Desestresse

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O Audi preto estava passando por todos os outros carros com certa rapidez, quase saindo do permitido mas ainda tomando cuidado, sua guia e dona Solar, podia ouvir o bater de asas de mil borboletas em seu estômago; o feio em suas mãos era constante e isso se dava graças aos seus banhos escaldantes em qualquer situação que cientificamente, retirava a sensibilidade daqueles dois membro importantíssimos em seu trabalho, que agora envolviam o volante hidráulico com detalhes em prata brilhante. Quando parou a frente de um semáforo vermelho, assoprou um bafo quente nas pontas dos dedos já que o aquecedor não estava dando conta de toda a sua euforia. Mais parecia uma adolescente em um fim de semana indo ao cinema para encontrar amigos que a mais de anos não via ou que amava e vendo por esse lado não estava muito atrás desta alusão. Terminar a noite daquela forma era como ganhar um pirulito após não chorar enquanto fazia exame de sangue, algo que esperamos por muito tempo.

Deu partida novamente, dessa vez mais calma e com mais calma afinal, não poderia sofrer um acidente no bairro mais movimentado da cidade, poderia parecer irônico, mas odiava acidentes e não queria provocar um nessa altura do campeonato.  Entrou na área cheia de luzes e vida que já conhecia a muito tempo e nunca mudava, sorriu amplamente soltando seus fios pelo frio que lhe passou quando desceu o vidro para se identificar ao manobrista que o fez mesmo que a empresária usasse máscara; desceu do mesmo deixando sua bolsa descansada em seu ombro e então se pós a entrada vip.

Era difícil usá-la, mesmo que não gostasse de aglomerações e de pessoas estranhas esfregando-se em seu corpo como se fosse uma barra de pole dance, gostava de sentar no canto do bar e pedir um drink doce ao barman que trabalhava muito bem para quem aparentava ser um adolescente que fugira de casa. Riu subindo as escadas de emergência até seu andar preferido; tinha certa confiança em estar ali já sem a máscara, confiava na política de sigilo da Fetish como confiava em Wheein, que aliás, tinha lhe ligado algumas vezes desde que saiu da garagem da empresa. Sentia por aquilo, mas tinha certeza que a pequena iria entender quando a contasse sobre hoje como sempre fazia, todas as vezes que a manhã chegava e com ela seu sorriso de satisfação. Excepcionalmente naquela noite, o funcionário que sempre lhe atendia não estava disponível, com isso apenas retirou seu cartão da bolsa e passou no laser que detectou seu cadastro e fez com que a porta se abrisse com que precisasse tocar na maçaneta para faze-lo; entrou e a empurrou minimamente para trás com o pés ouvindo o click que sua liberdade sexual precisava para existir. Ergueu os braços e os esticou segurando-se apenas pelas pontas dos dedos dos pés, ficou daquele modo por alguns segundos até que a preguiça em seu corpo fosse jogada junto a bolsa sobre a frigobar branca.

— Vejamos o que temos aqui... — Sussurrou para si mesma abrindo a porta da mini geladeira que revelou o menu alcoólico do dia:  vinhos franceses. Anuiu com a cabeça pegando a garrafa que estava no fim da prateleira gradeada e a abriu com o saca rolhas que estava ali e quase praguejou quando machucou superficialmente a palma de sua mão, não tinha habilidades em abrir coisas, principalmente garrafas. Despejou o líquido aromático na taça que a esperava também ali dentro, a encheu sem dó. Seus óculos estavam ainda limpos, com isso conseguiu ver cada detalhe do quarto que fazia par com sua cabine trinta e três. Sua preferia por algum motivo que ainda não sabia. — Cheguei atrasada?

Observou o relógio fino em seu pulso que marcavam dez e meia da noite em ponto, nem um segundo a mais ou a menos. Sorriu com sua pontualidade britânica sentando-se em sua poltrona que naquele momento, mais parecia um trono: lhe dava uma visão aérea de tudo o que queria realmente ver, tinha sensação de controle e podia fazer tudo o que pudesse e quisesse com qualquer um que parecesse abaixo de si. Um pouco cruel? Talvez, então deixou que aquele pensamento deixasse sua cabeça imediatamente, embora tivesse um fundo de verdade. Retirou os tênis - odiava dirigir se salto ou algo que não a fizesse ter confiança dirigindo -, esfregou os pés gemendo pela sensação de relaxamento que aquele movimento causou em seus poros cansados; se pós a observar o quarto que insistia em permanecer vazio, com a porta fechada e as luzes de led mudando as cores a cada segundo que se passava, aquilo a fez lembrar da primeira balada underground que foi, a sensação de estar robotizada pela mudança de cores era a mesma. Levou a taça até os lábios já limpos de maquiagem enquanto tamborilava suas unhas bege em sua coxa por enquanto ainda vestida, pensou na possibilidade de estar cometendo um erro estando ali ao em vês de estar em sua cama macia rodeada de travesseiros dormindo, pois sabia da importância de um bom sono para as próximas provas em que seria modelo de sua dupla de criação.

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