A Ligação

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POV Cait

Acordei sobressaltada, estava suada enroscada nos lençóis, minha garganta seca como se tivesse comido areia. A luz do crepúsculo iluminava precariamente o quarto e tudo que podia ver eram os contornos e formas enquanto meus olhos se ajustavam a luz.

Eu tentava inutilmente clarear minha mente do véu do sono, olhei para frente e notei porque estava com tanto calor, a janela estava completamente aberta impedindo que o sistema de ar condicionado resfriasse o quarto. Era o início de uma manhã quente e seca de agosto. Não podiam ser mais de 5h, em um céu com estrelas que desapareciam aos poucos já podia se ver os primeiros raios de sol surgindo por trás dos prédios.

Me levantei para encostar a janela sentido uma lufada de vento quente e seco como espadas cortando minha pele, trazendo consigo um cheiro suave do mar distante. A sensação me fez lembrar da minha confusa caminhada ontem pela manhã na beira da praia.

Flashback ON

Era provavelmente tarde para ela em Tokyo, em L.A era o meio da manhã, mas eu precisava conversar e principalmente eu precisava de ajuda. Disquei e esperei que ela atendesse, já faziam algumas semanas desde que nos falamos pela última vez, ela atendeu depois de alguns toques.

Hey sis, como você está? - perguntei descontraidamente. - Com saudades suas Caitriona, você não liga mais. - disse Anne implicando. - e também bem cansada, mas bem. Como estão as coisas em L.A?

Eu deveria ter respondido, mas eu ainda não queria entrar nesse assunto, então contornei a pergunta e perguntei sobre as crianças e seu marido, sabia que isso faria a conversa se prolongar e adiaria o momento que eu queria evitar.

Devemos ter conversado sobre amenidades por uns 30 minutos, ela me contou como estavam seus filhos, como andava sua carreira, seu marido, o clima em Tokyo e como estava nossa família, a quem ambas sentimos grande saudade por não ver já a algum tempo.

Querida, e você, como está sua vida nos EUA? - Anne perguntou depois de uma breve pausa, quando seus assuntos haviam esgotado. Eu sabia que não poderia mais fugir, e afinal nem deveria tentar, eu havia ligado acima de tudo para falar sobre isso.

Eu imagino que não muito bem, já que preciso te pedir um favor. - eu respondi com o coração apertado, eu sabia que sempre poderia contar com ela, mas ainda assim não era fácil ter essa conversa.

O que você precisar Caitriona, você sabe que pode pedir. - ela respondeu sem excitação e com um tom um pouco preocupado como eu já esperava que faria.

As coisas não estão simples ou fáceis por aqui, e bem - eu hesitei - o dinheiro que tenho guardado já está quase no fim. Eu não tenho conseguido nenhum papel novo e meu próximo trabalho como modelo na Índia está agendado para daqui a umas semanas ainda, e nem isso é certo, por que meu passaporte está preso com a embaixada deles. E por mais que eu não goste de admitir as coisas estão ficando realmente difíceis... - eu parei de falar um momento, tentando encontrar as palavras para continuar, mas ela me interrompeu.

Me mande por mensagem o quanto você precisa e amanhã estará na sua conta. - ela interveio imediatamente com o seu melhor tom de irmã mais velha protetora e preocupada.

Eu não sei como agradecer sis, eu.... muito obrigada. - eu disse com a voz embargada. - Você sabe que não precisa agradecer. - respondeu Anne. Houve uma pausa tensa, em que nenhuma das duas sabia como prosseguir. Ela rompeu o silêncio.

Fale comigo Caitriona, o que você está sentindo. - eu então desabei e despejei tudo, as frustrações, as preocupações, os sonhos que não haviam se concretizado, as decepções, os "não" um seguido de outro. A ferida ainda aberta do meu termino com James. E falamos por mais uma sólida hora, enquanto eu me abria e ela me ouvia, acalmava e aconselhava.

Quando desligamos eu me sentia um pouco mais leve, mas ela parecia ainda mais preocupada, mas já era muito tarde para ela, nos despedindo prometendo conversar de novo o mais rápido possível.

