por suas inúmeras ligações, tenho certeza de que seria capaz de me importunar aqui em casa.
Arrumo uma bolsa com algumas peças de roupa e minha necessaire, a entulhando com alguns produtos de beleza e minha escova de dentes. Antes de sair, deixo um bilhete para Brad explicando que irei dormir na casa de Babi. 
Ele não gosta muito da nossa aproximação, apesar dela ser sua ex, e diz que Babi me influencia a fazer besteiras. Não dou ouvidos, nada me faria abandonar a amizade de anos que tenho com ela, nem mesmo a implicância do meu irmão.
Como Babi já tinha planos de sair, acabou que ela me convenceu a ir junto. Me animei. Estava cansada de ficar em casa me deprimindo e engordando por conta daquele cafajeste.
Minha amiga fez questão de me arrumar, garantindo que hoje eu esqueceria Dylan de vez. Assim espero. 
Não quero idealizar um romance perfeito com um cara perfeito, afinal sei que ambos não existem, mas estou disposta a me aventurar e aproveitar o que a vida tem a oferecer.
Sentada no bar a quase uma hora, percebo que na teoria é super fácil... É só sair, beber, dançar, beijar na boca do primeiro que aparecer. 
No entanto, na prática estou encostada me deliciando com um Cosmopolitan. 
Feito com uma combinação de vodka, cointreau, limão e suco de cranberry, Ava, a barwoman do lugar, disse que esse drink ficou famoso por ser o preferido de Carrie Bradshaw, personagem da Sarah Jessica Parker, no seriado Sex And The City. Realmente faz jus à fama. Apesar de ser forte, tem um sabor cítrico, doce e refrescante. E aquela era minha terceira taça.
Observo a pista do meio, repleta de pessoas suadas, enérgicas, balançando conforme a batida da música. Um DJ comanda a multidão ao delírio. Entre centenas de corpos dançando, avisto Babi agarrada com um moreno. Seu corpo colado ao dele, a boca a centímetros de se tocar... Até que boom! A magia acontece.
Fico feliz por pelo menos ela estar se divertindo de verdade.
— Onde está nosso barman tatuado, Ava? — Me viro em direção a voz e vejo uma loira inclinada sobre o balcão.
— Está trabalhando, gata — diz ela e pisca para a loira, que faz biquinho. — Mas, para sua alegria, ele se encontra aqui na boate mesmo. Hoje tem show dos garotos e do Jack.
Vejo os olhos da loira brilharem e um sorriso malicioso surgir em seus lábios.
— Bom, não sei o que vocês veem nele, mas sei que posso satisfazê-las melhor do que qualquer cara metido à besta — diz e pisca para loira e em seguida para mim.
Direta e ousada.
— Cuidado com ela gata! Essa aí é mais cafajeste que o próprio Jackson. — A loira fala e sorri com carinho e malícia. 
Olho para as duas totalmente sem graça, dando um sorriso discreto.
— Estou indo, e juízo Ava... Ou hoje Bela lhe fará dormir no sofá.
— Não se preocupe, Noeli — Ergue uma sobrancelha. — Eu sei me cuidar! — diz com um olhar malicioso, servindo alguns clientes que observam tudo com sorrisinhos salientes no rosto.
Resolvo circular pela boate. Observo cada detalhe maravilhada. Presa no relacionamento com Dylan, não aproveitei a vida noturna em Nova York.
 A Red Hot era recém inaugurada. Sua decoração moderna estava ligada ao tecnológico e ao rústico ao mesmo tempo, e isso foi o que mais me chamou atenção. 
Ampla, e com várias pistas de dança, havia três bares, cada um com sua própria área vip. Seu aspecto sensual e sombrio me deixava tentada a fazer um tour e descobrir o que ela tinha mais a oferecer.
No segundo andar, a movimentação intensa de mulheres entrando em uma enorme porta de cor escarlate me despertou uma certa curiosidade.
À frente dela, dois seguranças me olham dos pés à cabeça e com sorrisos no rosto me cedem à passagem.
O ambiente é meia luz. Pelo pouco que consigo enxergar, há algumas cadeiras acolchoadas perto de um enorme palco oval, onde se exibe uma longa passarela que vai até o centro.
Tudo aqui exala pecado. A decoração em tons de vermelho e preto despertam desejo e tesão por algo totalmente desconhecido.
De repente, as luzes no centro se acendem revelando seis homens de costas fantasiados. A mulherada começa a ficar ensandecida, assobiando e gritando sem parar.
O suor começa a escorrer em minhas mãos, um nervosismo que não reconheço se apossa do meu corpo. Uma música sensual começa a tocar, e então os homens que estavam de costas se viram nos proporcionando uma visão esplendorosa. 
Tem policial, bombeiro, médico, militar, piloto de avião, cowboy. Fico vidrada em cada movimento corporal. Suas expressões são satisfatórias, as de quem sabe levar uma mulher à loucura.
Um sétimo integrante aparece no meio do palco, como num passe de mágica, iniciando um verdadeiro delírio coletivo. Vestindo somente uma calça preta de couro e uma gravata borboleta da mesma cor, ele expõe seu tronco perfeitamente trabalhado e coberto por inúmeras tatuagens. Sua postura imponente e misteriosa me causa um frisson em lugares que a muito tempo estavam adormecidos.
