XLIII

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Sonhar é uma dádiva conferida a poucos, ao longo da vida é possível ter inúmeros sonhos, desejar ser muitas coisas e almejá-las pois existe uma liberdade para tal, exceto quando se chega aquele lugar: O harém, um lugar onde os sonhos poderiam se realizar, chamado por muitos de "A Terra dos Contos de Fadas", pois uma simples escrava poderia tornar-se uma sultana, mas uma coisa não era fala, o mundo além daquelas paredes não conhecia a verdade de toda a sujeira que se ocultava por baixo de cada vestido bonito e de tantas risada femininas. Nem todas desejavam estar ali.

ⵧ̷̇࣪── Vamos, segurem as pernas dela. ── uma kalfa ordenou, e as outras serventes do harém seguraram a jovem selvagem, que se recusava a permitir que lhe tocassem.

Ela amaldiçoava a todos em sua língua de origem, recusando-se a deixar que lhe expusessem daquela forma, mas de nada adiantaria, todas aquelas que eram trazidas ao harém deveria, ser revisadas. Somente moças puras poderiam entrar e permanecer ali. As leis do harém não poderiam ser burladas por ninguém. A kalfa não foi nenhum pouco gentil com seu toque na região intima da moça, causando-lhe um imenso desconforto, mas não demorou para ser reconhecida como apta.

Caminhou junto a uma kalfa, que lhe levou a sala dos banhos, algumas outras meninas esfregavam seus corpos com uma bucha, ou simplesmente jogavam-se água sobre o corpos juvenis. Eram todas moças com pouco mais de doze anos, fazendo a jovem de cabelos negros lembrar-se de sua irmã, aquela que havia sido deixada no mercado, pois seu comprador desejava somente a bela Yasemin. Sentia-se perdida, com medo e totalmente desacreditada de sua própria estrela.

Assim como todas, lavou seu corpo com as águas quentes que juntava na cuia, apesar de sentir seu corpo mais leve seu coração continuava pesado e triste por pensar em Yelena, uma menina que poderia não sobreviver nas mãos daqueles homens que mal alimentava as escravas que vendia. Ainda sim ela estava ali, como um pássaro enjaulado, sem ter para onde ir. Junto as demais jovens do harém caminhou para o pátio das hatuns, onde todas se preparavam para deitar-se e dormir. Yasemin sentia as lágrimas em seus olhos, enquanto se despia, mas as segurou o máximo possível não queria chorar naquele lugar.

Deitou-se em dos colchões que estava no chão, esperava que o sono fosse seu amigo naquele momento, mas não conseguia fechar seus olhos, havia uma música tocando em sua mente em meio a escuridão. Respirou fundo, e pôs-se sentada olhando suas próprias mãos, mas não podia ver as linhas com clareza.

Como as portas do paraíso, uma fresta de luz se esgueirou por entre o harém, dando a impressão de que havia uma silhueta feminina ali e Yasemin teve a sensação de que ela lhe chamava. Com calma levantou-se e seguiu a mulher. Os corredores estavam vazios, algo que não era normal, os agas da porta deveriam estar ali vigiando as moças.

Ainda devagar, acompanhou os passos daquela mulher que caminhava com pressa pelo harém, cruzando corredores que não eram permitidos. Passou pelo caminho dourado, o caminho que só as escolhidas para o sultão poderiam ir. Apressou-se para conseguir chegar até ela, e para a surpresa de Yasemin nem mesmo os agas do sultão cuidavam do lugar, deixando-a mais apreensiva, diminuiu seus passos e seguiu para dentro dos aposentos privados.

O lugar estaria na escuridão total se não fosse pela luz da lua que entrava pelas portas da varanda, deu alguns passos até aquela luz, e viu a silhueta feminina em um vestido azul pálido, ela olhava para as águas do bósforo, com cuidado Yasemin resolveu aproximar-se, mas a mulher virou-se, caminhando em direção ao quarto, passando por Yasemin com sua face oculta por um véu.

Yasemin acompanhou com o olhar, até vê-la parar diante do trono, uma pergunta silenciosa se formava na mente de Yasemin. Não pode evitar de ficar surpresa ao ver ela sentar-se no trono do sultão como se aquele fosse seu lugar. Sentiu algo molhar seus pés, e ao olhar para baixo viu sangue, mas não era seu, subiu seu olhar pelo rastro de sangue e viu as pernas de um corpo enquanto o resto encontrava-se oculto, abriu a boca para gritar, mas ao invés do som estridente nada saia, mas a risada da mulher se sobressaia.

Haseki SultanaWhere stories live. Discover now