🌠 • 12 de Maio

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  É tão surreal quando paramos para pensar nos acontecimentos que adentram na nossa vida. Muitas das vezes eles podem ser como penetras que frequentam as festas sem serem convidados e agem como se nada estivesse acontecendo, ou ainda aquele embrulho de presente minúsculo que ganhamos de Natal, ao qual recebemos com certo desânimo por julgá-lo mal pelo seu tamanho, mas quando o abrimos ficamos tão felizes e tocados, que sentimos um pouco de remorso por não tê-lo aceitado antes.
  Existem incontáveis exemplos cabíveis para ilustrar todas essas surpresas, porém nenhum nunca vai ser o "mais justo" para expressar o que eu vivi à vinte e dois anos atrás.
  Mesmo depois de tanto tempo ainda é muito insano para mim o fato de que tudo — tudinho — o que você conhece ou conhecia possa mudar num piscar de olhos, em um estalar de dedos, ou até mesmo em um simples arfar. E foi exatamente o que aconteceu comigo, e a sua causa tem nome; 𝗣𝗮𝗿𝗸 𝗝𝗶𝗺𝗶𝗻.
  Acredito mesmo que exista uma explicação para essas coisas, porém naquela época ela me faltou. Jimin era uma pessoa completamente diferente de todas as outras — completamente mesmo. Mas, assim como nenhuma outra pessoa foi capaz, ele fez com que aquele curto tempo em que esteve aqui comigo se tornasse o mais importante e especial de toda a minha vida, e é por isso que eu guardo com tanto carinho no meu coração e nas minhas lembranças.
  
     ❥︎ 12 de Maio de 1998.

   Apesar daquele ser o meu dia de folga do trabalho, as minhas tardes sempre terminavam barulhentas. Tudo porque meus óculos sempre acabavam perdidos em algum canto da casa, e como resultado eu esbarrava em tudo o que ficava pela minha frente. Depois de muita procura — e breves xingamentos — eu o encontrei dando sopa na pia do banheiro, onde eu provavelmente havia deixado para escovar os dentes após o café da tarde.
   Um pouco menos frustrado coloco o acessório em meu rosto e volto ao meu quarto para começar a me vestir. Os entardeceres de terça-feira eram um tanto quanto importantes para mim, pois eu tirava esse tempo para fazer a minha caminhada pelo parque local, que não ficava muito longe de onde eu morava. Em todos esses anos este dia da semana ainda é muito especial para mim, apesar de eu não fazer as mesmas coisas mais. Assim como as estações do ano as pessoas mudam, e com isso alguns costumes ou hobbies acabam mudando também, podendo ser de uma forma boa ou ruim.

    Quando estava devidamente vestido me apresso em pegar o livro que eu estava lendo naquela semana e me apressei em sair de casa, para ter a certeza de que não perderia o meu banquinho preferido, cuja vista dava melhor para o chafariz que eu tanto gostava, que ficava ainda mais bonito iluminado pelas luzes no mármore da sua circunferência. No meio do caminho fiz uma pequena pausa apenas para comprar uma garrafinha de chá gelado, o melhor para se tomar no meio de uma caminhada. Isso eu garanto!
   Ao chegar no parque meus olhos passeiam pelo local e automaticamente o analisam: apesar de ser quase noite haviam algumas pessoas com toalhas abertas no chão, com cestas recheadas de lanches gostosos e bebidas refrescantes, do outro lado tinham algumas se exercitando e pelo o que conclui estavam ali à algum tempo, levando em conta a sua pele e tecido da blusa úmidos. Havia também aquelas que preferiam apenas ficar sentadas nos bancos, assim como eu, lendo um bom livro ou apenas desfrutar da bela paisagem que aquele lugar possuía.

   Com um suspiro leve me sento ao banquinho, sentindo a leve brisa do "quase noite" acariciar minha pele e bagunçar carinhosamente os fios do meu cabelo, recém tingidos de castanho escuro. Agora, completamente relaxado, abro o meu livro na página marcada com um mini cartão e retomo a minha leitura. Este livro fora uma indicação de Hoseok que, acredite você ou não, foi feita no meio de um desentendimento. Como justificativa o mesmo argumentou sobre a minha carência de visão mais positiva em relação ao coisas ao meu redor. Não nego que me senti um pouco irritado com sua escolha de palavras, porém me dei como vencido e aceitei a sugestão. E sinceramente foi uma das melhores escolhas da minha vida! Segundo o livro  "As estrelas sempre podem nos fazer sorrir, basta dar a elas um voto de confiança".
    E foi exatamente com esta frase que eu encarei o céu. Haviam se passado poucos minutos, mas o céu já se encontrava revestido com o manto azul petróleo da noite, bordado delicadamente com diversas estrelas de todos os tamanhos e brilhos; umas mais intensas e outras um pouco mais tímidas. Porém uma estrela em especial me chamou a atenção. Ela não tinha a forma totalmente esférica como eu imaginava que elas teriam, sua aparência estava mais para uma gota d'água que caía lentamente sobre uma superfície lisa. Seu brilho se destacava das outras por possuir um tom azul celeste tão intenso que me fez ficar hipnotizado, acompanhando o seu percurso.

