Capítulo 10 - Demolition Lovers

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Conhecia agora o caminho da casa de Gerard como a palma da minha mão. Aliás, da nossa casa. Eu mal tinha entrado ali e já sabia que logo teríamos que sair em turnê com a banda, morando com Gerard de novo naquele jeito que a gente conhecia tão bem - dividindo horas do nosso dia com a nossa família disfuncional. A lembrança de um jovem Mikey nervoso com a gente por estarmos fazendo muito barulho à noite no ônibus me aquecendo o coração.

Contrariando as leis de trânsito, liguei para Gerard enquanto dirigia. Apesar de me dar as chaves de casa, ele não tinha me dado o controle da garagem - que era quase como me trancar para fora, insuportável.

"Alô?" Ele atendeu.

"Você abre pra mim? To virando a esquina," falei rápido, me despedindo com mais rapidez ainda.

O grande portão se abriu, revelando um Gerard que sorria para mim tão feliz que parecia não caber em si. Apesar de já ser quase meio dia, ainda usava sua calça xadrez azul de pijama, uma camiseta velha do Iron Maiden e um robe cinza por cima. Ele estava exatamente como eu o deixei há quatro horas atrás, quando saí para buscar minhas coisas na minha casa. Ou melhor, na minha antiga casa. Muitas vezes ele sentava na frente do computador para escrever e era completamente absorvido por aquilo, perdia a noção do tempo. Com certeza isso tinha acontecido. Ele gesticulou para que eu parasse logo após passar do portão e veio em direção ao carro.

"O que foi?" Questionei. Ele apoiou as duas mãos no meu vidro que agora estava abaixado.

"Pedágio," disse em um tom divertido, inclinando sua cabeça para dentro do carro para unir nossos lábios. Muito rápido ele invadiu minha boca com sua língua, buscando pela minha. Ri pelo beijo roubado que retribuía. Ele se afastou, não antes sem me dar um selinho. "Okay, pode seguir."

Deixei meu carro ao lado do seu - trazia a primeira remessa de coisas que faziam meu SUV parecer um smart. Nem todo o porta-malas, nem os bancos foram espaço suficiente. Gerard me chama de acumulador, mas sou apenas uma pessoa que gosta de guardar itens que me remetam a momentos especiais. Quem tinha o uniforme da Black Parade? Eu, ele já tinha aberto mão há tempos.

Desci do carro para ser recepcionado com um abraço por ele, segurando em seguida meu rosto com suas duas mãos - como se fosse me engolir, ou morder. "Eu não acredito que você tá aqui," dizia em uma empolgação incomum demais para ele. Mas eu estava também, e estava feliz.

No entanto, não conseguia evitar o receio de ser só mais um trampolim para ele, de certa forma. Gerard tendia a curar vazios com relacionamentos, pulando de pessoa em pessoa, uma para tapar o buraco da outra. Parecia que ele nunca conseguia ficar sozinho, precisava sempre de alguém para ser sua muleta emocional, sempre alguém para tapar o buraco. Meu medo é que eu estivesse sendo essa pessoa novamente. Sempre acreditei que a gente precisa de tempo para processar as coisas e que, na situação dele, não teria saído correndo para os braços do meu melhor amigo/amante. Talvez eu tirasse um tempo para mim para entender as coisas... Ou não, porque olha só onde estou.

Apertei-o contra mim, como se todo e qualquer toque pudesse fazer com que nossa existência se mesclasse. Eu sentia um pouco isso com ele, como quando você abre a boca embaixo da água e se sente parte da água, como quando você anda descalço na grama e sente a textura da terra como seus próprios pés.

"Muito linda a sua recepção, mas a gente tem um carro para esvaziar," eu disse depois de selar seus lábios com os meus mais uma vez. Ele riu e se afastou para olhar.

"Talvez eu devesse ter me trocado," ele falou.

"Com certeza!"

"Tem mais coisa, Frankie?" Mordi meus lábios porque ele mesmo sabia a resposta para aquela pergunta. "É claro, né? Porque eu pergunto?"

Boxes [FRERARD]Onde histórias criam vida. Descubra agora