𝔇𝔢𝔷𝔬𝔦𝔱𝔬

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Antes do Fim

Cassian

Cassian raramente, durante toda sua existência, era pego desprevenido. Entretando, aquela noite parecia descontar todos os séculos de sua maldita existência, e ele não sabia se isso poderia ser bom ou ruim, principalmente, quando suas surpresas tinham um nome e sobrenome.

Nesta Archeron.

O illyriano conversava com o encantador das sombras, quando a avistou descendo as escadas. E pelos Deuses, ele perdeu o ar. Nesta sempre fora linda, mesmo quando humana, e quando se tornara féerica, era a fêmea mais deslumbrante que ele tinha o prazer de conhecer. A maldita conseguia ser bela mesmo nas montanhas illyrianas, desviando dos socos e acertando-lhe em cheio, com seu sorriso espertinho. E agora, A féerica descia as escadas lentamente, como se avaliasse um campo de batalha.

O tempo de treinamento lhe fizera bem. A pele, antes pálida, agora ganhara um tom bege, levemente bronzeado e corado, enquanto seu corpo ficara mais robusto e curvílineo, com seios fartos e uma cintura fina. Nesta exibia a postura de uma rainha, e se vestia como tal. Dos brincos cintilantes, ao vestido que pareciam mil estrelas douradas cobrindo-lhe o corpo. - Ou parte dele. Cassian notou, conforme deslizava a língua contra o próprio lábio, as tatuagens no corpo de sua parceira. Os títulos, os símbolos, os números, que ele sabia o que significavam, e principalmente, a linguagem que ele havia lhe ensinado, que agora, pareciam ser a vidas atrás.

O semblante da féerica parecia tenso, embora vez ou outra, o illyriano a flagrasse sorrindo. Pela primeira vez em muito tempo, os olhos de Nesta finalmente pareciam haver ganhado vida. Sempre que Cassian a flagrava, ela o encarava de volta, e ele sorria, pouco antes dela sorrir também, com os olhos tão brilhantes como a lua. Ele sequer se permitiu pairar o olhar sob os lábios, pintados de vermelho, ou sob o decote das costas ou dos seios de sua parceira. Cassian encontrava-se tão tenso, que mal conseguia ouvir Elain, que conversava calma e serenamente ao seu lado, e vez ou outra, quando ele respondia com um manear de cabeça, ela ria melodiosamente, como sinos de vento.

Um turbilhão passava pela cabeça do macho, entretanto. Quando conhecera Nesta, tudo que recebera foram respostas ácidas, um olhar pertubador, e sua primeira conversa havia sido breve e fria.

Ele recordava-se, antes mesmo de saber que ela era sua parceira, de pertubá-la quando ainda era humana, seguindo-a pelos corredores da mansão ou protegendo-a e vigiando-a das rainhas. Nesta o entretia, não somente pelas suas recusas. Mas por ser simplesmente, quem era. Por cada comentário que lhe refutara, por cada encarada que lhe dera logo em seguida, pouco antes de arquear a sobrancelha como se, silenciosamente, anunciasse sua vitória. Aos poucos, o illyriano se entediava com mais facilidade no acampamento ou na casa dos ventos, e preferia vigiar a humana peculiar com mais frequência do que gostaria de admitir.

Mas então, quando fora atirada ao caldeirão, ele finalmente entendeu o porquê. Havia sido como receber um soco em seu rosto, ou pior. Cassian observara horrorizado e ensaguentado, a fêmea deslumbrante e cheia de fúria, que fora derrubada ao chão, encharcada pelo líquido mágico. Nesta somente levou sua mão ao rosto, afastando os cabelos do mesmo antes de erguer novamente o dedo ao rei, em uma promessa e ameaça cuspida.

E pelo caldeirão, seu corpo encolheu-se. Ele sabia que aquela ameaça seria cumprida.

E quando Feyre havia partido, as coisas ficaram silenciosas, silenciosas e pertubadoras demais. Certo dia, o illyriano vagava pelos corredores, quando acidentalmente esbarrou na féerica, que saia da biblioteca, com uma expressão vazia e os olhos distantes. Fazia um mês.

Um maldito mês, e ela sequer abrira a boca

Não lhe dissera uma palavra sequer

Um pensamento, um bilhete

𝑨 𝑪𝒐𝒖𝒓𝒕 𝒐𝒇 𝑰𝒄𝒆 𝒂𝒏𝒅 𝑩𝒍𝒐𝒐𝒅Where stories live. Discover now