Capítulo 5

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    Como eu poderia sair dali? Não conseguia quebrar as grades, nem atravessar elas, talvez gritar por ajuda? Será que seria uma boa ideia? Talvez eu pudesse fingir estar engasgada, mas, com o que diabos eu ficaria engasgada? Não tinha comida ali, nem água, talvez pudesse fingir um desmaio, ou algo do tipo. Me sentei no chão cruzando as pernas, eu só queria sair dali, achar a Charlote, fugir de tudo, naquela hora a ideia de derrotar a rainha branca não parecia uma boa ideia, eu não sabia de nada, sei que parecia meio estúpido, mas e se a Alice tivesse mentido pra mim sobre tudo? Talvez, como em wonderland, a rainha vermelha fosse a culpada, talvez ela tivesse cometido todas aquelas atrocidades que contaram, não tinha como eu saber da história toda, eu não vivi aqui para saber de tudo. Talvez isso tudo fosse um sonho, um sonho muito longo, eu iria acordar naquela mansão novamente, com o Dylan, com a Charlote, poderia finalmente ver minha mãe, sair de lá, viver como uma criança normal, uma adolescente ou uma adulta normal. No que eu estava pensando? Não podia desistir de tudo só porque não conseguia quebrar uma grade, Charlote estava bem, eu podia sentir que estava tudo bem. Me levantei e respirei fundo. Precisava fazer algo, mas o quê? Soltei o ar dos meus pulmões e fiz a primeira coisa que me veio a mente.
    — Ei! Me soltem. —Gritei.
    — Cala a porra da boca. Para de fazer barulho. —Era uma voz masculina, vinha do final do corredor.
    —Eu quero sair! —Gritei novamente
    Escutei passos pesados até a minha cela.
    — Cala a boca. —Era um garoto, devia ter uns dezoito anos, tinha cabelos castanhos, olhos pretos, uma pinta logo abaixo do olho esquerdo e outra no meio da bochecha esquerda, a pele dele era um pouco mais escura que a minha— Não te ensinaram a ter educação não?
    — Eu sou Lilian e você? Quem é você? —Eu disse.
    — Eu sou o filho do comandante dessa vila, me chamo Julian. —Ele se sentou cruzando as pernas— Fui encarregado de ficar de olho em você até minha mãe decidir oque fazer com você, talvez cortem a cabeça do seu Agatodaemon.
    — Eu não tenho um Agatodaemon.
    — Não tenta dar uma de espertinha, já sabemos de tudo...
    Escutei uma porta ser aberta e fechada com muita força, Julian se levantou e se afastou de mim, ele parecia assustado.
    — Ma-Mãe... Eu só estava...
    — Tudo bem, querido. Pode voltar pra cima, eu vou cuidar dela.
    Julian saiu correndo de lá, na minha frente apareceu uma mulher idêntica ao Julian, Charlote estava ao lado dela. A mulher abriu a porta e Lote pulou em cima de mim.
    — Meu filho deve ter sido grosseiro com você, mil perdões pela indelicadeza dele, já disse que não deve tratar uma dama assim.
    — Tudo bem. —Eu disse abraçando Charlote— Obrigada, obrigada por não ter feito nada com ela, não sei oque eu faria sem ela.
    Eu suspirei e comecei a chorar de alegria, apesar de saber que tudo estava bem antes, precisava ver ela, precisava tocá-la.
    — Lily, de algum modo, eles conseguem saber oque eu digo. —Disse Charlote.
    — Eu não expliquei isso, desculpe. Enfim, Bonnie! —Ela gritou.
    Rapidamente um cão entrou na sala, ele era peluda e branca.
    — Sigam ela, vai mostrar onde vocês ficaram por enquanto. Depois de você se acomodar, comer e descançar, você pode vir aqui e conversar comigo, tenho muitas perguntas. Bonnie, leve elas até a casa dos Weather.
    A cachorra saiu andando graciosamente para fora só local, eu a segui, passei pela porta que dava fora para aquele lugar escuro, tinha um grande e majestoso salão na minha frente, com três tronos no final dele e um grande tapete vermelho que levava até eles, no final do tapete vermelho tinha uma gigante porta de madeira, pilares por vários lugares, um lustre imenso, parei em baixo do lustre e o olhei de baixo, era tão magnífico, nunca tinha visto um. Corri atrás da cachorra, que, agora, já estava do lado de fora do local. Assim que sai de lá eu me virei de costas e analisei o local, era um pequeno e lindo castelo azul, coberto por neve. Andamos mais um pouco até chegar em uma casa de dois andares, feita de um tipo de madeira marrom bem clara, a cachorra arranhou a porta e não demorou muito para sermos atendidas por uma garota um pouco mais alta que eu, ela era albina, ela possuía magníficos olhos amarelos, bochechas rosadas, um lindo e longo cabelo branco que chegavam até, mais ou menos, a sua cintura, ela vestia uma blusa grande preta, com mangas longas que cobriam suas mãos e uma estampa de estrela cinza, um short cinza curto  e meias de gatinho. A cachorra olhou para ela e ela balançou a cabeça.
