Na Corda Bamba

736 40 22
                                    

Poucos dias depois do nosso passeio no parque, fomos visitar os estúdios em Glasgow pela primeira vez. Eu havia chegado na cidade a poucos dias, e ainda estava pulando de hotel em hotel, mas eu já estava acostumada com essa vida de cigana, eu vivia assim desde os 19 anos de idade. Eu só iria ter um lugar para chamar de meu no fim do mês, eu ia escolher um apartamento para alugar dentro dos limites oferecidos pela Sony.

Enquanto isso a produção não perdeu tempo, entramos de cabeça na preparação para o início da série, isso significava ajustes de figurinos, consultas com médicos, herbalistas e enfermeiras para aprender tudo que eu precisava saber sobre o aspecto profissional de Claire. E também aulas de equitação, eu havia dito no meu currículo que eu sabia andar a cavalo, o que não era verdade.

Na minha primeira aula Sam estava lá para me dar apoio, ele já era mais acostumado com cavalos, ainda que não fosse um cavaleiro experiente podia se virar em um. Sua presença sempre alegre, espirituosa e brincalhona me acalmou e tornou mais fácil e divertida a experiência. Era quase como se ele soubesse que eu estava apreensiva e fez questão de estar lá por mim, exatamente como prometeu que faria.

Diversão inclusive era a palavra para descrever a emoção no set, mesmo muito empenhados e trabalhando muito, todos nós tínhamos ótimos momentos juntos. Graham McTavish e Duncan Lacroix, cujos os papéis na série eram Dougal e Murtagh, respectivamente tio e padrinho de Jamie, haviam se tornado grandes companheiros nos últimos dias. Havia uma camaradagem entre Sam, Graham, Duncan e eu. Nós quatro estávamos sempre perturbando uns aos outros, brincando e enchendo o saco de propósito.

Já havia um espírito de família no set, e entre nós eu me sentia como a irmã caçula, ainda que mais madura, dos três. Bem... talvez "irmãos" não fosse a melhor descrição, visto que eu tinha pensamentos que seriam considerados mais do que insestuosos por um deles.

Essa relação entre todos nós, entretanto, era muito oportuna para meus planos de ser amiga de Sam, sem ceder às minhas emoções mais profundas. Como estávamos sempre todos juntos, brincando e implicando com os outros, eu conseguia manter um ótimo relacionamento com Sam, e estar sempre próxima, sem correr nenhum risco.

É claro que eu não contava com um fator muito importante, álcool. Sendo eu irlandesa e eles escoceses, a nossa capacidade para consumir bebidas alcoólicas era absurda.

Após a primeira semana de preparação já estávamos todos muito unidos, isso incluia além do nosso pequeno grupo, também Tobias, que interpretaria meu marido do futuro Frank, Matt e Maryl. Todos nós saímos juntos algumas vezes, um jantar e algumas noites de coquetéis em pubs e na casa do Sam, o único que já tinha escolhido um apartamento, visto que era muito familiarizado com Glasgow.

Nessas poucas ocasiões eu me vi forçada a usar nossos companheiros como abafadores entre Sam e eu. Enquanto eu estava sóbria e nós estávamos no trabalho, eu podia manter o controle facilmente, mas sobre o efeito de algumas doses de whisky, eu já não podia garantir tanto assim, e foi exatamente nesses momentos que minha necessidade por tocar Sam correu livremente, e em resposta ele também pareceu não conseguir manter as mãos longe de mim.

Nós ficamos colados, um orbitando a presença do outro. Nossos olhos, que normalmente já não se desgrudavam, nessas situações pareciam oceanos que mergulhávamos juntos e não conseguíamos achar o caminho de volta. Isso sem contar o contato físico entre nós, toque sutis nos braços, pernas ou rosto um do outro, e alguns abraços aqui e ali, que passaram tranquilamente despercebidos como parte da nossa amizade. Mas a frequência e intensidade crescente tornavam cada vez mais difícil manter meu calculado autocontrole.

Eu estava constantemente em batalha, eu precisava senti-lo e vê-lo, sempre e cada vez mais, como uma droga, a sua presença era viciante. Quanto mais eu tinha dele mais eu queria, e não tê-lo ao meu lado iniciava uma sensação forte de angústia quase como uma crise de abstinência. Mas, ao mesmo tempo, eu não podia tê-lo perto demais, eu podia amenizar minha sede dele mas nunca podia ter um banquete.

Quando as Estrelas se AlinhamWhere stories live. Discover now