o pedido

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Meu corpo inteiro estava quente, havia tanta neve do lado de fora e mesmo assim eu queimava, meus punhos fechados seguravam a raiva, eu deveria revidar, eu deveria ter arrancado cada fio de cabelo dela, mas não consegui, a irá me estagnou, meus pés não se moveram, nada em mim obedecia ao meu cérebro. "Não vou descansar até fazer com que ela esteja no olho da rua." Eu falava para mim.

Os carros passavam de um lado para o outro, mesmo tanta neve não impediam a circulação dos moradores de Farmville, em frente ao prédio comercial que fica a revista, um restaurante de comida árabe se preparava para o almoço, o dono, um senhor de uns 60 anos, gritava para alguém na parte de dentro para recolher o lixo que alguns mendigos haviam revirado.
Um Corvette azul estacionado na frente da porta lateral chamava atenção de alguns transeuntes.

Aquela altura, eu já me sentia mais calma e pronta para voltar ao trabalho, arrumei o casaco e adentrei outra vez ao prédio. Erika estava no saguão falando ao celular, dizia algo sobre ser demitida e chorava muito, certamente estava falando com Philipe, fazendo o papel de vítima, tentando colocar toda a culpa em mim.

Durante os dias que se passaram, os vi todas as manhãs na entrada do prédio, me olhavam com constrangimento e sequer me cumprimentavam. Erika fingia estar aborrecida, fazia careta de choro, enquanto Philipe a consolava.

No sábado, a neve caira o dia todo, uma folha de policarbonato transparente cobria a piscina que estava em desuso, pequenas hienas de vidro e trenó estavam na entrada da casa, da janela do meu quarto conseguia observar tudo no jardim.

Eu estava de lingerie quando ouço alguém bater a minha porta, era forte, parecia impaciente. Coloquei o robe que ia até a altura das minhas coxas e a abri.

- mas o que você está fazendo aqui? Qual o motivo dessa força para bater na porta?

Philipe está parado fitando o meu corpo, engole a seco e sinto seu olhar a me queimar, como num impulso, me pega pela cintura e gruda a sua boca na minha, era um beijo tão urgente, tão intenso, nossas línguas dançavam em comunhão, sua mão esquerda está segurando forte o meu cabelo, pressionando ainda mais para perto dele. Eu estava na ponta do pé, totalmente entregue, minha boceta já estava gritando para ser penetrada,tudo em nós inflamava, suas mãos agora nos meus seios, forte, com fome, desabotoou o primeiro botão da sua camisa e sinto o seu toque afrouxar

- não! Para. - ele me empurra com uma força além da necessária - não posso, você não pode. - uma estranha vergonha atravessa o meu corpo e logo me dou conta do que ele está falando: Mark e Erika.

- o que você... Como conseguiu... - minha voz embarga, não consigo completar um raciocínio sem mostrar a vontade de chorar.

- vim pedir que não demita a Erika, ela precisa muito do emprego, sua mãe está com câncer terminal e ela está pagando todos os custos do hospital.

Eu não ia demiti-la, não era essa a minha intenção, não mais

- você veio até aqui para interceder por sua namorada? - falei com raiva.

- por favor, eu imploro - Philipe pediu com dor. Ele implorava por ela.

- eu não tenho nada a ver com os problemas pessoais dos funcionários.

- Ellen, caramba!! - ele gritou, havia tanta suplica na sua boca, senti aquilo me rasgar. Será que ele faria o mesmo por mim?

- foi por isso que você veio? Foi por isso que você me beijou? Para comprar a permanência da sua namorada na revista? - nossos olhares se sustentam, uma pausa constrangedora se instala no ambiente. Poderia ouvir o tintilar dos copos que vinham lá da cozinha.

- eu sinto muito - ele interrompeu. - eu não sabia o que fazer.

- então você voltou com ela. Depois de usar o meu corpo, você reatou o seu namoro.

- eu sei, eu fui fraco. Me deixei levar por suas palavras, pela dor de não querer perder a mãe. - as mãos dentro do bolso da calça, denunciavam o medo. - o que você queria que eu fizesse?

- não faça nada, Arthur, aliás, faça, saia do meu quarto.

- não se case com ele.

Levantei a cabeça e o deixei ver a lágrima que descia pela face.

- você não pode me pedir isso, sinto muito.

Philipe se aproxima, sinto o seu perfume tão perto, como ele cheirava bem, era algo com madeira e café, trazia um frescor na barba, que a essa altura estava tão perto de mim, tão próxima a minha pele, fecho olhos mas tento não me entregar a aquela agonia, suas mãos tocam as minhas, eu estou quase para me desmontar inteira. Sua boca toca a minha, tão leve, tão tímida.

- por favor vai embora...

- você quer que eu vá?

A barba de Philipe roça o meu rosto, seu polegar traceja um caminho nos meu lábios, nossas respirações se confundem, eu queria me deixar morrer em seu beijo, olho o seu olho acinzentado e me entrego, me derreto enquanto choro lágrimas de súplica. Eu moveria o mundo para aquele homem ser meu, daria qualquer coisa, se fosse preciso, a minha alma, para tê-lo comigo. Mas a visão de Erika usando a sua camiseta era mais forte, rasgava o meu coração, espremia. Eu sentia uma dor e nada nesse mundo poderia me curar dela.

Desta vez sou eu quem o empurra.

- vai, Philipe, vai embora.

- eu te amo! - sua voz também tinha dor.

- não... - coloco as mãos na cabeça e sinal de desespero - isso não é justo. - em um espaço de 30 cm ando de um lado para o outro, os pés descalços, o robe caído nós ombros, ele não tinha o direito de vir até o meu quarto e me falar tudo aquilo, não depois de me beijar e pedir pelo emprego da namorada. - isso não é justo, você não pode vir aqui e falar esse tipo de coisa para mim.

- eu sei, eu sei. - assentiu. - eu fui tolo, não tive pulso, não tive controle da situação.

- sai, por favor. Eu vou me casar com Mark e você está com a Erika. - seu corpo não se move, continua a me olhar com culpa. - SAI!!! - grito - sai daqui, sai daqui, me deixa em paz.

Continuo gritando, seus olhos choram agora. May o tira do quarto

- tira ele daqui, por favor. - o choro era forte, cai sobre os meus pés e me deixei levar pelo fardo. Philipe me ama, e eu estou noiva de outro, por causa dele. Um outro homem tão bom, tão maravilhoso, e a partir de hoje eu iria me dedicar a este homem. Ao planejamento do nosso casamento. Chorei até sentir meus pulmões pegarem fogo, sabia que May me observava e eu não queria que ela me visse assim. Mas eu não controlo mais, e só sinto vontade de me entregar a dor.

- venha, vamos tomar um banho, um banho sempre acalenta a alma.

Espero que gostem. Continuem lendo curtindo e compartilhando 😍❤️. Obrigada 😊

O MotoristaWhere stories live. Discover now