Anahí

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"Então me mostre que é um bom lutador e que merece meu coração de volta como recompensa! Lute por mim Alfonso."

Me joguei na cama e sufoquei meu rosto com um travesseiro.

Como pude ter dito aquilo? Pensei.

Eu voltei decidida a fugir dele e no primeiro dia peço para que ele lute por mim? Como sou estúpida!

Fiquei alguns minutos deitada tentando recompor os meus batimentos cardíacos. Vê-lo novamente e inesperadamente foi indescritível. Estava extasiada. Apesar de tudo, todo passado e toda mágoa era evidente para mim que eu ainda o amava.

Disse a mim mesma  que um dia poderia perdoa-lo mas jamais o daria uma segunda chance!

Será que eu o deixo lutar? Será que ainda existem chances para nós?

Balancei minha cabeça, eu precisava enxotar o Alfonso da minha mente. Não podia ser tão fraca a ponto de ter uma recaída no primeiro dia.

Que droga Anahí!

Os dias se seguiram e eu tentava me esconder. Ia para o hospital, que por sinal tinha um ótimo ambiente de trabalho, e assim que chegava me enfiava no quarto até ele ir buscar a Cecília. Notei que estava sendo infantil, havia dito que seria cordial, mas não estava cumprindo com a minha palavra. Pior, disse para lutar por mim e não lhe dei condição alguma.

Acordei pensativa sobre o assunto.

- Bom dia, mãe!
- Bom dia, querida!
- Onde o papai está?
- No supermercado. Ele decidiu ir mais cedo para organizar alguns faturamentos.
- Entendi!

Ela me olhou séria.

- Filha, o Alfonso não vai mais trazer a Cecília aqui! - Ela estava aparentemente triste.
- Porque? Perguntei já sabendo o motivo.
- Bem, ele não quer te colocar em uma situação desconfortável.
- Mas eu disse que não teria problema - Tentei desconversar.
- Você disse uma coisa mas mostrou outra filha! Toda vez que ele vinha aqui você estava trancada no quarto. Se ele e a filha dele não estavam te incomodando, porque agiu assim?

Larguei a xícara de café na mesa.

- Eu não sei o que fazer mãe! Vivo confusa desde que voltei. Brigando com os meus sentimentos. As vezes penso que vou enlouquecer! Eu só quero resistir. Toda essa história nos fez tão mal. Eu não quero me machucar novamente. Eu não quero me jogar nos braços dele outra vez, mas no fundo sei que se não mantivermos distância eu acabarei cedendo. E eu não quero!
- E acredita que se escondendo vai conseguir se manter firme e não ceder?
- Sim!
- Então porque voltou? Não seria menos arriscado permanecer em Boston?

Olhei para ela, eu não sabia o que responder.
- Voltei pelo emprego! - Disse convicta - E você sabe disso!
- Sei Anahí? Porque entre os hospitais não há tanta disparidades. Você continuaria sendo uma ótima profissional estando lá. Filha, eu já te disse isso uma vez e vou repetir:
" A pior mentira é aquela que contamos para nós mesmos"
Já tentou se permitir pensar que por um acaso tenha usado essa oportunidade de emprego para retornar? Para retornar para casa, para voltar para o seu passado?
- Claro que não mãe? Como poderia querer voltar para um passado que só me fez mal?

Me levantei chateada. Peguei minha bolsa e me dirigi até a saída. Como ela podia cogitar que eu tivesse voltado por ele?

- Estou te dizendo essas coisas filha, porque acho que já passou da hora de você encarar essa história de frente. Você acha que superou, que deixou para trás, mas você apenas fugiu. E eu honestamente penso ser um desperdício passar a vida inteira fugindo!

As linhas da vidaWhere stories live. Discover now