Carta aberta

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N.D.:

Esse capítulo é reservado em homenagem a Jay.

E a todas as pessoas que perderam um ente querido. 

....

Você encontrou algumas folhas escritas dentro de um envelope rosa. 

De: Harry

Para: Jay


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Hoje pela manhã chorei.

Escrevo isso por ser parte de um exercício que a Isabella sempre diz que pode me ajudar com os trezentos pensamentos que ficam presos dentro da minha cabeça. Tem algum tempo as coisas têm sido mais tranquilas quando comparada as noites mal dormidas, os cômodos abarrotados de livros alheios e sonhos distantes demais. Hoje, nem parece que tudo aquilo aconteceu com tamanha intensidade a ponto de me deixar tão inerte, além de tão distante.

Quando lembro, ainda sinto calafrios e gosto de ter alguém para falar sobre isso que não seja o Louis. Ele já aguenta demais. Ao me perguntarem como estou indo, ela sempre está no meio das frases – "Estou com a Doutora Bella por uns tempos" – mas quando estamos só nós dois no consultório, gosto de chamá-la de Isabella. Lá, posso deitar-me no sofá verde, admirando cada detalhe da pintura na parede, sentindo o cheiro leve de lavanda e a ouvindo sempre com muita atenção.

Sempre começava com um "Como estamos hoje, Harry?". Continuo deitado, mas sei que está sorrindo.

Quando não pude vê-la por semanas, quando voltei a sentar no mesmo sofá, sabia que as coisas não seriam as mesmas em minha vida. Apesar dos vinte minutos de silêncio por não conseguir falar nada além de chorar, o peso daquela tristeza parecia carregável, quase uma mala cheia de pedras em meus braços ao subir uma imensa montanha gelada.

...

A casa está repleta de crianças. Estou sentado em meu esconderijo preferido da casa, tudo aqui é bem bagunçado e minha mesa é tão grande quando as janelas de vidro com a vista inteira para o jardim. Sentado aqui, posso ver as irmãs de Louis correndo pelo gramado verde, tão cheias de vida e entusiasmo. Há tanta vida por detrás desse imenso vidro. Como uma pintura, observo que Fizzy continua sentada com um dos gêmeos no colo, enquanto Lottie tenta acompanhar os primeiros passos do outro.

Louis acabou de chegar no jardim com uma bandeja com copos de suco, todos se reúnem ao redor do irmão. Um ano antes quando me sentava nesse mesmo lugar ao tentar escrever tudo que conseguia enxergar era escuridão.

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