    Era como se toda aquela sensação de frenesi citada em tantos livros lidos por mim finalmente fizesse sentido. Meu corpo não me obedecia, minha mente não projetava nenhuma ordem para meus membros se movimentarem. Minha atenção estava toda voltada para a estrela azul que dançava graciosamente pelo céu, como se estivesse se divertindo com seus amigos. Então eu sorri. Sorri para a apresentação mais bonita que eu já tinha visto em toda a minha vida. Para a tela perfeitamente pintada pelo artista mais habilidoso deste mundo bem diante dos meus olhos. Naquele exato instante. Como aquilo era possível?
    Tudo ao meu redor havia ficado escuro, eu esqueci das pessoas, das cestas de piquenique, e até mesmo do meu tão belo chafariz. O tempo tinha parado e de repente me vi dentro de um planetário, sozinho, com todas aquelas estrelas de fundo, e a minha estrela azul brilhando e dançando para mim. E então eu chorei. O motivo? Este ainda é indecifrável para mim até hoje.
    Não faço ideia de quanto tempo fiquei ali parado boquiaberto olhando para o céu, estava tão fora de mim que não percebi quando ele se agachou em minha frente e tomou meu livro em suas mãos, já que eu não tinha me dado conta de que tinha deixado ele cair.

     — Ninguém nunca ficou olhando para mim com tanta surpresa como você está agora. Estou começando a ficar preocupado.

    Sua voz doce e calma era ainda mais surreal. Em um movimento meio desengonçado encaro seu rosto iluminado com um sorriso divertido me olhando, com os braços estendidos para me entregar o livro.

    — E-Era você?...Mas...Mas como? — Meus braços permaneciam largados ao lado do meu corpo, desacreditado, analisando a figura do homem em minha frente.

    —  Eu posso te explicar se quiser, mas acho melhor pegar o seu livro. O seu marca páginas caiu e não me atentei à página que você estava. Me desculpe.

    A fim de parecer um pouco mais "normal" pisco meus olhos diversas vezes e finalmente pego meu livro de suas mãos, varrendo a grama com o olhos em busca do cartãozinho que marcava as minhas páginas. O rapaz ainda estava ali, parado, olhando cada movimento que eu fazia, e ele parecia estar se divertindo com isso.

    — Me chamo Park Jimin. E você?

    — Kim Namjoon. — Estico a mão livre e o cumprimento. Era incrível como o toque da sua mão era suave mas com temperatura quente.

    — Muito prazer Kim Namjoon! — ele me deu mais um de seus sorrisos bonitos e esticou seus braços em direção a minha mão, para darmos um cumprimento, e as sacudiu brevemente.

   Depois de voltar um pouco ao meu estado normal, Jimin havia me pedido para que o levasse até uma "loja de comidas", onde mais tarde descobri que ele se referia a uma lanchonete. Ele argumentou dizendo que tinha feito uma viagem demasiada longa e que não havia calculado direito o tempo que o percurso duraria, por isso estava morrendo de fome. Ao chegarmos dentro da lanchonete deixei com que ele pedisse o que queria, sem impor limites em cima dos seus desejos.

    — Eu ainda não compreendi. O que veio fazer aqui?

    Eu não queria soar rude, e muito menos assustar Jimin, mas o mesmo ponderou um pouco enquanto mastigava antes de me responder. Parecia escolher as palavras certas antes de me dar qualquer resposta que fosse, talvez com o intuito de não me assustar com o que sairia da sua boca.

    — Eu sempre fui muito fascinado pela vida na Terra. Vocês têm tantas belezas e riquezas por aqui, é tudo tão diferente. No meu planeta as coisas são todas da mesma cor e forma, e isso me deixava um pouco entediado. — Sorriu minimamente e tomou um gole do refrigentate — Mas também sempre tive o costume de observar vocês, é meio que um hobby.

   — Um hobby um tanto quanto peculiar, devo ressaltar.
  
   — É sim, eu admito. Porém algumas pessoas valem a pena observar. — disse curvando minimamente o sorriso em minha direção.

  Após alguns bons minutos de conversa nós saímos do estabelecimento. Eu perguntei onde ele pretendia passar a noite, e Jimin me respondeu que tinha reservado um quarto em uma pousada, que não ficava muito longe dali, por isso eu decidi acompanhá-lo até os seus aposentos e aproveitando para conversar mais com ele. Nesse meio tempo resolvemos trocar nossos números de telefone, a fim de mantermos um melhor contato quando não pudéssemos nos ver pessoalmente, o que foi um pouco estranho para mim se levarmos em conta o tempo em que nós havíamos nos conhecido, mas por alguma razão eu havia gostado da sua companhia e queria mantê-lo sempre por perto, e foi o que realmente ocorreu.

  

Meu amor das Estrelas  |  Minimoni (Minjoon)Onde histórias criam vida. Descubra agora