SANGUE NO NILO

17 7 5
                                    

O frescor da manhã trazia um alento aos habitantes da capital. A temperatura, depois de uma noite fria, mantinha-se agradável até perto das nove horas, quando então o sol iniciava seu castigo sobre a terra, aquecendo sobremaneira a tudo que não estivesse protegido por alguma sombra.

O grupo de serviçais de Faraó chegou cedo ao tanque onde em pouco tempo ele viria se banhar. As águas do Nilo eram frescas e agradáveis pela manhã, e sempre que possível, Amenhotep, acompanhado de parte de sua corte desfrutava desse deleite. Hoje a preocupação de todos era de que tudo estivesse ao agrado do rei, pois era corrente o temor pelo seu mau humor após os episódios passados no palácio. Certamente um único dia não seria suficiente para aplacar a sua ira. Cada detalhe das acomodações fora revisto várias vezes, e mesmo assim, o encarregado mostrava-se um tanto quanto nervoso.

A comitiva real chegou um pouco mais cedo do que de costume, o que obviamente aumentou a agitação entre os serviçais. Contrariando as expectativas, Amenhotep estava radiante de alegria, cercado por três belas jovens, que sem o menor pudor, cobriam-no de carinho. Ao verem a cena, alguns comentavam à boca pequena, que não era sem razão a sua alegria, pois as jovens eram de beleza ímpar, presenteadas pelos deuses com corpos esculturais, devidamente mostrados em roupas que apenas faziam evidenciar seus atrativos físicos.

Por determinação de Rekhmiré, a escolta de soldados havia sido aumentada, e agora Janes, Jambres e Ghamul-Akim ficavam juntos ao rei, diuturnamente. Para não invadirem sua intimidade, os três mantinham-se a uma distância razoável, suficiente para não serem notados a todo instante, mas não longe o bastante para impedir que tudo percebessem e pudessem entrar em ação, caso fosse necessário.

Vestindo seu traje de banho e tendo adentrado alguns passos no Nilo, o suficiente para que a água lhe cobrisse os joelhos, Amenhotep virou-se para onde estavam seus convivas e chamou por seu filho primogênito.

─ Webensenu, venha aqui comigo, vamos nos banhar no rio.

Por detrás de duas pajens etíopes, surgiu o rosto do belo príncipe, ainda tímido em sua puberdade, e não muito acostumado à exposição pública. Permaneceu por alguns instantes parado, olhando fixamente para o Faraó, como que esperando mais um convite.

─ Venha meu filho! ─ Convidou sorridente Amenhotep, estendendo seus braços em direção ao filho.

Webensenu disparou a correr em sua direção, e adentrando no rio, tropeçou e caiu nas águas desajeitadamente. Mal teve tempo de se assustar, pois as mãos firmes de seu pai o resgataram na mesma hora, e depois de certificar-se de que ele estava bem, abraçou-o ternamente, tranquilizando-o.

Por cerca de meia hora brincaram nas águas, desfrutando de raros momentos de intimidade. Em nada lembravam o fato de ser um Faraó e seu príncipe herdeiro, pois agora eram apenas pai e filho, deleitando-se com a presença um do outro. As imagens desse dia ensolarado, e da presença de seu filho, seriam as que Amenhotep guardaria com muitas saudades.

Após as brincadeiras nas águas, e já devidamente trajado, o Faraó e alguns poucos convidados da corte usufruíam de um pequeno banquete, servido à sombra de uma tenda montada ao lado de um conjunto de palmeiras. Percebendo uma pequena aglomeração no portão que dava acesso ao tanque, chamou seu chefe de gabinete, encarregado deste passeio e o inquiriu.

─ O que se passa, Nebenkemet, para causar aquele pequeno tumulto?

─ Apenas um pequeno incidente com mendigos majestade, nada que mereça a sua atenção. ─ Respondeu sem muita convicção seu chefe de comitiva.

─ De quantas pessoas estamos falando?

─ São... são dois mendigos, majestade.

─ Dois mendigos não ocupariam aquela quantidade de meus soldados. Não minta para o seu rei. ─ Admoestou Faraó, levantando-se da cadeira para melhor ver o que se passava.

ANAKX - A vinda do Destruidor.Wo Geschichten leben. Entdecke jetzt