CONTINUUM - IV TOMO - I EGITO - 1413 a.C

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O barulho do vento agitando a tenda despertou Khaldun. De início, teve um pequeno sobressalto, pois como comandante do destacamento que acompanhava o Faraó, tinha sobre si a responsabilidade da segurança de todos, principalmente de sua majestade. Aquietou-se ao perceber que fora acordado pela ação do vento, e não por algum ataque inimigo. Passou a mão esquerda sobre a cabeça raspada, limpando o suor, consequência de seu sono agitado. Percebendo que já amanhecia, tratou de colocar suas vestimentas. Agradou-se ao pensar que ser o primeiro a estar a postos no acampamento contaria a seu favor, principalmente sendo esta a primeira campanha militar real que comandava. Era o coroamento de sua carreira, e o indicativo de que poderia agora sonhar em galgar altos postos.

Esfregando os olhos pela noite mal dormida, dirigiu seu olhar para onde repousava seu líder, na esperança de que ele ainda estivesse recolhido. Ao avistar a figura atlética espreguiçando-se ao lado da tenda que distava cinquenta passos da sua, percebeu seu atraso. Tratou de ajeitar os últimos detalhes de sua indumentária e saiu correndo, para tentar minimizar sua falha. Afivelando o cinto no qual balançava sua espada Khopesh, iniciou uma desajeitada corrida na direção de Faraó.

─ Perdão, meu senhor, pela minha negligência, eu...

─ Não se desculpe capitão, pois nem que quisesse você acordaria tão cedo quanto eu. Em tempos de campanha fico agitado. ─ Interrompeu o rei, enquanto o capitão ainda falava e se desdobrava em mesuras.

─ É verdade, meu senhor. Com certeza Amon é quem rege o seu sono e...

─ Deixe de besteiras! A excitação do combate é que me deixa alerta, somente isso. Essa conversa acerca de deuses serve apenas aos de mente fraca, e esse definitivamente não é o meu caso.

─ Como sempre suas palavras estão repletas de sabedoria, meu senhor.

─ Você pode até ser um bom capitão, mas com certeza é o pior bajulador que já tive. ─ Riu-se Akheperure. ─ Venha, quero lhe mostrar algo.

Caminharam cerca de duzentos passos até o topo da pequena elevação que lhes encobria o horizonte. Faraó postou-se estrategicamente atrás de uma pequena rocha, e orientou Khaldun para que fizesse o mesmo, ficando assim ambos ocultos.

─ Lá está, Tikhsi!

─ Quando a avistei ontem à noite, percebi que ela é maior do que eu imaginava, mas me pareceu bem tranquila, meu senhor.

─ Não se deixe enganar, pois estes bastardos estão empenhados em nos destruir. Querem a todo custo tornar sua nação livre.

─ As informações que temos é de que isto não passa de uma insurgência de alguns poucos. Não creio que eles representem um perigo maior, contemporizou o capitão.

─ Desde a morte de meu pai que estes orientais estão sucessivamente atacando nossas fronteiras e testando a minha capacidade de governar. Isso ficou bem claro em minha primeira campanha.

─ Os seus feitos nessas batalhas são cantados em prosa e verso, meu rei. Com certeza eles não imaginavam que um jovem rei estivesse preparado para enfrentar velhos inimigos do Egito, no que obviamente se enganaram.

─ E agora pelo visto, estão dando continuidade àquele pensamento, achando que o conforto do trono me transformou num balofo monarca desprovido de vontade de guerrear.

─ Então deixe-me descer lá com um destacamento e tomar conta deste distrito. ─ Solicitou o capitão.

─ Você é muito jovem e ainda tem muito a aprender acerca das malícias da arte da guerra.

─ Não sou nem ao menos digno de andar atrás de seus passos, meu senhor.

─ Olhe com atenção para Tikhsi e me diga se percebe algo estranho.

ANAKX - A vinda do Destruidor.Donde viven las historias. Descúbrelo ahora