XI. A Serva e o Estrangeiro ⚔️ PARTE II ⚔️

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Na margem oposta do rio que abastecia o reino de Overghan, a influência dos Homens Livres era mínima

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Na margem oposta do rio que abastecia o reino de Overghan, a influência dos Homens Livres era mínima. O antigo sistema de vassalagem imperava na região, grandes senhores de terra permitiam que seus servos cuidassem de suas terras, sem nunca verdadeiramente a possuí-las.

Entre as sete terras da família Paraton, uma era reservada exclusivamente ao plantio de legumes, 3/4 de toda a produção da velha fazenda era recolhida para abastecer os banquetes dos senhores da região.

Não bastasse o inverno feroz que castigara aquelas terras, a serva, irmã mais velha de uma família sem nome, perdera seu filho no mesmo pântano em que presenciou o marido desaparecer. A mulher cansada não podia contar com a ajuda do pai, tão velho e sem forças, tudo que poderia ter de ajuda envolvia os pequenos braços da irmã com apenas 13 ciclos de vida.

Precisaria entregar toda a colheita disponível, contudo ainda poderia vender a suína robusta e rosada, e com sorte arremataria uma moeda de prata e cinco de cobre*. Seria o suficiente para comprar grãos e uma ou duas galinhas magras.

No meio de contas e mais contas, a mulher tossiu. O cansaço, a má alimentação, a gripe que pegou no pântano ao procurar seu filho e a consumia por meses, tudo, absolutamente a consumia.

Tossiu novamente.

Sangue, o líquido vermelho caiu em suas mãos. Antes que pudesse praguejar, a irmã despontou no horizonte, ela corria e sacudia os braços.

― Sonellines! Sonellines! ― Gritava a menina.

― O que foi, Padika? Achou outro rato? Já disse que é para matá-los.― Escondeu a mão suja de sangue nas costas.

A garota ofegante balançou a cabeça negativamente.

― Não, Sonellines! É o Dom Paraton, ele está aqui. Trouxe dois homens feios e um garoto.

― Paraton? Hoje? Faltam duas semanas para o pagamento dos impostos... Mais essa agora.

Sonellines tinha raiva, sua vida inteira sentiu um ódio imenso, eram tantos motivos que não saberia descrever. A falecida mãe, morta no parto da irmã, a ensinou a controlar sua ira, dizia que os Deuses não poderiam abençoar a todos e que alguns viveriam uma vida mais difícil, por um azar do destino eles eram as vítimas dessa falta de sorte.

Ainda nova ela engoliu o ódio, fez tudo que a mãe ordenou, foi educada, não levantava a voz para ninguém e oferecia sorrisos vazios para pessoas que não mereciam. Não queria que a irmã passasse por isso, mas não poderia fazer muita coisa contra o que sua mãe lhe ensinou ser a vontade dos Deuses.

― Tudo bem, Padika. Vamos ver o que aquele nojento quer ― Padika gargalhou, a menina adorava quando a irmã chamava o senhor daquelas terras por alguma ofensa, no caso, verdadeiras.

Setúbio Paraton, o homem que herdou aquelas terras, contrariando tudo que foi imposto pela Ordem dos Homens Livres após o Dia da Vitória. Com a queda de Varuna, os vitoriosos impuseram a lei da liberdade: "nenhum homem ou mulher, pode possuir outro humano como propriedade, somos livres para definir nossos destinos."

TRÍADE - Filhos dos DeusesWhere stories live. Discover now