Sentir é amar

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      Estou segurando uma caneta de tinta azul sobre minhas mãos, revisando as inúmeras e incontáveis papeladas que o maravilhosíssimo cargo de Hokage me fornece de presente a cada cair da noite. Talvez eu não saiba, mas todo esse tempo perdido sentado em uma cadeira enquanto todos os funcionários voltam para suas casas, me deixa frustrado de algum modo. Passo minha mão livre sobre os fios esbranquiçados do meu cabelo, suspirando pesado o fato de estar sozinho outra vez. Eu não gosto de estar sozinho, embora a solidão realmente seja a minha mais fiel companheira. É estranho, eu confesso. Eu gosto de estar sozinho, mas querer estar sozinho não é algo ao qual tem me agradado. É preocupante e por isso tenho pensado na possibilidade de procurar por ajuda. Mas, de quem?

— Ah, caramba. — reclamo ao perceber que esqueço outra vez a luz do corredor ligado.

      Me levanto paulatinamente, escorrendo meus dedos sobre a madeira da mesa antes que meu corpo venha a ficar completamente de pé. O silêncio no cômodo faz parecer que meus passos são ensurdecedoramente altos, mas não são. Eu estou só. Estou outra vez só. Me dirijo para o corredor com os mesmos passos arrastados. Eu não tenho pressa. Por mais que eu reclame as horas extras que sou obrigado a fazer no QG, também não há nada de interessante para fazer do lado de fora. No fim seria sempre a mesma coisa; eu convidando alguma mulher para me fazer companhia durante a noite e não encontrá-la no outro dia de manhã pelo simples capricho de não querer me envolver com alguém.
      Não é como se eu estivesse usando o corpo de outra pessoa, embora se pensar dessa maneira, também não se descarta tal hipótese. Afinal, nada mais me agrada a não ser o belo e hipnotizante corpo feminino. Entretanto nem tudo isso tem me satisfeito. Eu não quero ficar sempre trocando de companheira por não aguentar olhar no olho da mulher ao qual entrego o meu corpo durante algumas horas da madrugada. Talvez eu seja duro em dizer que as horas de sexo casual não seja nem um pouco mútuo entre eu e esse tanto de gente. Não para mim, sinceramente falando. Todo o sexo são feitos pensando no meu próprio prazer e eu realmente não me importo nem um pouco sobre como minha companheira realmente se sente. Eu não me esforço. Eu não quero me esforçar e não me importo muito sobre a fama ao qual isso poderá me trazer.

      Desligo a primeira de muitas luzes, trocando o percurso para o lado contrário. Minha mente está tão cheia de inúmeros assuntos que não percebo ter outra companhia. Eu permaneço meus passos, observando que a outra figura caminha em minha direção.

— Kakashi-Sensei, você vai precisar de alguma ajuda?

      Sim.

— Não. — respondo casual, andando continuamente até o próximo interruptor — Já terminou seus deveres no hospital?

— A algumas horas. — respondeu com um sorriso, agora acompanhando meus passos lado a lado.

— E o que te trás aqui?

— Você. — virou para mim, mantendo seu caminhar ao entrelaçar seus dedos atrás do seu corpo.

— Eu? — pergunto como quem nada quer, sentindo minha boca se mover com um sorriso pra baixo. Era um alívio ela não perceber com nitidez minhas expressões — E o que quer de mim outra vez? Mais dos livros caros de medicina?

— Ah, Kakashi-Sensei. — suspirou, entrando na sala ao lado do meu corpo — Preciso muito terminar o livro que você começou a ler pra mim.

      Paraliso por um tempo, completamente surpreso sobre o fato de que Sakura realmente tenha se interessado por um dos contos românticos-eroticos que ando lendo. Observo que ela sentou-se sobre minha mesa ao me aguardar, então me recomponho com uma breve engolida de saliva, logo retornando minha seções.

      Qual seria a reação de Sakura quando ela descobrir que todo aquele romance acabaria numa louca literatura obsena? Se existe um Deus, que ele tenha piedade da minha pobre alma. Eu já não tenho mais um Sharingan pra me desviar dos seus socos repentinos.

Meu Segredo - KakaSakuWhere stories live. Discover now