Flashback OFF

Eu fiquei perdida em meus pensamentos assistindo o sol surgir gradualmente, iluminando a selva de pedra de L.A, fui tirada dos meus devaneios pelo miado suave de Eddie me dando "bom dia", ou talvez simplesmente me deixando saber que gostaria de ser alimentada.

Me sentia cansada, mas também muito esperançosa. Eu havia ficado acordada até altas horas da madrugada ontem regravando meu vídeo de audição.

Há muitas semanas eu havia enviado uma gravação para o teste de uma personagem chamada Claire, de uma produção escocesa, uma série de TV baseada em uma saga de livros, muito famosos por aqui, mas não houve nenhuma resposta. Então nesse meio tempo eu iniciei os testes para uma outra produção americana, e eles estavam avançando, mas ainda sem nenhuma segurança de conseguir o papel.

Quando eu já tinha perdido as esperanças sobre o papel de Claire, ontem pouco depois de desligar a ligação com Anne, minha agente me ligou. Ela insistiu e me convenceu a mandar outra gravação para esse papel, por que a produção da série ainda não havia conseguido encontrar ninguém, e ela sentia que eu poderia conseguir, só precisava tentar de novo.

Eu mergulhei no primeiro livro da saga, Outlander, aquele dia inteiro, absorvendo tudo que podia da personagem, seu modo de falar, e como ela pensava e respondia ao ambiente a sua volta. Eu tentei traçar paralelos entre nós, para construir uma ponte empática.

Ela como eu era forte, destemida, corajosa, teimosa, desbocada e gostava um pouco mais do que deveria de whisky, afinal eu era irlandesa estava no meu sangue. Mas ela também era carinhosa, amorosa e preocupada com as pessoas.

Eu consegui me identificar com ela, ver o mundo com o espectro dos seus olhos e pensar um pouco mais como ela, quando me senti mais confortável em sua pele eu refiz meus vídeos e os enviei.

Tudo havia acontecido muito rápido, em uma semana eu já tinha passado nas primeiras audições e deveria estar a caminho da Escócia nesse exato momento para realizar meu teste de química com o meu possível co-star, que seria meu par romântico na série.

Mas o que eu e ninguém mais da produção contava, era que meu passaporte continuasse preso na embaixada indiana. Eu me vi sem saída para resolver essa questão e já estava começando a admitir a derrota, talvez esse papel realmente não fosse para ser. Mas para minha completa surpresa a produção estava empenhada que eu fizesse esse teste.

Os produtores e o ator, que eu descobri se chamar Sam Heughan estavam todos se deslocando para L.A para fazer o teste comigo amanhã, e aproveitando a viagem, com algumas outras atrizes também.

A essa altura, eu já havia me apaixonado pela personagem e devorado o livro inteiro, quanto mais eu fui me aprofundando na história, mais eu fiquei curiosa sobre o ator que já tinha sido escalado para interpretar Jamie Fraser.

Bem eu quero dizer, esse homem deveria ser o "Rei dos Homens", não é algo fácil de conseguir, mas depois de pouco tempo de pesquisa, eu percebi que de fato poderia ser ele, era realmente muito belo, muito alto, com traços fortes e profundos olhos azuis, era loiro e não ruivo como Jamie, mas isso poderia ser facilmente ajustado.

Eu me peguei me embrenhando Google a fora absorvendo todas as informações disponíveis sobre ele, tenho que admitir que fiquei surpresa, ele vinha de uma carreira bem interessante do teatro e tinha um histórico acadêmico invejável.

Estava me sentindo muito apreensiva, caso conseguisse o papel, por que eu já havia visto pelo livro os tipos de cenas que teríamos que trazer a vida, e eu temia o tipo de pessoa que ele pudesse ser, e como faríamos para realizar atos tão apaixonados e íntimos, a essência da história de Outlander era esse amor entre Jamie e Claire, se não conseguíssemos retratar essa relação com fidelidade o destino da série estava fadado ao fracasso.

Quando as Estrelas se AlinhamWhere stories live. Discover now