Capítulo 7

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Depois de deixar Lucy, Harry e Louis em casa, Camila passou no apartamento dos pais para pegar Nicole, sua cachorrinha pug. A mãe a recebeu na porta com mil abraços e beijos:

― Feliz ano novo, Kaki! Como foi a viagem? Se divertiu?

― Muito.

Nicole veio correndo, fazendo muita festa, louca de saudades. Mel também tinha sentido muita falta dela:

― Oi, Niní! Lindinha da mamãe! Vem cá... - Mel pegou Nicole no colo e a beijou. Foi até à sala, onde sabia que o pai estaria assistindo o noticiário.

― Oi, papa. - Deu um beijo estalado no pai, que a puxou e obrigou a se sentar no colo dele como sempre fazia. E não adiantava Camila reclamar, dizendo que não era mais criança. Ela era a caçulinha, única filha mulher no meio de dois filhos e três netos homens, por isso o pai continuava tratando-a como sua garotinha.

― Senti falta da minha princesinha! Como foi o ano novo? Arrasou muitos corações?

Não precisa nem dizer que, para os pais, Camila nunca tinha saído do armário. De vez em quando, ela levava um amigo gay para jantar e apresentava como namorado. E ficava por isso mesmo, sem eles nunca terem desconfiado.

A mãe insistiu muito, mas muito mesmo para que ela ficasse. Apesar do apartamento de Camila ser bem perto dali, às vezes ela dormia no quarto que tinha sido dela antes de se mudar, e que continuava exatamente como tinha deixado.

"Caso um dia você resolva voltar", era o que a mãe sempre dizia. Ela já tinha saído de casa há quatro anos, e os pais ainda não aceitavam. Mas, para Camila, o dia que se mudou foi um dos mais felizes de toda a sua vida. Não que não se desse bem na casa dos pais, pelo contrário, lá tinha todo o tipo de mordomia possível. Mas nada era mais valioso que sua tão sonhada independência.

Querendo colocar a cabeça no lugar, resolveu ir para casa. Despediu-se dos pais recebendo mais alguns milhares de beijos e recomendações. Chegou na rua Nascimento Silva em menos de cinco minutos, parou em frente ao prédio e entrou na garagem.

A primeira coisa que fez quando entrou em casa foi ficar descalça. O chão era de madeira clarinha, e latina não deixava ninguém entrar sem tirar os sapatos.

Aliás, diga-se de passagem, a casa de Camila era impecável. Tudo no lugar certinho, absolutamente arrumado. Era assim que ela gostava. Ela era louca por fotografias, por isso o apartamento era cheio de porta-retratos. A maioria com fotos dos três sobrinhos, que ela adorava.

Abriu as janelas, encheu a banheira, jogou sais de banho dentro - estava precisando e merecendo - e se deixou ficar ali deitada, imersa na água quente e nos próprios pensamentos. E seus pensamentos resumiam-se a uma única coisa, ou melhor, pessoa: Lauren.

Tinha sido o pior ano novo de todos os tempos.

Magoada, triste, desesperada, era como se sentia. Porque estava louca e irreversivelmente apaixonada. Pela única pessoa por quem jamais poderia se apaixonar. Se, pelo menos, nunca mais a encontrasse, tudo seria mais fácil. Mas, se o mundo é pequeno, o mundo gay é um ovo e, apesar do Rio ser uma cidade imensa, era fácil duas pessoas com amigos em comum viverem se esbarrando o tempo todo.

Resolveu dar uma de Scarlett O'Hara: "Amanhã eu penso nisso..." e foi se deitar. Ficou um bom tempo rolando na cama antes de adormecer.

No dia seguinte, acordou atrasada. Saiu correndo e não soube como conseguiu chegar na hora na firma de arquitetura onde trabalhava. Passou o dia com a cabeça nas nuvens, sem conseguir fazer nada direito, mal conseguindo terminar uma planta que precisava entregar.

I Hate Loving YouWhere stories live. Discover now