ANAKX - A vinda do Destruidor.

SELIMA

Um grito repentino e estridente de mulher chamou a atenção de todos, fazendo o capitão voltar o seu rosto na direção de onde vinha o clamor. Achou que se tratava de alguma vítima das flechas, mas foi surpreendido por uma visão totalmente incomum, ao menos para ele.

Ao invés de uma aldeã ferida, o que avistou foi uma jovem cercada por cinco soldados egípcios. Ela certamente era síria, cabelos negros amarrados em forma de rabo de cavalo, vestindo um uniforme no qual se destacava um colete negro a lhe proteger o tórax e suas costas. As calças eram masculinas, de couro, também negro, o que lhe conferia um certo ar soturno. Um capacete ralo emoldurava o seu belíssimo rosto, de onde sobressaíam um par de olhos que mais pareciam duas preciosas joias de ametista. Todo seu uniforme era adornado por pequenos adereços dourados, que faziam lembrar filetes de ouro. A composição de sua figura era de beleza ímpar.

A satisfação de observar tão bela imagem terminou no exato momento em que percebeu que ela não estava sendo atacada pelos seus soldados, mas estes sim, teriam de enfrentar a guerreira, que numa velocidade surpreendente avançou em direção a eles. Embalada pela pequena corrida que efetuara, lançou-se ao ar, já perto do primeiro soldado e com extrema agilidade mudou o rumo de seu salto, batendo com um dos pés na parede que estava ao seu lado esquerdo. Esta manobra confundiu o jovem soldado, que num único e certeiro golpe da guerreira síria, teve sua cabeça decepada. O choque por ver uma mulher desferir um golpe tão brutal, que lançou a cabeça longe ao chão e tingiu de sangue quem estava perto, trouxe Khaldun de volta do seu momentâneo torpor.

Os gritos continuavam, e agora percebia-se que eram dados a cada nova manobra de combate que ela empreendia. Parecia funcionar como uma liberação de energia para a perfeita execução de cada um de seus golpes. Antes que o capitão pudesse organizar seus pensamentos, mais dois de seus homens foram ceifados à espada.

A essa altura já se havia formado um grande círculo ao redor dela e dos dois soldados que restavam. Os sírios agora entoavam silabicamente e em alto som o nome de sua campeã.

─ Se-li-ma! ─ Era o brado de guerra cadenciado e repetitivo que a incentivava em sua luta.

Até mesmo Khaldun percebeu que os dois soldados que restavam à frente da mulher não eram páreo para ela. Enquanto de seu rosto emanava confiança e fúria, o semblante dos dois denunciava o medo que tomara conta de seus corações.

Após alguns poucos instantes de estudo, Selima partiu ao encontro de seus inimigos, mirando sua espada no soldado de maior envergadura. O tolo desviou-se de forma desleixada do golpe, deixando seu flanco esquerdo desguarnecido. Nem havia percebido que nas pulseiras de couro que ela trazia atadas aos punhos estavam guardados dois punhais, e no movimento que fez, literalmente ofereceu seu peito desprotegido para algum golpe de sua adversária. Soltando a pesada espada ao chão, a guerreira empunhou os dois punhais e com rapidez e destreza impecáveis, cravou ambos no peito do soldado, e um deles certamente rasgou seu coração, fazendo-o desabar ao chão, já sem vida.

Os sírios urravam a pleno pulmões, extasiados com o espetáculo oferecido por sua compatriota.

Tomando novamente a espada em suas mãos, Selima agora caminhava resoluta na direção do último dos cinco. Este, percebeu Khaldun, era não mais do que um garoto, na plenitude de seus quinze ou dezesseis anos. Jovens nessa idade eram relativamente comuns no exército, onde desempenhavam funções coadjuvantes com o intuito de prepará-los para serem futuros guerreiros. Via de regra, não entravam em combate. Mas este certamente não seria o caso agora.

Com o semblante crispado de horror diante da morte que se aproximava dele personificada pela guerreira, o garoto já havia abandonado suas esperanças, pois seus braços pendiam ao lado do corpo, tendo até mesmo soltado sua espada, que jazia quedada ao seu lado. Por entre suas pernas escorria o fruto de sua incontinência que banhava seus pés trêmulos.