PLANO DE TRAJAMENTO

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Vários dias haviam se passado desde a cerimônia de apresentação dos magos. Núbia seguia a cada dia mais extasiada com a vida no palácio, enquanto Janes ficava mais à vontade, acostumando-se lentamente com a rotina da corte, em tudo diferente a que levava em sua vila. Seus dias eram em muito facilitados pela esfuziante presença de sua esposa que a todos encantava com sua simpatia e leveza de espírito. Mesmo Tiaa, que inicialmente se aborrecera com sua presença, agora percebendo que isso em nada afetava o Faraó, estava lentamente rendendo-se aos encantos da jovem.

À vista de todos, Jambres deleitava-se com os prazeres proporcionados pelo seu novo status de mago do rei. Nem um dia sequer se passava sem que patrocinasse em seus aposentos orgias, regadas a muita comida e bebida. O número de mulheres à sua disposição teve de ser aumentado, pois seu apetite sexual mostrou-se bem maior do que o informado. O único detalhe que causou estranheza ao vizir foi a recusa dele em receber jovens do sexo masculino em suas orgias, fazendo com que consultasse novamente suas fontes para certificar-se da exatidão das informações que lhe haviam sido passadas. Novamente foi-lhe informado que ele era adepto a orgias, sempre contando com a presença de jovens homens, fortes e bem-dotados fisicamente. Quando comentou a recente disposição demonstrada pelo mago em relação às mulheres, seu informante estranhou o fato. A cada dia que passava, Rekhmiré mostrava-se mais e mais intrigado, determinando que se fizesse uma melhor vigilância sobre ele.

Jambres preocupou-se com a súbita ausência de Bakenptah, a quem já não via a pelo menos três dias. Procurava de alguma forma encontrá-lo sem que para isso fosse preciso perguntar por ele, para não levantar qualquer tipo de suspeita. Por diversas vezes, passou pelo corpo da guarda, sem, no entanto, conseguir avistá-lo. Bendhorzen e Mhalathan haviam criado um rígido padrão de conduta para que não fossem descobertos, pois se isso ocorresse, sem a menor sombra de dúvida a diretoria trataria de eliminá-los, sem dó nem piedade como era característico nesse tipo de situação. Portanto, nenhum tipo de comunicação era utilizado entre os trajes, nem mesmo localizadores, porque estes só poderiam ser ativados quando não estivessem trajando algum humano dessa época. Até mesmo a consciência própria do traje era suprimida para que ele não interferisse em suas ações.

O temor de Jambres cessou ao final do dia, quando retornando da sala dos magos para seus aposentos, passou por um pequeno destacamento militar que era comandado por Bakenptah. Todos apresentavam sinais evidentes de cansaço e estavam bastante desalinhados, com certeza necessitando de um banho e um bom descanso. Quando trocaram olhares ao passarem um pelo outro, Jambres fez um sinal indicando ao capitão que precisava falar-lhe com urgência.

Após poucas horas em seus aposentos, Jambres ordenou a todos os seus serviçais que o deixassem sozinho, pois precisava meditar. Não demorou muito para que Bakenptah adentrasse sorrateiramente na sala onde o mago já o aguardava, desta feita com uma taça de vinho nas mãos.

─ Pelo visto você andou tendo algum trabalho extra meu amigo, provocou Jambres.

─ Essa sua ideia de eu trajar o capitão da guarda está me custando muito caro. Fui designado para fazer um patrulhamento junto a um pequeno grupamento de trabalhadores escravos, onde ocorria um tumulto.

─ Bem, até onde eu o conheço, você gosta muito de uma boa confusão, principalmente se puder matar alguém no meio dela.

─ Não foi o caso. Aqui as normas são bastante rígidas, principalmente em relação a esses escravos. Pelo que percebi, eles trabalham até a exaustão, erguendo monumentos, templos e até mesmo cidades.

─ Cidades? Creio que você está exagerando um pouco...

─ Exagerado é o número deles. Nestes últimos dias estive entre eles, e posso lhe garantir que não são contados às centenas, e sim aos milhares.

ANAKX - A vinda do Destruidor.Onde histórias criam vida. Descubra agora