Capítulo 56

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                                 Capítulo 56

                                      Gretta

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      Já se tem diversos estudos por todo o mundo, comprovando que quando estamos com raiva, agimos por puro impulso. Falamos e agimos sem pensar. Não importa se estamos perante a pessoa que mais amamos ou a que mais odiamos... De certa forma não há muito o que fazer em relação à isso e só percebo que segurei nos pulsos de Ane, quando a mesma tenta se soltar do meu aperto. É como se todos os nossos sentidos fossem substituídos por uma visão vermelha e turva. Sentimos necessidade de gritar, apertar e socar. Engulo no seco e liberto seus pulsos pedindo desculpas. Sua expressão de quem está com medo, faz com que eu queira chorar mais ainda. Droga, não era para acontecer isso... Eu deveria ter mantido a calma, não ter agido na emoção.

— Ane, me descul... — tento lhe pedir desculpas mais uma vez, porém a ruiva me interrompe.

— Eu... — Ane respira fundo e percebo que ela parece pensar se continua a falar ou não — Também perdi meu pai — sua revelação soa um tom mais baixo que seu tom de voz natural e seus olhos descem para seus joelhos.

Meu coração que antes já estava apertado, agora parece que encolheu. Fecho os olhos por alguns segundos, me perguntando como que faço para voltar atrás.

— Desculpa — Ane pronuncia uma única palavra e me faz abrir os olhos novamente surpresa — Desculpa, é que depois que meu pai morreu eu tenho a impressão que de alguma forma, nada da certo e o fato de eu ter certeza que ele está lá em cima me observando, sempre fazendo tudo errado, me faz ficar com raiva e você é tão... Perfeita, que me faz ter ciúmes, porque se ele estivesse aqui, me falaria para ser como você — suas palavras fazem mais lágrimas escorrem por suas bochechas e pelas minhas também.

A observando, começo a negar de leve com a cabeça.

— Duvido muito disso, até porque a filha dele é uma garota incrível e talentosa que sabe correr atrás do que ela quer — sorriu, mas logo faço uma breve careta — Diferente de mim, que só sei arrumar confusão onde vou, como você disse antes mesmo? Meto o nariz onde não sou chamada? — consigo rir no fim da frase e Ane projeta um breve sorriso no seu rosto desviando olhar do meu — Sobre o Gregory... — respiro fundo pois não queria entrar nessa discussão, mas sei que preciso pra esclarecer tudo entre nós duas.

— Ele gosta de você, eu sei — Ane faz uma breve careta e logo a desfaz, o que me faz rir.

— Você acha isso? — acabo a perguntando antes que eu me desse conta e no mesmo instante os olhos de Ane se voltam para os meus novamente.

— Não sei se quero ter essa conversa — Ane me responde como se estivéssemos falando sobre DTS e me faz rir novamente.

— Certo, mas eu quero... — solto o ar que estava prendendo desde que iniciamos essa conversa — Ane, não estava, hum, nos planos? — céus, como explico à ela algo que eu sequer sei direito? — Gostar do Gregory, acredite você ou não, foi algo tão de repente que me deixou em êxtase de tantas maneiras... — desvio o olhar de Ane encarando o chão e me pego sorrindo ao lembrar de tudo que eu e Gregory já vivemos só hoje pela manhã.

— Mas você sempre deixou claro que o odiava, ele e todo o restante dos Uepplen's Hares inclusive — Ane recebe minha atenção novamente e me faz respirar fundo.

Eu sabia que essa conversa algum dia chegaria. Alguém tocaria no assunto. Eu mesma já me questionei sobre isso. Como que toda aquela raiva que sentia de Gregory, se transformou nessa mistura louca de sentimentos? Nesse vício estranho do cheiro, do toque, dos olhares dele? Por mais que eu tente de todas as maneiras não pensar nessa palavra... Acho que a única que descreve tudo é; paixão. Sim, paixão louca e vivida por toda célula que corre em Gregory. Grr pareço uma lunática, gamada por ele, mas é a mais pura verdade.
— Porque todas nossas diferenças, nossas implicâncias, acabaram deixando tanto eu quanto ele loucos e viciados um no outro — confessar isso faz meu coração voltar a bater mais rápido.

Detalhe esse que tenho que começar a me acostumar já que... Somos amigos de volta. Bons amigos. Busco pela expressão no rosto de Ane desaprovação, intolerância ou qualquer coisa do tipo, afinal; Ela tem razão. A alguns dias atrás, eu gritava aos quatro ventos que não me apaixonaria por nenhum jogador. Bom, ao que parece os ventos carregaram minha promessa para longe. Antes que a garota sentada à minha frente pudesse dizer algo a respeito da tola apaixonada aqui, o auto-falante chama nossa equipe. Olho em direção à porta atrás da gente e logo em seguida para Ane novamente, a ruiva entende meu recado e concorda com a cabeça.

Não somos tão diferentes uma da outra. Um sorriso toma conta do meu rosto e me levanto, a oferecendo uma mão, Ane olha para meus dedos, logo em seguida para meus olhos e aceita minha ajuda para se levantar. Em pé vamos até os espelhos presos em frente as pias do local que estamos e Ane ri ao tirar o borrado dos seus olhos. Eu em contrapartida desisto de tentar arrumar o que minhas lágrimas estragaram e jogo água fria no rosto, tirando de vez toda a maquiagem que apliquei no carro de Gregory na viajem até aqui. O que entre nós... Não foi lá grande coisa. No processo, Ane pergunta se irei mesmo tomar a frente, caso a treinadora vire um monstro de sete cabeças. A asseguro que tudo que a treinadora quiser gritar, punir e xingar, será direcionado apenas e somente à mim. Não irei deixar nenhuma das garotas pagarem por algo que me veio na telha. Por algo que muito provavelmente vai elevar um nível a ferra interior de Fiona Daytes, também conhecida como; treinadora. Quando estávamos quase ultrapassando a porta de saída do vestuário, Ane para de andar, o que me faz parar também e olhá-la com uma expressão de dúvida.

— Eu... Meio que, não trouxe o uniforme — Ane bufa e faz um sinal com a cabeça para o meu uniforme vermelho.

Meus olho descem pelas peças de roupa que estou vestindo, logo em seguida passam para as peças que Ane está usando e respiro fundo. Forço um sorriso sem mostrar os dentes para não parecer nervosa, porquê sei que tudo vai ocorrer bem, sem pânico, é o nosso grande momento.

Talvez NamoradosWhere stories live. Discover now