O Bolo de aniversario

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Olho para tv que está desligada por causa da dor de cabeça do papai, mamãe fala que não podemos o deixar bravo. Sinto minha bunda doer de tanto ficar sentada ao lado do sofá, seguro firmemente a leve boneca de pano que a mamãe fez pra mim, ela sempre consegue me fazer sentir segura.

- Menina, vem aqui. - Meu pai me chama. Olho para ele que está basicamente jogado no sofá com sua garrafa de cerveja.

- Estou indo pai. - Obedeço levantando do chão indo em seu rumo, me ajoelho em frente ao sofá aonde ele se encontra. Meu pai é um homem muito tradicional.

- Como estão a suas notas? - Me questiona como sempre fazia, isso era uma prova de que ele se importava comigo.

- A professora Debora falou que minhas notas subiram para 9,4, não é um máximo, pai? - Rebato animada pela minha nota, Debora é minha professora particular, já faz uns 10 anos que ela me ensina em casa, nunca fui em uma escola normal.

- Na próxima, eu quero 100%. - Avisa me olhando nos olhos e concordo com a cabeça desviando o olhar para o chão, pois só três pessoas me olhavam nos olhos, minha mãe, meu pai e a minha professora. Sempre tive uma certa dificuldade com o contanto visual, minha mãe fala que é porque eu tenho medo da população. - Mas você melhorou bastante! - Adicionou fazendo eu o olhar feliz, eu sabia que estudar tudo aquilo ia valer a pena.

- Obrigada, pai. - Agradeço o elogio com um grande e largo sorriso no rosto, meu pai está orgulhoso de mim, ele não precisa falar porque eu sinto em seu caloroso olhar.

Meu pai era alto e sério, raramente ele dava um simples sorriso, então qualquer gesto de carinho era muito, meus olhos eram iguais aos seus, um verde escuro, uma das várias coisas que eu puxei dele. Eu era a sua cópia.

- O jantar está pronto! - Anuncia minha mãe entrando na sala passando a mão em seu cabelo castanho escuro levemente enrolado nas pontas, a única coisa que herdei dela.

Me levanto para ajudar a minha mãe colocar a mesa que não recusa a ajuda. Sento em meu lugar esperando minha mãe servir, ela odiava quando meu pai ou eu colocava comida, sempre colocávamos mais do que iríamos comer ou menos, e ela colocava a quantidade ideal.

Hoje minha mãe tinha feito minha comida preferida, Contra Filé à Parmegiana com batata frita! Minha mãe era a melhor! Olho para o prato pronto à minha frente, só por sentir o cheiro que era maravilhoso, escuto o barulho de meu pai sentando ao lado, mas nem dei muita importância, pego meus talheres e começo a tentar cortar a carne, o que era tão difícil.

- Pai, pode cortar pra mim, por favor? - Pedi, empurrando meu prato em sua direção que pegou já acostumado com esse meu mimo, sorrio vendo-o cortar em vários pedaços saborosos.

- Milena, você tem que começar a aprender a fazer as coisas sozinha, daqui a pouco você vai morar sozinha. - Levo uma puxada de orelha de minha mãe que odiava quando meu pai me mimava.

- Deixa a menina, não é nada demais - Meu pai me defende me entregando meu prato que agora se encontra mais fácil de comer.

Não me apresentei ainda. Meu nome é Milena Olis Venture, estou fazendo 17 anos hoje, eu odiava os dias do meu aniversario, era justo no carnaval, sempre era uma bagunça na rua e meu pai não deixava a gente sair para comer fora, tenho 1,55 de altura e, como já falei, meu olhos são verdes escuro e meu cabelo é um castanho enrolado nas pontas.

- Está bom, querida? - Questiona minha mãe querendo receber elogios.

- Está uma delícia, mamãe - Elogiei sorrindo como um sinal positivo, minha mãe por sinal estava orgulhosa de si mesmo, nem parecia que tinha me ouvido totalmente.

Terminamos de comer conversando sobre a faculdade que eu queria fazer, sempre quis fazer administração, era um trabalho tão calmo ou era isso ou trabalhar na biblioteca da minha mãe e eu não reclamaria, eu amo aquela biblioteca.

- Ah não, eu esqueci o bolo na biblioteca - Ouço minha mãe lamentar, levando as mãos até a cabeça

- Não preciso de bolo não. - Assegurei abaixando a cabeça para olhar pra minhas mãos que estavam no meu colo, eu fiquei decepcionada mais não ia transmitir isso.

- Bobagem, eu vou buscar esse bolo. - Assegurou levantando da mesa.

- Sério, posso ir com o senhor? - Me ofereci para ir animada, meu pai simplesmente concordou com a cabeça, pulo da cadeira indo pegar meus sapatos.

- Não demorem, vou estar esperando por vocês. - Avisou minha mãe enquanto passava a mão em meu cabelo que estava preso.

- Está bom, querida, voltamos logo. - Afirmou meu pai, pegando na minha mão para saímos na rua.

Acenamos para mamãe de longe que estava nos olhando na porta, a rua estava uma bagunça, passava jovens bêbados e animados do nosso lado. Caminhamos até a biblioteca que não era longe de casa, uns 20 minutos, meu pai abriu a loja e pegou a caixa que estava embalada com uma embalagem cor de rosa encima do balcão, era tão bonito, meu pai fechou a loja enquanto eu insistia para ele deixar eu ver o bolo que estava escondido na caixa.

- Papai, só vou dar uma olhadinha, por favor. - Atormentei juntando minhas mãos.

- Não vou repetir, vamos abrir em ca... - Meu pai foi interrupto por um grupo de 3 jovens que esbarraram nele, me coloquei atrás de meu pai sentindo o cheiro do álcool entrando pelas minhas narinas

Estremeço, me arrependendo de ter saído de casa.

Anjo Bastardo Where stories live. Discover now