    — Eu não tenho escolha mesmo. —Disse a garota, sua voz era desanimada e fofa— Sou Ayanne, pode entrar, se sinta em casa.
    A cachorra nos olhou e depois olhou para dentro da casa, dando a entender que devíamos entrar. Entramos na casa e a cachorra saiu andando, Ayanne fechou a porta e apontou para uma poltrona, me sentei nela, a garota saiu da sala em direção a outro cômodo. A casa era modestamente linda, as paredes da sala eram pintadas de branco, tinha um sofá, duas poltronas e uma mesinha no centro da sala, perto deles tinha uma lareira de tijolo, também tinha uma escada espiral no canto da sala. Uma garota da metade do meu tamanho, um cabelo curto castanho claro, pele albina, olhos amarelos e... Uma cauda pontuda negra e assas extremamente sombrias, Charlote pulou na minha frente, se tranformando em um tigre, ela começou a rosnar para a garota, ela que segurava uma bandeja acabou derrubando ela e tudo oque tinha.
    — Mamãe! —Ela gritou enquanto corria para o outro cômodo.
    Uma mulher apareceu, vinda do outro cômodo, ela era quase igual a Ayanne, mas com cabelo castanho.
    — Se acalmem, por favor. —Disse a mulher— Aquela é minha filha, Kira, ela não teve a intenção de assustar vocês.
    Charlote voltou para sua forma original e se sentou.
    — Ótimo... Eu sou  Lyris, mas pode me chamar de Yris. Você deve ser a Lilian Barkker, a rainha falou que você vinha, se sinta a vontade em nossa pequena casa, é pequena mas não deixa de ser confortável, eu sei que você ainda é nova, mas daqui uma semana começam as aulas em uma escola não muito longe daqui, a Ayanne vai, já que ela já tem treze anos, você vai com ela também, vou garantir que vocês fiquem nas mesmas aulas e no mesmo dormitório.
    — Espera, o quê? —Perguntei.
    — Deve estar cansada demais para entender, mas, enfim, vamos comer primeiro, amanhã eu te conto tudo. Aliás, a pequenina se chama Kira.
    — Ok...
    Ela saiu em direção ao outro cômodo e eu a segui, era uma linda cozinha, paredes pintadas de branco, assim como a sala, uma mesa que cabiam apenas seis pessoas, fogão a lenha, uma pequena janela na frente da mesa e uma porta ao lado do fogão. Ayanne estava sentada na mesa, lendo um livro, Kira não saia do lado de Yris, talvez Charlote tivesse a assustado muito. Peguei Charlote no colo e me aproximei de Kira.
    — Desculpe a gente, ela é boazinha. —Eu disse colocando Charlote perto dela.
    Ela se abaixou e colocou a mão na cabeça de Charlote.
    — Viu? Não tem com que se preocupar.
    — É... Ela... É Fo...
    — Kira tem dificuldades para falar, tenha paciência com ela. —Disse Ayanne enquanto se aproximava.
    — Sim, ela é bem fofa, igual você Kira. —Eu disse.
    Ela deu um risinho, depois pegou Charlote no colo e a abraçou. Ayanne riu.
    — Ela gostou da gata. —Disse Ayanne.
    — Por que ela tem dificuldade em falar? —Perguntei.
    Todos me olharam, Kira colocou Lote no chão e saiu correndo, Ayanne olhou para o lado e Yris fingiu não me ouvir. Entendi que aquele era um assunto delicado, peguei a gata no colo, andei até a mesa e me sentei. Ayanne me olhou e sorriu.
    — Não fique preocupada, ela só não gosta de falar sobre isso, não é algo muito complicado de se entender, eu até te diria, mas ela ficaria brava comigo e, acredite em mim, você não gostaria de vê-la brava.
    Eu dei um sorriso sem graça, não achei que minha primeira experiência com uma criança seria assim, nunca tinha visto uma criança na vida, apenas adolescente e gente da minha idade, não era permitido ter contato com crianças, ainda não sabia oque tinha de errado comigo para me proibirem de fazer tantas coisas. Ayanne tocou o meu ombro, quando ela tinha chegado ao meu lado?
    — Só reparei agora, você está suja, vem comigo. —Ela disse enquanto agarrava meu pulso e me puxava para a sala— Eu vou te emprestar umas roupas minhas.
    Andamos até o andar de cima, tinham mais quatro cômodos. Ela me empurrou dentro de um banheiro, tinha uma grande banheira, uma pia embutida em um gabinete, o chão era num tom rosa pastel e as paredes âmbar. Ayanne se aproximou da grande banheira e colocou a mão dentro da água nela, derepente a água começou a ferver e o ambiente ficou com uma névoa quente.
