Decisão

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Uma semana havia se passado desde que Jean viu Marco.

Sol ainda nascia no horizonte e o castanho estava deitado em sua cama, com os braços cruzados atrás da cabeça, ele fitava o teto, imerso em seus pensamentos.

— ele parou de falar comigo, até mesmo, na escola. Ele deve estar muito magoado! — murmurou enrolando um fio de seu cabelo nos dedos. — preciso pedir desculpas... — continuou seu monólogo consigo mesmo, até ouvir o grito de sua mãe, no andar de baixo, avisando que o café da manhã estava prestes a ser servido.

Jean estava sentado à mesa. Esperando sua mãe terminar de servir as panquecas e sentar-se também. eram apenas eles dois. O pai do Kristen havia partido anos atrás. Fugiu com uma outra mulher. A Sra. Kristen era dura as vezes, porém, era uma boa mãe. Isso era fato. Notou que seu filho estava distante. Pois já faziam alguns minutos que ela havia colocado a comida no prato do rapaz, e se sentado à mesa. E Jean não havia sequer tocado na comida, continuava a fitar o nada.

— algum problema querido? — a voz da matriarca despertou, Jean, de seu transe.

— não... Quer dizer... — o castanho mordeu o lábio inferior. Não sabia, ao certo, como entrar naquele assunto. Sentia como se estivesse andando num campo minado.

— problemas na escola? — ele negou com a cabeça.

— bom, não exatamente... É normal caras relacionarem entre si? — ele perguntou fitando a comida em seu prato. Não conseguiu encarar sua mãe.

— você quer dizer... Namorar!? — ele confirmou, temeroso, balançando a cabeça. O medo que era que sua mãe jogasse um daqueles pratos em sua direção. Mas pelo jeito Jean não conhecia sua mãe tão bem assim. Pois sua resposta, o surpreendeu. — sim! Acho! — disse simples, colocando uma fatia de panqueca na boca, o mastigando logo em seguida.

— você não acha estranho? — Jean franziu o cenho.

— estranho porque? Você não acha que toda a forma de amor é válida? Que as pessoas que se amam, tem o direito de amar? Se as duas pessoas se gostam, sendo dois homens ou duas mulheres, que mal tem? — Jean estava impressionado com a mãe. — Jean Kristen. Você não é homofóbico é? Pois eu posso aturar um filho preguiçoso que não quer arrumar um emprego, feito você, mas homofóbico não! — disse a mulher colocando os talheres ao lado de seu prato. Encarando seu filho.

O rapaz não pôde deixar se sorrir timidamente para a mãe. — não mãe... Não sou...— disse e viu a mulher relaxar na cadeira. — eu só ach... agora eu preciso ir... — levantou-se da cadeira. E pegou sua mochila.

— espera. Você nem, ao menos, tocou no seu café. — gritou a mulher mas o filho já havia saído porta a fora.

Jean chegou atrasado na escola pois perdeu o primeiro ônibus. Por isso ele esperou pacientemente até que o sinal, que indicava o término das aulas e o intervalo, soasse.

Caminhou até a sala de aula, ao lado. Que era a do Marco.

E por sorte não esbarrou em um grandalhão. O cara era forte, alto loiro. Pescoço, ombros e braços grossos parecia um touro.

— Ei, o Marco está aí? — Jean tentava, inutilmente, olhar um por cima dos ombros do rapaz. um pequeno sorriso adornava seus lábios, que ele nem notou. Porém esse sumiu com a resposta dada pelo loiro:

— não... Ele não tem vindo muito esses últimos dias. — o loiro sorriu, e se desculpou por não poder dar mais informações sobre o amigo!

Jean chutou uma pedra, que foi certeira na lixeira, enquanto caminhava para os fundos da escola.

“será que... Será que ele está matando essas aulas, para não se encontrar comigo?”

— Jean... — uma voz feminina chamou sua atenção. Era Sasha que o chamava, enquanto corria em sua direção. Ela trazia consigo uma caixa coberta por um pano. Logo estava lado a lado do Kristen. — eu trouxe batatas recheadas, você quer?

