Os passos para a mudança (Cap.2)

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Cheguei finalmente à Universidade, nem acredito que essas serão as últimas semanas nesse lugar, vou fazer a minha defesa no mês que vem, Enfim serei Licenciada em Direito.

Não era o que o meu Pai queria, mas é o que eu queria, há escolhas que só cabe a nós fazermos em determinadas situações.
O primeiro tempo ainda não tinha começado, fui para a sala, e lá estavam às minhas amigas  todas e o meu Líder, o meu coração derrete quando o Jack está perante mim.
-Nia! Vem para cá. - A Teresa chamou-me.

O meu grupo é constituído por três grandes mulheres, Teresa, Rosa e a Monalisa.
-Estou indo, Teresa. - Dei uma risada.
O Jack me puxa pelo braço, e põe-me a sentar na cadeira que está junta à sua.
-Estás boa, vida? - Disse num tom suave.
-Estou bem e, você amor? - Respondi
-Também, mas com saudades tuas. - Disse olhando-me aos olhos.
-Eu também estava com saudades tuas. - Respondi sorrindo.

Demos uns beijinhos, as minhas amigas só gritavam (uuuuuiiii).
Ele tem um jeito que me deixa toda derretida, ele é tão diferente e fofo, é super inteligente e divertido.
Os pais dele são Judeus, logo ele também é, os pais dele não gostam muito de mim "é o que acho", quando vou à casa deles não me sinto confortável e nem bem recebida, mas enfim, o nosso amor é que importa.
Ouvimos a porta a fechar-se, a Professora nos agarrou aos beijos, fiquei toda envergonhada.
-Já acabaram? -Perguntou a professora.
-Desculpa, não vai voltar a acontecer. -Respondi cheia de vergonha.

Eu e a professora Evelyn temos uma longa história, nós sempre entramos em choque em algumas aulas, ela tenta menosprezar os negros, eu acho ela meio racista, ela nos chama "gente de cor", como se eles "brancos" não tivessem cor.
-Sabes, eu vi uma jovem sendo presa bem na entrada da Universidade, achei que fosse tu.
Alguns colegas começaram a rir, eles gostaram do insulto.
-Por que a professora achou que fosse eu? -perguntei irritada.
-Eu não sei, vocês são todos parecidos. - falou com um sorriso no rosto.
Os colegas começaram a rir de novo, eu estava a irritar-me, eu só queria chegar à cara dela, mas não poderia, não posso arriscar o meu último ano.
-A educação começa a partir do berço, eu entendo, professora. - falei calmamente.
-Queres dizer o quê com isso, Nia? - O semblante dela mudou.
-Nada não, professora. - Desviei o olhar.
-Negra. - sussurrou ela.

Ela falou baixo, mas a maioria conseguiu ouvir, eu tentei levantar, o Jack agarrou-me, e acenou com a cabeça para não fazer nada estranho. Eu não aguentei.
-Racista! - Gritei com ódio.
-Chamaste-me o quê, Preta? - Ela apontou-me.
-Racista, eu não vou permitir que vocês continuem a nos tratar desse jeito horrendo, a discrepância entre nós, não nos torna menos humanos, o mundo não é apenas vosso, nós não pedimos para sermos transportados feito cargas para sermos escravizados e maltratados por gentes como você. - Falei super irritada.
-O incomodado ou a incomodada, que se retire, voltam para a vossa selva, aluna. - A professora disse num tom alto.
-Então vocês também devem voltar para a vossa, porque esse país não era e não é vosso, se sabes. Vocês também são estrangeiros. - Bati na mesa.

Eu vi que isso já estava chegando ao extremo, decidi sair da sala, o Jack seguiu-me a correr.
-Nia, espera! - Gritou Jack.
-Eu já estava por aqui com ela, Jack. - Falei pegando-me à cabeça.
-Eu sei, ela sempre te persegue.
-É difícil isso, Jack.
-Eu sei, Nia. Apenas para de bater de frente com ela.
-Então vou ter que ouvir os insultos dela sempre, e não fazer nada, Jack? - Perguntei toda alterada.
-Apenas ignora ela, Nia.
-Não será possível, Jack.
-Nia, eu sei que é difícil viver com o teu tom de pele, mas olha para mim.
-O que tem, Jack?
-Eu sou Judeu, e sofro o mesmo, Nia. Mas eu não dou a mínima.
-O teu caso é diferente, Jack.
-Diferente?! Nos fomos caçados e mortos em qualquer esquina, nós tínhamos medo de viver, até em nossas próprias casas éramos mortos, fomos descriminados, sofremos racismo e tal.
-Eu... Eu sei, desculpa, Jack.
-Apenas para de ser vitimista, vocês não são os únicos que sofrem ou sofreram.

Eu fiquei chocada, nós nunca chegamos a esse extremo, nos alteramos e ficamos brigados, eu vi o Jack a ir-se embora e não consegui fazer nada, ele deixou o meu coração mais partido ainda, ele nem deixou eu pegar na sua mão, ele estava muito bravo.

Negritude - A Estória De Nia Sankofa. Where stories live. Discover now