    — Até você tirar sua roupa a água já vai estar no ponto certo. —Ela apontou para o gabinete— Ali tem uns cremes especiais para cabelo e o corpo, são ótimos.
    Ao julgar pela pele impecável e cabelo sedoso, talvez aquilo fosse realmente verdade. Ela deu um sorissinho e saiu do banheiro, fechando a porta. Abri o gabinete é olhei os produtos. “Será que da pra deixar seu pelo brilhante, Charlote?” eu olhei para ela e ela só balançou a cabeça, indicando que sim, nunca tinha reparado, mas Charlote estava sempre limpa, seu pelo brilhando, sem manchas, “gatos, realmente, devem ter mania de limpeza” ela olhou para o lado depois lambeu a pata, eu ri. A porta foi aberta, era Ayanne, ela deixou algumas roupas em cima do gabinete e saiu sem dizer uma palavra. Charlote pulou perto das roupaz
    — Tem um bilhete aqui. Lily, se vista e vá para o meu quarto, é o último do corredor.
    — Mas eu nem tomei banho.
    — Eles podem esperar.
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    A roupa que a Ayanne tinha me deixado era bem confortável, uma blusa e uma calça, ambas moletom e rosa, no moletom tinha uma estampa enorme de uma estrela, “o que essa garota tem com estrelas?”. Os produtos, realmente, tinha deixado meu cabelo mais bonito e macio, os lindos pelos rajados de Charlote estavam bem mais brilhantes.
    — Que sono. —Disse Charlote.
    — Estou cansada também, mas não acho que vou conseguir dormir.
    — Eu durmo por você.
    Charlote pulou no meu ombro, ficando com as patas traseiras na minha costa, ela fechou os olhos. Tirei ela do meu ombro, fiz uma espécie de berço com meus braços e a deixei em cima deles, com dificuldades abri a porta do banheiro e a fechei com o pé, entrei no quarto no final do corredor, era... Fofo. Era apertado, tinha uma escrivaninha preta e rosa—a cadeira da escrivaninha era rosa—, acima dela tinha uma prateleira cheia de livros ao lado esquerdo da porta e um guarda-roupa branco do lado direito(que se estendia por quase toda a parede), no final do quarto tinha uma grande janela e, na frente da janela, uma grande cama de casal com um lençol branco, uma coberta de veludo rosa pastel e a estrutura da cama era preta, papel de parede num tom cereja bem escuro e o chão de madeira escura, com um grande tapete redondo de veludo branco, entre a escrivaninha e a cama eram, mais ou menos, sete passos de distância. Ayanne estava sentada em cima das pernas, em cima da cama, olhando pela janela.
    — Ayanne? —Disse.
    — Ah, você chegou. —Disse ela se virando— Esse é o nosso quarto, vamos dormir na mesma cama.
    — Ah... Ok.
    — Seu cabelo... Ele é tão lindo, é amarelinho igual os raios fracos de sol. Mas... —Ela disse se aproximando, ela segurou as pontas do meu cabelo e as ergueu até meu pescoço— Assim você ficaria parecendo uma boneca.
    — O... O meu cabelo era pequeno... Muuito pequeno.
    — Pequeno quanto?
    — Da altura da minha orelha, se não me engano.
    — Eu já tive cabelo assim, mas o pessoal da vila me zuava de garoto e era meio desconfortável.
    — Você... Você fica bem linda com o cabelo desse tamanho.
    — Você acha? —Ela disse soltando meu cabelo e enrolando uma mexa de seu cabelo— Você... Deixaria eu cortar seu cabelo?
    — Cortar?
    — Não se preocupe, tenho olhos de águia e sou quem corta o cabelo da minha mãe.
    — Ta bom.
    Ela puxou a cadeira—a cadeira tinha uma almofada preta em cima—que estava em frente a mesinha e colocou na frente do espelho retangular ao lado da cama e da mesinha. Eu me sentei, ela abriu um a parte do guarda-roupa e tirou uma tesoura de ouro e uma escova de cabelo, ela os deixou em cima da mesinha e saiu do quarto.
    — Ela parece ser legal. —Disse Charlote pulando no meu colo.
    — Sim... Ela me acha bonita.
    — Ela tem razão, você parece uma boneca.
    Ayanne voltou com um pote de produto para cabelo. Ela fechou a porta, abriu o pote e começou a passar o produto no meu cabelo, ela, cuidadosamente, penteou meu cabelo depois o cortou, deixando ele no meu queixo, ela também cortou minha franja, deixando meu cabelo, mais ou menos, como se eu estivesse com um corte chanel repicado só que com franja.
    — Eu tinha razão, você parece uma boneca agora! Enfim... —Ela bocejou— Vamos dormir, está tarde.
    — Ok.
    Ela se deitou na cama e eu me deitei ao lado dela, Charlote optou por dormir na cadeira.

Lilian FosOnde histórias criam vida. Descubra agora