— O-ok. — deu um leve sorriso e acompanhou a moça. “bah, Marco deve estar bem!” pensou seguindo-a.

Os dois acharam um bom lugar para lanchar, debaixo da copa de uma árvore, protegidos do sol pela sombra da copa. A conversa fluía bem entre os dois. Jean a via como uma amiga, e era o mesmo com Sasha.

— está Gostoso? — perguntou, depois de um tempo, entusiasmada. Ela adorava cozinhar. E bom... Jean era perfeito para experimentar suas receitas...

— hun, uhum. — fora a única resposta dada pelo castanho, que mastigava a comida com gosto.

— pela sua cara... Não parece muito bom, né!? — a castanha pendeu, um pouco, a cabeça para o lado, encarando-o.

Jean engoliu, aquela mistura de batata, carne e salsicha, que ainda mastigava. — não, não. Está ótimo! É que eu estava pensando em outra coisa... — limpou suas mãos em seu próprio uniforme. Ainda pensativo.

— o quê? Ta pensando em outra pessoa é!? — acontece que Sasha não era só um rostinho bonito. Ela não era burra sabia que Jean tinha outro “alguém”, por isso não aprofundou o “relacionamento” ( se é que ela poderia chamar assim) deles. — não quer contar?

— Ehr... Não é nada disso. É só uma burrada que eu fiz. — disse meio sem graça. — é que eu acabei brigando com um... Amigo meu... — Jean fitou o chão.

Amigo?

Lembrou-se do olhar duro que o moreno direcionou a si. E sentiu-se ainda pior. Ele não tinha direito de chama-lo assim!

— hum... Então era um amigo importante! Pra você ficar assim. — questionou pensativa.

Importante?

Lembrou-se de quando esqueceu um livro e Marco o ajudou.

“esqueceu o livro outra vez, Jean!? Aqui está.... Mas pra compensar, vamos almoçar juntos!?”

— é acho que sim! — desviou seu olhar do chão para o céu claro, o sol estava encoberto pelas nuvens.

Lembrou-se, também, o que o moreno dissera uma vez:

“é que eu gosto de você, e não fico satisfeito só com o seu corpo.”, “é porque eu gosto de você e queria algo mais.”

Mas acontece que um cara falar essas coisas pro outro... Não é normal!

Fazer aquilo com outro cara...

Se lembrou do corpo moreno de Marco chocando-se contra o seu. De como ele cavalgava, em si.

... Ou achar um homem bonito.

O rosto do moreno logo lhe veio em mente. Os cabelos negro, olhos escuros como pérolas. As sardas. E de como elas ficavam adoráveis com o rubor no rosto moreno.

Quando vejo o corpo de alguns homens eu, fico excitado.

Seu corpo correspondia muito bem aos toques suaves de Marco. E como ele adorava.

E se apaixonar por ele, nada disso é normal....

O que é normal?

Foi então que ele se lembrou das palavras de sua mãe...

Isso não importa, ser normal ou não!

— porque não vai atrás dele, Jean? — aquelas palavras ecoaram na mende de Jean, o trazendo de volta. — é o Marco, certo!? — aquelas palavras o pegaram de surpresa.

— C-como você... — ele não conseguiu pronunciar a frase que formulou em sua mente.

— bom. Eu ia te fazer uma visita, quando o vi ele sair da sua casa. Ele parecia meio triste. — contou já guardando suas coisas. — você deveria ir atrás dele... Já que sente tanto a sua falta assim. — a Sasha deu de ombros.

Jean não se atreveu a negar, sabia que Sasha estava certa. Despediu-se da nova amiga e saiu correndo. Encontrou aquele mesmo cara loiro da sala de aula, que se chamava Reiner. E, com muito, convenceu-o a dar o endereço do amigo. Jean correu saindo da escola não se importando com os horários restantes.... Ele estava decidido.

Não é óbvio?Onde as histórias ganham vida. Descobre agora