Príncipe dos Magos

Capítulo 1

Amarílis, Torre de Fiore - 5 de brumário.

A flecha estava pronta e o alvo na mira, o pelo marrom da corça tinha uma coloração mais brilhante na luz do sol e aquela raridade significava moedas a mais pelo couro do animal, teria a carne para comer e ainda conseguiria um bom dinheiro com a pele daquele animal. Manteve sua respiração controlada, e restringindo ao máximo seus movimentos para que não alertasse o animal. 

Apenas um tiro foi o suficiente para derrubar o animal, acertando diretamente em sua cabeça, sorriu ao ver o animal caído no chão, pegou sua faça de caça e se aproximou de sua presa, não havia mais nenhum sinal de vida nela e agradeceu mentalmente por isso. Amarro as patas do animal morto com uma corda para arrastá-lo para a vila.

Amarílis era uma das vinte e sete províncias de Locande, Fiore era uma das vilas mais ricas da província, era um lugar encantador que servia de lar para Frey desde que era um bebê deixado na porta da Torre. Ela conhecia aquele lugar como a palma de sua mão, todas as entradas e saídas secretas dos muros, cada beco e viela, cada casa e barraco que encontrava na rua, tudo fazia parte de um mapa que ela mesma criou daquele lugar, e no centro de tudo estava a Torre, o lar do regente.

Lorde Mors era o regente há mais de trinta anos, e mesmo com a idade avançada o homem ainda insistia em manter uma vida em plena atividade arriscando-se em coisas como caçadas e viagens noturnas para ver as amantes, muitas vezes Frey era responsável por levar o lorde através dos túneis escuros e frios que davam acesso a qualquer parte da vila. Embora, servisse de guia desde que tinha seus dez anos de idade, a proximidade entre eles era quase nula, ele aceitou a criança órfão em sua torre, mas apenas porque o mestre dos magos, Azael, decidiu que iria educá-le, não com o que Frey realmente se interessava.

Desde uma tenra idade o interesse pelo arcanismo era notável na criança pródiga que era, mas era proibido que praticasse ou se aprofundasse em qualquer coisa relacionada a magia, apanhou muitas vezes por roubar escritos de Azael, não entendia o porquê de lhe impedirem de praticar a magia. Ouviu muitas vezes magos dizerem com seus peitos inflados pelo ego: "Qualquer um pode fazer magia", mas era só mais uma mentira, com o tempo deixou de admirar aqueles homens com tanto poder e focou-se em seu corpo, compensado sua incapacidade mágica aprimorando seu corpo fisicamente.

Não havia tempo ruim quando Frey decidia sair da Torre para caçar, ou fazer qualquer outra coisa que lhe distraísse, gostava de se isolar, assim pensava melhor e não tinha brigas com o filho mais velho de Mors, Klay, um garoto que era uma peste em forma de gente, ele parecia sentir-se feliz em atormentar todos que podia em especial Frey. Calma e paciência, em momentos onde seu orgulho era posto em xeque, não faziam parte de seu vocabulário.

Mestre Azael fazia de tudo para afastar o herdeiro dos Mors, de sua protegida, mas nunca era o suficiente.

Frey contava os dias ma esperança de que seus tão sonhados quinze anos lhe alcançassem, Azael sempre dizia que em seus quinze anos estaria livre daquela vida, e era só isso em que mantinha seu foco, nessa esperança de mudar de vida. Juntava todo o dinheiro que podia, para quando a hora chegasse tivesse ao menos algo para se aguentar até fixar residência, porém a ideia de viver como uma andarilha lhe agravada muito mais, poderia conhecer as outras províncias e muito mais sobre elas. Descobriu em sua primeira caçada que os livros em nada se comparavam com a realidade, algumas vezes a imaginação não conseguia chegar tão longe.

Enquanto caminhava pela floresta arrastando a corça, um cheiro estranho naquele lugar chamou sua atenção, algo diferente ao mesmo tempo agradável, a floresta comumente tinha o cheiro da vegetação e terra molhada, mas aquele cheiro de algum modo era algo extraordinário. Aromas agradáveis podia ser um dos venenos mais fortes, e Frey não queria se arriscar de jeito nenhum, cobriu seu nariz e boca com uma mascara de pano, sua respiração ficava difícil debaixo do tecido grosseiro e ao mesmo tempo dificultava a inalação de agentes malignos.