Iniciando sua coreografia, o desconhecido arranca suspiros e claro, algumas calcinhas de brinde. Procuro me espremer entre o bando de mulheres anestesiadas pelo show dos rapazes, me aproximando mais do palco a fim de contemplar melhor toda aquela virilidade.
Deixo minha mente viajar por cada traço do misterioso tatuado. Uma máscara adorna seu rosto me permitindo apenas visualizar seus olhos azuis, lindos e enérgicos. Seus lábios cheios, volumosos, esbanjam um sorriso avassalador.
Deus! Esse homem é a personificação do pecado, a perdição para o caminho da loucura.
Meu desespero se torna real quando nossos olhares se encontram e me sinto queimar com seu olhar ferozmente penetrante.  
Meu coração bate acelerado, como se quisesse pular para fora do peito. O misterioso mascarado, ainda dançando, me chama com o indicador. Meu corpo paralisa por completo e não consigo mover meus pés do chão. 
Desvio o olhar, pois nem morta passaria por essa vergonha.
Alguns instantes depois sinto uma presença atrás de mim. Meu corpo estremece, como se tivesse levando uma descarga elétrica e ofego com o toque de seus dedos em meu ombro.
Como eu não notei sua aproximação? Será que eu devia fazer alguma coisa?
Suas mãos ásperas e grandes acariciam meus ombros, descendo por meus braços lentamente, deixando um rastro quente por onde passa, parando e descansando em meus quadris. 
Minha respiração está irregular e por um momento esqueço como se respira.
 Não surta Valentina! Respira e expira! 
Suas mãos me apertam, levando meu corpo de encontro ao seu. Estou nervosa e excitada como nunca estive em toda a minha vida, nem quando tive meu primeiro beijo.
A música se torna cada vez mais alta, assim como todos os gritos e burburinhos à nossa volta. Mas não me incomoda, é como se ninguém mais existisse, apenas eu e ele em nossa bolha.
Seu cheiro marcante me deixa fora do ar, minha boca fica seca desejando me afogar naquele mar revolto e misterioso que são seus olhos. Sinto sua respiração quente roçar meu pescoço à medida que afasta meus cabelos e mergulha neles.
Acabo sentindo algo ganhar vida de encontro a minha bunda, e céus! Estou a ponto de explodir de tanto tesão. Esse cara sabe como fazer uma mulher enlouquecer.
Segurando firme em meu corpo ele me faz sentar em uma cadeira, e ainda com nossos olhares conectados um ao outro, começa a dançar sensualmente como se estivesse dando um show particular só para mim.
Droga! Estou tão excitada que posso jurar que ele pode sentir. 
Suas mãos emolduram meu rosto em uma carícia deliciosamente lenta, dando a devida atenção para meus lábios.
Estou a ponto de sucumbir ao desejo que ele está provocando em meu corpo, quando, não achando ser o suficiente me torturar com suas mãos maravilhosas, ele se senta em meu colo, rebolando, simulando um ato totalmente sexual, selvagem, e cru.
O ambiente fica ainda mais quente e fervoroso. Minhas bochechas vermelhas não estão ruborizadas só por conta da excitação que estou sentindo, mas pela vergonha de estar assim com um total estranho.
Suas mãos mergulham em meus cabelos, arrancando alguns gemidos de prazer e surpresa. Se aproximando mais do meu rosto, ele faz com que eu deseje ser tragada por seus lábios. 
E é o que acontece, sou consumida por um beijo de tirar o fôlego.
Seus lábios são perfeitos.
Nossas línguas começam em um ritmo sensual, envolvente, selvagem. O prazer exalando por nossos poros. Puxo seu lábio inferior o fazendo gemer. Suas mãos másculas fazem uma trilha em meu corpo, o deixando cada vez mais quente. 
Envolvendo meus braços em volta do seu pescoço, pressiono meu corpo ainda mais no seu. Seus lábios  são cada vez mais urgentes e intensos à medida em que nos beijamos. 
Estamos em chamas e nem nos damos conta de toda a platéia que nos assiste. Até que quebro nosso contato e me afasto impressionada.
Ainda ofegante fecho os olhos me apoiando em seu peito deliciosamente duro. Não tenho coragem de olhar para aquele par de olhos azuis, profundos e hipnotizantes.
Deus! Eu beijei o "Estranho Tatuado" só posso estar louca! 
— Ruiva, você é sinônimo de luxúria e pecado. É quente como o próprio inferno. — sussurra ofegante na minha orelha. Sua voz grave me leva mais perto da loucura. Ele apenas sorri, provavelmente percebendo como eu me arrepiei com suas palavras.
Os gritos cada vez mais altos quebram de vez nosso contato.
Quando se levanta e me estende a mão para me ajudar, recuso seu toque. Sem conseguir formular nenhuma frase coerente, saio em disparada rumo ao bar da boate sem olhar para trás.
Passo as pontas dos dedos sobre meus lábios inchados desejando por mais.
Devo estar uma verdadeira bagunça. Encontro Ava no balcão e peço uma dose de uísque. Tem que ser algo mais forte para aplacar as chamas que consomem meu corpo.


"Todos os garotos bons vão para o céu. Mas os garotos maus trazem o céu até você".

"Julia Michaels".

Meus anjos, um encontro pra lá de quente não é? Espero que tenham gostado, até o próximo capítulo! Não esqueçam de votar e colocar seu feedback. Bjs de luz🌟😘

LUXÚRIA (Completo na Amazon)Where stories live. Discover now