XLV

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          ⵧ̷̇࣪─── Não entendo, sultana ── Gül ağa franziu o cenho, ainda não acreditava que sua senhora havia permitido que Saliha voltasse. ── Se a sultana Saliha regressa, pode ser perigoso para seus filhos.

Kösem não podia deixar de dar razão ao eunuco, todavia ele não compreendia os planos dela. Com o inimigo mais perto, poderia vigiá-la com mais facilidade, seu sonho era só mais um aviso e nem precisava de uma xamã para saber disso pois estava claro em tudo que vinha acontecendo. Uma mulher. Seria uma mulher que tentaria derrubar o império, mas aquele império deveria pertencer a seus filhos futuramente.

Deslizou a ponta de seus dedos pela superfície da água, causando ondulações na mesma, não era um feitiço muito complexo apenas um meio que vinha desenvolvendo para compreender tudo o que poderia vir acontecer num futuro muito próximo. Seus olhos estavam fechados, mas seus outros sentidos estavam em sintonia com a água.

Os povos mais antigos acreditavam que a água era um condutor entre para muitos vórtices e se tivesse êxito poderia ver em um deles o que lhe esperava.

As ondulações que seus dedos faziam na água soava como sussurros aos seus ouvidos. Precisava que aqueles sussurros se tornassem vozes ou imagens mais claras que pudesse interpretar com mais facilidade.

          ⵧ̷̇࣪─── Quando eu tinha sete anos, minha avó disse que sonhos são avisos, Gül ağa. Quando eles são tão reais que as sensações ficam gravadas em seu corpo e o perturbam muito mais que a presença humana. ── Kösem não se agradava da ideia de recorrer aqueles conhecimentos antigos, mas se não fizesse não estaria nenhum pouco preprada para o momento mais severo. ── Uma mulher irá causar grandes problemas, e eu quero saber mais. Com minha inimigas todas reunidas sob o mesmo teto, terei mais chances de acabar com cada uma delas.

O eunuco e a kalfa se entreolharam e depois para a sultana que ainda se concentrava nos movimemtos que realizava na tigea sobre seu colo. Só os três estavam dentro dos aposentados, muitos rumores falavam sobre ela ser uma feiticeira pois sua origem era conhecida por todos, até mesmo por aqueles que viviam de fora do palácio ─ sua caridade com o povo, no entanto, só reforçava o pensamento de que ela era uma anjo em forma humana ─ depois do que fez o impedir uma multidão revoltosa e sobreviver a um tiro em seu peito era alvo dos murmúrios fossem eles bons ou ruins.

Abriu seus olhos lentamente, observando as ondulações da água, e como se olhasse em um espelho viu a valide sultana conversava com uma jovem de cabelos negros, mas seu rosto ainda estava difícil de distinguir. Continuou a mexer. Viu o corpo de um rapaz sendo carregado para fora do palácio. Continuou a mexer. Viu fogo e escutou um grito: Mãe!

A tigela caiu do colo da sultana, derramando todo o líquido no chão, suas mãos tremiam e ela estava pálida com uma expressão pasma em seu rosto. Era pior do que imaginava.

          ⵧ̷̇࣪─── Nigar kalfa. Gül ağa. ── chamou-os sentindo os olhos preocupados dos dois sobre si. ── Estejam preparados. A tormenta que está por vir é pior do que qualquer coisa que já tenham visto, de agora em diante, nossas vidas estão em perigo.

Os dois servos estavam chocados com as palavras, mas já esperavam por algo terrível.

          ⵧ̷̇࣪─── Estaremos prontos, sultana. ── Nigar disse com uma voz cheia de segurança e certeza.

As batidas na porta chamaram atenção dos três, Kösem permitiu a entrada, e Melek entrou fazendo uma reverência em frente a ela. Ela havia crescido muito nos último anos, e se tornado uma jovem belíssima, e talvez em breve tivesse a sorte de conseguir um marido com o qual pudesse ser feliz.

          ⵧ̷̇࣪─── Sultana, pediu para avisar quando a sultana Saliha chegasse.

Kösem anuiu, o momento havia chegado então. Levantou-se à medida que os servos lhe davam espaço para passar, juntou suas mãos em frente ao corpo, caminhando com suas serventes logo atrás.

Caminhava com tranquilidade, sabia onde poderia encontrar Saliha naquele momento. Assim como todas as mães que amam seus filhos, Saliha não iria perder tempo em ir direto a Selim, desse modo ela também iria apenas para olhar novamente no rosto da mulher que tanto desejava se desfazer. Não perderia a oportunidade de lhe mostrar quem era a que detinha o poder dentro daquele harém, parou em frente as portas do quarto de Selim e esperou os ağas abrirem, para entrar no local.

          ⵧ̷̇࣪─── Mãe. ── Selim disse com um sorriso no rosto vendo a sultana. ── Não esperava pela sua visita, algo aconteceu?

Kösem negou com a cabeça, erguendo sua mão para o jovem şehzade que beijou-lhe o dorso e tocou na testa. Os olhos da sultana foram para Saliha que estava de pé há alguns metros de olhar baixo.

          ⵧ̷̇࣪─── Saliha, é bom que esteja de volta, Selim pode finalmente conhecer sua mãe. Saiba que eu sempre fiz questão que ele soubesse como era a mulher que lhe deu a luz. ── seu tom era amável e gentil, mas os efeitos eram notórios na sultana Saliha que ergueu seu olhar para Kösem deixando claro o desejo por fazê-la engolir cada palavra. ── Selim, meu leão, vim lhe pedir que se juntasse a mim para o almoço no jardim, mas vejo que ira ficar com sua mãe então não se preocupe.

          ⵧ̷̇࣪─── Não, mãe, eu irei ── respondeu rápido com um sorriso no rosto. ── queria passar um tempo com a senhora hoje. Lhe mostrar algo que fiz especialmente para ti.

Kösem sorriu, não poderia estar mais satisfeita, acenou suavemente com a cabeça para ele e para Saliha, despedindo-se. Havia feito o que queria agora era só esperar que as sementes germinassem.

Haseki SultanaOnde histórias criam vida. Descubra agora